O antecedente essencial que molda estas eleições remonta às legislativas de 15 de outubro de 2023, consideradas por analistas como as mais importantes desde a queda do comunismo, e que resultaram na indicação do liberal europeísta Donald Tusk para liderar um executivo de coligação com a esquerda parlamentar e democratas-cristãos.
Embora derrotado nas urnas, o antigo presidente do Conselho Europeu conseguiu formar maioria parlamentar, numa espécie de "geringonça polaca" pós-eleitoral, que superou desde então umas eleições locais e outras europeias, sendo a votação de domingo vista como o derradeiro e decisivo "tira-teimas".
Em causa está a possibilidade de a Plataforma Cívica (PO), de Tusk, conquistar a presidência e ultrapassar o poder de veto amplamente utilizado pelo atual chefe de Estado, Andrzej Duda, que atingiu o limite de mandatos e era apoiado pelos conservadores populistas da Lei e Justiça (PiS), anteriormente no Governo durante oito anos seguidos sob acusação de deriva autoritária.
No último ano e meio, Duda vetou várias leis e remeteu dezenas de outras para o Tribunal Constitucional. Além disso, bloqueou numerosas nomeações administrativas, o que torna a presidência no último bastião a conquistar pelos liberais e finalmente imporem a inversão da controversa reforma judicial do PiS, que mereceu fortes penalizações de Bruxelas por tentativa de limitação da independência dos magistrados.
Segundo um agregado de sondagens produzido pela publicação Politico, o candidato da PO e atual presidente da Câmara de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, liderava as intenções de voto na terça-feira com 31%, à frente dos 25% do candidato apoiado pelo PiS, o historiador e independente Karol Nawrocki, o que sinaliza uma provável segunda volta a realizar no dia 01 de julho.
Refletindo a polarização observada nos últimos escrutínios, os candidatos das duas principais forças políticas polacas surgem destacados nas pesquisas e a larga distância dos 11 restantes.
Slawomir Mentzen, da Confederação (extrema-direita), alcançava 13% nas pesquisas, Szymon Holownia, da Polónia 2050 (democratas-cristãos) e atual presidente do parlamento, tinha 07%, e Magdalena Biejat, da Nova Esquerda e vice-presidente do Senado, conseguia 05%, sendo que estes dois últimos são apoiados por partidos da coligação governamental.
Na perspetiva do PiS, está em jogo a possibilidade de nova viragem da tendência política na Polónia, em que uma vitória no domingo dos nacionalistas conservadores abriria o caminho para aspirarem voltar ao governo e, antes disso, usarem o poder presidencial para bloquear a agenda do atual executivo.
A alternativa, para muitos analistas, pode significar o fim do PiS tal como hoje existe.
Nesta luta existencial, os radicais da Confederação espreitam a oportunidade de serem a surpresa eleitoral no domingo, ou pelo menos decisivos numa segunda volta, ou ainda tornarem-se nos grandes herdeiros do espaço político da direita nacionalista e populista.
À semelhança de outros movimentos congéneres europeus, a mensagem chega a cerca de 1,5 milhões de seguidores na rede Tik Tok, mais a oratória antissistema, ao mesmo tempo que defende a liberalização do uso de armas, castigos corporais ligeiros para crianças e uma campanha abertamente antiucraniana.
O apoio à vizinha Ucrânia para enfrentar a invasão russa tem sido um dos poucos temas de acordo entre os dois partidos que dividiram o poder nas últimas duas décadas, mas em quase tudo o resto estão afastados, numa colisão ideológica frontal.
O candidato do PiS tem tentado colar o adversário da PO às políticas do Governo de Donald Tusk, que assumiu protagonismo na Europa com a aproximação a Bruxelas e manteve o rumo de colocar a Polónia no topo dos países da NATO que mais investem em defesa face à riqueza.
No entanto, o executivo liderado pela PO - e por arrasto o candidato Rafal Trzaskowski - são criticados pelos adversários de descurarem os assuntos internos e de manterem obediência cega a Bruxelas e a Berlim, a começar pelo tema da imigração.
Em abril passado, quase metade dos polacos afirmava que o país estava a caminhar no caminho errado, segundo dados do Centro de Pesquisa de Opinião Pública (CBOS), sediado em Varsóvia, quase o mesmo valor dos 51% registados quando Tusk declarou vitória eleitoral, em outubro de 2023.
As urnas abrem no domingo às 07h00 (06h00 em Lisboa) e encerram às 21h00 (20h00) e só haverá vencedor à primeira volta se um dos candidatos ultrapassar os 50% dos votos.
A votação decorre também em duas mesas de voto em Lisboa, uma no Porto e outra no Funchal, pela primeira vez devido ao número elevado de turistas polacos na Madeira, de acordo com dados transmitidos à Lusa pela Embaixada da Polónia em Portugal.
Até perto do final do registo, na terça-feira, estavam contados cerca de dois mil eleitores em Lisboa, 894 no Porto e 731 no Funchal.
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