Abiy Ahmed toma posse para segundo mandato durante conflito interno
O primeiro-ministro etíope foi hoje empossado para um segundo mandato de cinco anos, continuando à frente de um país que se depara contra um conflito armado interno com quase um ano e que considerou "odioso" para o Estado.
© Reuters
Mundo Etiópia
"Fez-nos pagar um preço pesado", afirmou Abiy Ahmed, sobre o conflito em Tigray, perante uma multidão na capital, Adis Abeba. Ahmed referiu-se também à pressão internacional, apontando que houve "aqueles que mostraram a sua verdadeira amizade, e aqueles que traíram" o país no Corno de África, noticia a agência Associated Press (AP).
O Partido da Prosperidade, de Abiy Ahmed, foi declarado vencedor das eleições legislativas realizadas no início do ano, num escrutínio criticado e que chegou a ser boicotado por partidos da oposição. Apesar disso, o ato foi descrito por alguns observadores internacionais como mais bem gerido que os anteriores.
O primeiro-ministro, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019 pela restauração dos laços com a vizinha Eritreia e pela realização de reformas políticas radicais, enfrenta agora grandes desafios, depois de o conflito que se originou em Tigray, em novembro do ano passado, se ter espalhado por outras partes do país.
As autoridades enfrentam violência comunitária mortal contínua e os grupos de observação de direitos humanos alertam que práticas repressivas estão a regressar.
O chefe do Governo etíope anunciou que o país vai iniciar um "diálogo nacional inclusivo que inclui todos os que acreditam numa discussão à mesa", liderado por etíopes.
O conflito que se prolonga há 11 meses tem enfraquecido a economia etíope e ameaça isolar Abiy Ahmed, outrora visto como um pacificador regional.
A cerimónia de tomada de posse na capital etíope contou com a presença de vários chefes de Estado africanos (Nigéria, Senegal, Uganda, Somália, Djibuti, Quénia e Sudão do Sul).
O Governo da Etiópia foi criticado na semana passada por Nações Unidas, Estados Unidos da América e vários países europeus depois de ter expulsado sete funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), que acusou de apoiar as forças de Tigray.
O primeiro-ministro etíope lançou uma intervenção militar em 04 de novembro para derrubar a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), o partido eleito e no poder no estado.
O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que controlou a Etiópia durante quase 30 anos.
Em 28 de junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray.
No entanto, os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.
As organizações de ajuda humanitária queixam-se que, apesar do cessar-fogo, o acesso continua limitado, sendo constrangido pela insegurança e por bloqueios administrativos.
Em 01 de junho, o Programa Alimentar Mundial advertiu que um total de 5,2 milhões de pessoas, mais de 90% da população de Tigray, necessita de assistência alimentar de forma urgente devido ao conflito.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 100.000 crianças poderão sofrer de desnutrição aguda potencialmente mortal durante os próximos 12 meses -- 10 vezes a média anual.
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