"Nós, vítimas neste processo, sempre respeitámos e acatámos as decisões judiciais. É claro que respeitamos esta, mas não a compartilhamos", afirmou o senador da Coligação Pacto Histórico -- Polo Democrático, de esquerda, no poder, em declarações no Congresso, antes de garantir que tomará "medidas (...), mas com toda a calma e serenidade respeita esta decisão".
Além disso, Cepeda declarou ter "plena certeza de que o ex-presidente Álvaro Uribe, condenado, vem realizando inúmeras ações de pressão sobre a justiça e campanhas" contra a esquerda colombiana e que a prisão domiciliária tinha sido precisamente a medida "para proteger desse tipo de ações".
O senador sublinhou que a decisão do tribunal, que revogou a privação de liberdade imposta ao ex-mandatário "até" que o mesmo tribunal se pronuncie sobre o recurso interposto contra a sentença de primeira instância, "não significa a inocência do ex-presidente Uribe, nem que as acusações tenham desaparecido".
"O processo continua e os direitos das vítimas e a independência da justiça devem ser garantidos", afirmou.
O Tribunal Superior de Bogotá ordenou esta terça-feira a libertação do ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe, que tinha sido condenado em primeira instância no início do mês a 12 anos de prisão domiciliária por suborno de testemunhas e fraude processual.
A decisão foi anunciada pela Câmara Penal do Tribunal Superior do Distrito Judicial de Bogotá, num documento de 38 páginas, no qual foi dada ordem à juíza Sandra Heredia que revogasse a privação de liberdade imposta ao ex-mandatário até que o tribunal decida sobre o recurso interposto contra a decisão da primeira instância.
O tribunal decidiu "proteger o direito fundamental à liberdade individual" de Uribe, ao mesmo tempo que questionou as alegações pelas quais a magistrada solicitou a detenção imediata ao condená-lo a doze anos de prisão.
O tribunal superior classificou os critérios de Herédia como "vagos, indeterminados e imprecisos, tal como a perceção dos cidadãos, o efeito exemplar, a convivência pacífica e a ordem social, os quais são inadequados porque a natureza das condutas imputadas, ao que parece, afetou indivíduos específicos, e não o conjunto social de forma abstrata".
Além da prisão domiciliar, agora suspensa, na casa de campo na localidade de Rionegro, perto de Medellín (noroeste), o ex-presidente foi condenado a uma inabilitação por mais oito anos e ao pagamento de uma multa de mais de 3,444 milhões de pesos, equivalente a 2.420 salários mínimos (cerca de 720.700 euros).
A juíza considerou que o ex-chefe de Estado, de 73 anos, que negou em todos os momentos os fatos, alegando ser vítima de perseguição política, instigou através de pessoas da sua confiança a manipulação de testemunhas em várias prisões do país, com o objetivo de retirar benefícios da revisão de depoimentos.
De acordo com a investigação, um advogado de Uribe, Diego Cadena, teria tentado oferecer benefícios a vários ex-paramilitares para que mudarem a versão sobre supostas ligações do ex-presidente e do seu irmão, Santiago Uribe, com o paramilitarismo.
O caso começou em 2012, quando Uribe denunciou Iván Cepeda, alegando que este tinha percorrido as prisões do país para apresentar falsos testemunhos contra ele sobre o surgimento do paramilitarismo na região de Antioquia.
Após a recolha de provas, no entanto, várias versões indicaram que foram os advogados do ex-presidente que procuravam manipular testemunhas para que incriminassem Cepeda, pelo que este passou de acusado a vítima, ao contrário de Uribe, que de queixoso passou a ser investigado.
Entretanto, Uribe, presidente entre 2002 e 2010, já reagiu à decisão do Tribunal Superior, manifestando a intenção de se dedicar a trabalhar pela "liberdade da Colômbia".
"Dedicarei cada minuto da minha liberdade à liberdade da Colômbia", afirmou na sua conta na rede social X.
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