Petrolífera francesa vai continuar em Myanmar para garantir eletricidade
A companhia petrolífera francesa Total anunciou que vai continuar em Myanmar, para não privar a população de eletricidade e garantir a segurança dos seus empregados, apesar das críticas de que foi alvo por pagar impostos à junta militar.
© Reuters
Mundo Total
"Pode uma empresa como a Total decidir cortar o fornecimento de eletricidade a milhões de pessoas - e ao fazê-lo, o funcionamento de hospitais, empresas, em suma, a vida quotidiana - com as consequências que isso implica?", questionou o diretor executivo (CEO) da multinacional, Patrick Pouyanné, numa coluna publicada no semanário francês Journal du Dimanche.
"Decidimos parar os nossos projetos e perfuração [em Myanmar], mas continuamos a produzir gás, não para manter os nossos lucros ou continuar a pagar impostos à junta militar, mas para garantir a segurança do nosso pessoal, empregados e funcionários, evitando-lhes a prisão ou trabalhos forçados, e sobretudo para evitar tornar as condições de vida destas populações ainda piores, cortando a eletricidade a milhões de pessoas", acrescentou.
O diretor executivo da empresa, alvo de críticas por pagar impostos à junta militar que depôs o Governo civil em 01 de fevereiro, comprometeu-se no entanto a financiar organizações não-governamentais (ONG) até ao montante que pagará ao Estado.
"Como não posso tomar a decisão de parar a produção (...), tomo hoje a decisão de pagar o equivalente dos impostos que teremos de pagar ao governo birmanês às associações que trabalham em prol dos direitos humanos" no país, escreveu.
Patrick Pouyanné alegou ainda que, se a empresa decidisse deixar de pagar impostos ao governo birmanês, estaria a expor os gestores da subsidiária "ao risco de serem presos e encarcerados".
Contudo, salientou que a Total "não pagou quaisquer impostos à junta militar desde que a crise começou em fevereiro, simplesmente porque o sistema bancário já não funciona".
A tomar a decisão de sair do país, o grupo também acredita que colocaria os seus "empregados birmaneses (...) numa situação dramática", porque "a junta não hesitará em recorrer ao trabalho forçado".
Várias ONG instaram a multinacional francesa, presente em Myanmar desde 1992, a "deixar de financiar a junta", segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
O grupo pagou cerca de 230 milhões de dólares (195 milhões de euros) às autoridades birmanesas em 2019, e 176 milhões de dólares (149 milhões de euros) em 2020, em impostos e "direitos de produção", de acordo com documentos financeiros publicados pela multinacional.
O exército birmanês controla a empresa nacional Myanmar Oil and Gas Enterprise (MOGE), que tem parcerias com a Total.
Um projeto da Total para uma zona de exploração nas profundezas do mar, a oeste de Myanmar, será interrompido, tal como "a campanha de perfuração de gás em curso", com a plataforma de perfuração "desmobilizada a partir de maio", afirmou o responsável.
A multinacional francesa continuará no entanto a produção de gás 'offshore' a partir do campo de Yadana, que "fornece metade da eletricidade para os quase cinco milhões de habitantes da cidade de Rangum", antiga capital de Myanmar, e "a parte ocidental da Tailândia, para a qual a maior parte do gás é exportado", acrescentou Patrick Pouyanné.
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou "veementemente" o uso da violência contra manifestantes em Myanmar e a morte de centenas de civis, mas descartou a ameaça de possíveis ações futuras, como sanções económicas.
A versão final desta declaração foi suavizada por pressão da China, segundo a agência Associated Press (AP), citando diplomatas presentes na reunião do Conselho de Segurança.
O golpe militar, no dia 01 de fevereiro, atingiu a frágil democracia de Myanmar, depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020.
Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes.
Desde então, milhares de pessoas têm-se manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay.
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