Volodymyr Zelensky reuniu-se, este fim de semana, com responsáveis do Gabinete Nacional Anticorrupção (NABU) e da Procuradoria Especializada Anticorrupção (SAP), na sequência da operação que levou ao desmantelamento de um esquema de corrupção envolvendo a compra sobrevalorizada de equipamento militar, como drones e sistemas de defesa aérea, com verbas públicas.
Entre os suspeitos deste esquema encontram-se um deputado do partido presidencial Servo do Povo, responsáveis regionais e elementos da Guarda Nacional Ucraniana, indicou o NABU.
"É importante que as instituições anticorrupção operem de forma independente e a lei aprovada na quinta-feira garante-lhes todas as ferramentas necessárias para combater verdadeiramente a corrupção", afirmou Zelensky, no final do encontro.
A nova legislação - ratificada na quinta-feira - anula uma reforma anterior promovida pelo próprio chefe de Estado, que, a 22 de julho, sancionara uma lei que subordinava o NABU e a SAP ao procurador-geral -- cargo nomeado diretamente pelo Presidente --, o que, na prática, lhe limitava a independência daquele organismo.
A reversão da reforma surgiu depois de vários dias de protestos em Kiev, pressões de organizações da sociedade civil e críticas por parte de parceiros europeus da Ucrânia, que alertaram para os riscos de comprometer os critérios de adesão à União Europeia.
O caso provocou reações críticas dentro do país, com a responsável da ONG anticorrupção Mezha, Martina Boguslavets, a acusar Zelensky de cinismo, alegando que a operação agora elogiada foi possível graças à independência das agências que o Presidente tentou eliminar.
"É o cúmulo do cinismo escrever agora que isto aconteceu graças à independência das agências anticorrupção que vocês tentaram destruir", escreveu Boguslavets, citada pelo portal Censor.net, uma organização com ligações à oposição a Zelensky.
A mesma ativista criticou ainda a forma como Zelensky relatou o encontro com os líderes do NABU e da SAP, quando referiu que "reportaram as atividades", uma expressão habitual em contexto militar ou de serviços de informações.
A reforma, entretanto revogada, foi interpretada por meios de comunicação ucranianos, incluindo o Ukrainska Pravda e o Kiev Independentm como uma tentativa do Presidente de controlar investigações sensíveis.
Em causa estão inquéritos do NABU a envolver figuras próximas de Zelensky, como o ex-ministro Oleksi Chernyshov, o antigo assessor presidencial Rostislav Shurma e o coproprietário da produtora Kvartal 95, fundada pelo próprio Presidente.
Na oposição, o deputado Oleksi Goncharenko, do partido Solidariedade Europeia, denunciou que os casos recentes de corrupção, envolvendo membros do partido presidencial visam "desviar atenções de investigações sobre figuras ainda mais próximas do Presidente Zelensky".
Leia Também: Submarinos nucleares (ainda) agitam águas entre Trump e Medvedev: Porquê?