Operação Húbris ou a farsa do aparecimento das armas. Tudo o que se sabe
Esta terça-feira, a Polícia Judiciária deteve oito pessoas suspeitas de estarem relacionadas com o aparecimento do material de guerra roubado do paiol de Tancos. Entre os detidos está o diretor-geral da Polícia Judiciária Militar e um comandante da GNR.
© Global Imagens
País Tancos
Foi já perto da hora de almoço que, esta terça-feira, a informação começou a circular. O diretor-geral da Polícia Judiciária Militar tinha acabado de ser detido, assim como o Comandante da GNR de Loulé. As detenções tinham a ver com o desaparecimento de material de guerra em Tancos. Ou melhor, com o aparecimento, pois a Operação Húbris, como foi designada a investigação, pretende averiguar, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), não o assalto ao paiol, mas antes as circunstâncias em que ocorreu o aparecimento do material de guerra furtado, em outubro de 2017, na Chamusca.
Sabe-se agora, que além destes dois suspeitos foram detidas mais seis pessoas, perfazendo um total de oito arguidos: quatro militares da Polícia Judiciária Militar, entre os quais se encontra o diretor desta polícia, o coronel Luís Vieira, três militares da GNR e um outro suspeito.
Os três militares da GNR passaram a noite nas instalações da Guarda em Lisboa devendo, na tarde desta quarta-feira, ser presentes ao juiz de instrução criminal para aplicação das medidas de coação, assim como os restantes arguidos.
Segundo o Ministério Público (MP), estes oito elementos estão a ser acusados de "factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".
O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.Em 18 de outubro, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado da base de Tancos no final de junho, à exceção de munições de nove milímetros.
Contudo, entre o material encontrado, num campo aberto na Chamusca, num local a 21 quilómetros da base de Tancos, havia uma caixa com 100 explosivos pequenos, de 200 gramas, que não constava da relação inicial do material que tinha sido furtado, o que foi desvalorizado pelo Exército e atribuído a falhas no inventário.
Depois de mais de um ano de investigação, as autoridades judiciárias deram, esta terça-feira, um passo gigantesco para conseguir resolver o assalto de Tancos, assim como o misterioso aparecimento do material de guerra, a poucos quilómetros do paiol.
As reações políticas
A operação do Ministério Público e da PJ ao roubo de Tancos surge 15 meses depois de o assalto ter sido revelado. O roubo nunca deixou de estar sob os holofotes mediáticos e de pontuar a agenda política. Aliás, o Presidente da República fez questão disso mesmo, relembrando por diversas vezes que a investigação tinha de chegar a uma conclusão.
Apesar disso, Marcelo Rebelo de Sousa, que participa na 73.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, recusou-se a falar do tema “no estrangeiro”, emitindo apenas uma nota, divulgada no portal da Presidência da República, a propósito das detenções relacionadas com o caso.
"O Presidente da República relembra que insistiu desde o primeiro dia no esclarecimento integral do caso de Tancos e na importância da investigação criminal; ainda recentemente, a 10 de setembro, reiterou que esperava desenvolvimentos nessa investigação", lê-se no site.
Além do chefe de Estado, também outros políticos já reagiram.
Já o CDS-PP avançou com uma proposta de comissão de inquérito ao caso do roubo de material militar de Tancos. Os centristas querem apurar "responsabilidades políticas" no caso.
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