Foi o cumprir de uma promessa eleitoral e a concretização de uma lei do Congresso, cuja aplicação todos os presidentes norte-americanos tinham adiado desde a sua aprovação em 1995.

A decisão de Donald Trump veio romper com décadas de consenso internacional.

A comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital de Israel, nem a anexação da parte oriental da cidade, conquistada em 1967 e anexada em 1980, que os palestinianos reivindicam como capital de um eventual futuro Estado.

Quase todos os países com representação diplomática em Israel têm as embaixadas em Telavive, em conformidade com o princípio, consagrado em resoluções das Nações Unidas, de que o estatuto de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelitas e palestinianos.

As críticas foram praticamente generalizadas, das Nações Unidas à União Europeia, da Liga Árabe ao Movimento dos Países Não-Alinhados.

O papa Francisco pediu respeito pelo estatuto de Jerusalém e "sabedoria e prudência". Patriarcas e líderes das igrejas cristãs de Jerusalém pediram a Trump que reconsiderasse a decisão.

O movimento radical palestiniano Hamas, que controla a Faixa de Gaza, apelou a uma nova Intifada (revolta), já depois de ter declarado três "dias de ira".

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, retirou aos Estados Unidos o estatuto de mediador para o conflito com Israel, considerando a sua atitude parcial em relação ao Estado hebreu.

Nos dias seguintes houve manifestações de protesto nos territórios palestinianos e em Israel, assim como em alguns países árabes, como o Líbano e a Jordânia, ou muçulmanos (Indonésia e Malásia).

Centenas de fiéis muçulmanos protestaram fazendo as orações de sexta-feira em frente da Casa Branca, em Washington, no dia a seguir ao do anúncio.

Cerca de duas semanas mais tarde, 128 países membros da Assembleia-geral da ONU declararam "nulo e sem efeito" o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel por parte dos Estados Unidos. Nove países votaram contra a resolução, não vinculativa, e 35 optaram pela abstenção.

A nova embaixada norte-americana em Israel foi inaugurada em Jerusalém em maio para coincidir com a comemoração dos 70 anos do nascimento do Estado de Israel, proclamado em 14 de maio de 1948. Donald Trump não esteve presente, mas enviou uma mensagem vídeo e voltou a declarar-se empenhado na paz entre israelitas e palestinianos.

A data da inauguração é, para os palestinianos, véspera da 'nakba' (catástrofe), como designam os acontecimentos que se seguiram à criação de Israel, quando mais de 700.000 foram expulsos ou fugiram das suas casas.

Antes, os Estados Unidos já tinham cortado significativamente a verba que atribuíam à agência da ONU que dá apoio aos refugiados palestinianos e obrigado ao encerramento da representação palestiniana em Washington. Também diminuíram o estatuto da representação norte-americana em Jerusalém para as relações com a Autoridade Palestiniana, integrando-a na embaixada em Israel.

Há cerca de uma semana, o embaixador israelita na ONU, Danny Danon, disse que a administração de Donald Trump indicou a Israel que apresentará o seu plano de paz" para o conflito israelo-palestiniano, designado pelo Presidente norte-americano como o "plano do século" ou o "acordo final", no início do próximo ano.

Para o jornalista e historiador Simon Sebag Montefiore, autor de "Jerusalém - A biografia", Jerusalém "capital de dois povos, templo de três religiões, a única cidade com uma dupla existência, pois existe no céu e na terra (...) continua a ser, a um tempo, a essência de um acordo de paz e um grande obstáculo à obtenção do mesmo".