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Extrema-direita quer trégua até às eleições com campanha sem estratégia

A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita em conflito interno há vários anos, concordou em discordar até às próximas eleições de setembro, radicalizando o tom da campanha num "cessar-fogo" temporário.

Extrema-direita quer trégua até às eleições com campanha sem estratégia
Notícias ao Minuto

09:03 - 19/04/21 por Lusa

Mundo Alemanha

As divergências continuam lá, mas o partido de extrema-direita, com presença em todos os parlamentos alemães, regionais e federal, optou por radicalizar o discurso, dando voz à ala defendida por Björn Höcke. Contra a presença da Alemanha da União Europeia, contra o uso de máscaras de proteção, contra a imigração, a AfD vai permanecer unida, mas só até 26 de setembro.

"Internamente devem ter, provavelmente, concordado com uma espécie de cessar-fogo até setembro. Ou seja, até às eleições vão evitar apunhalar-se uns aos outros pelas costas, mas é muito expectável que no fim do ano, quando terminar o período eleitoral, a ala mais à direita se tente ver livre de Jörg Meuthen como líder", sustentou à agência Lusa o politólogo Floris Biskamp.

Para o cientista político, que estuda a extrema-direita populista, "não há uma estratégia coerente, porque não há um 'cérebro' no partido que possa definir um rumo".

"Há, em vez disso, várias fações que, como se viu no congresso, competem entre elas (...) Houve algumas pequenas batalhas ganhas pela ala mais extremista, por exemplo, no que toca à exigência da saída da Alemanha da União Europeia ou nas medidas relacionadas com a covid-19", adiantou.

"Björn Höcke esteve bastante calado durante os congressos da AfD dos últimos anos. Desta vez, levantou-se e falou pelo menos umas cinco vezes. Cada vez que o fez, acabou por ganhar os votos dos presentes. Há, portanto, esta viragem à direita, mas não faz parte de uma estratégia meditada, é apenas resultado de um confronto interno do partido", declarou o politólogo alemão.

A "Alternativ für Deutschland" juntou-se em congresso presencial em Dresden nos dias 09 e 10 de abril para decidir o programa eleitoral do partido, ainda sem candidato escolhido, mas com uma radicalização do discurso.

"Esta é uma continuação das lutas internas que o partido tem vivido nos últimos anos. Temos, de um lado, os que querem passar uma imagem menos extremista para que, eventualmente, o partido possa vir a fazer parte de uma coligação em algum momento. Esta é fação do co-líder do partido Jörg Meuthen. Do outro lado temos a fação mais radical e extremista Björn Höcke. Os dois estão em confronto há anos. No ano passado parecia que, surpreendentemente, Meuthen estava a ganhar terreno. Mas, no congresso, aconteceu o oposto", revelou Floris Biskamp.

Nas eleições gerais de 2017, a AfD conseguiu 12,6% dos votos. De acordo com as últimas sondagens, o partido não deverá ir além dos 11%.

"A AfD reúne 10% dos votos do eleitorado alemão e isso parece não vir a mudar, ou seja, votam no partido quase independentemente do que eles venham a fazer ou não", apontou o politólogo, acrescentando que os resultados pouco devem alterar-se com a escolha de Armin Laschet como candidato da União Democrata-Cristã (CDU).

"Não me parece que dependa muito do quão moderada ou radical a CDU é. Se depender de algo é do quão forte ou fraca está a CDU. O grande problema da CDU agora é que não tem rosto, e as questões ligadas à corrupção das últimas semanas também não ajudam. Isso pode fazer com que algum do seu eleitorado não vá votar em setembro, o que acaba por poder beneficiar de alguma forma a AfD", explicou.

Ainda assim, Biskamp não acredita que a AfD altere muito o seu resultado.

"Tiveram alguns problemas durante a pandemia de covid-19 para perceber como mobilizar o eleitorado, e definir linhas claras, mas isso também aconteceu com outros partidos. Penso que a AfD está 'congelada' nos 10%", destacou, mencionando ainda assim a volatilidade da situação atual.

"A AfD tem um problema para conseguir tomar uma posição firme durante a pandemia. Porque a maioria do seu eleitorado tem mais idade que a média da população, isto é, são pessoas vulneráveis à covid-19. Dizer que não querem um confinamento, ou medidas de combate à doença, vai fazê-los ganhar alguns votos, mas também perder outros tantos. Não é fácil encontrar aqui uma posição ideologicamente coerente e, ao mesmo tempo, estrategicamente forte", assinalou.

A AfD começou por ser um partido eurocético, ganhando relevo durante a crise migratória de 2015. Nas últimas eleições federais, em 2017, atingiram o seu melhor resultado e entraram no parlamento como maior partido da oposição.

A Alemanha vai a eleições a 26 de setembro para escolher um novo chanceler, depois de 16 anos de Angela Merkel no poder.

 

JYD // EL

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