Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
14º
MIN 12º MÁX 17º

Bolsonaro e Haddad definem estratégia para semanas de alta tensão

Enquanto aguarda pelo anúncio de apoios de outros candidatos, Fernando Haddad foi à prisão visitar Lula da Silva e saiu de Curitiba a afirmar que o "debate económico" na campanha será decisivo. Jair Bolsonaro mantém a estratégia e continua a atacar o PT e a insistir na tecla da segurança e do combate à corrupção.

Bolsonaro e Haddad definem estratégia para semanas de alta tensão
Notícias ao Minuto

19:08 - 08/10/18 por Pedro Bastos Reis

Mundo Brasil

Enquanto assistia à divulgação dos resultados das eleições gerais, Fernando Haddad terá pensado que a sua aventura política tinha chegado ao fim e que Jair Bolsonaro sairia vencedor logo na primeira volta. Por pouco, mas não aconteceu e, no próximo 28 de outubro, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) ainda terá uma palavra a dizer na (cada vez mais) difícil tarefa de impedir que o candidato de extrema-direita chegue ao Palácio do Planalto.

Impedido de concorrer às eleições devido à Lei da Ficha Limpa, Lula da Silva, preso em Curitiba desde abril pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, escolheu o seu ex-ministro da educação Fernando Haddad para concorrer às presidenciais. O quase desconhecido, para parte do Brasil, foi subindo nas sondagens e conseguiu o voto de 29% dos brasileiros nestas eleições, muito longe ainda dos 46% de Bolsonaro.

Após saber que tinha passado para o segundo turno, Haddad garantiu que o seu objetivo é “unir o Brasil”, mantendo “pontes de diálogo aberto, em torno de um projeto de país”. A corrida contra o tempo já começou, e o primeiro ato do candidato do PT, após a noite eleitoral de domingo, foi ir a Curitiba, falar com Lula da Silva, para delimitar a estratégia para as próximas três semanas.

Logo após a visita, Haddad, em conferência de imprensa, disse o que se segue: “Vou conversar com as forças democráticas do país, com alguns candidatos, queremos que as forças democráticas estejam unidas em torno de um projeto de desenvolvimento com inclusão social”, disse Haddad, garantindo que pretende conversar com todos os candidatos derrotados. Ciro Gomes deverá manifestar, muito em breve, o apoio oficial ao candidato do PT, ao passo que Marina Silva e Geraldo Alckmin mantêm o suspense durante mais alguns dias.

A candidata do Centro garantiu que “estaremos na oposição. O Brasil vai precisar de uma oposição democrática. Podemos assegurar: estaremos na oposição porque é a única forma de quebrar o ciclo vicioso”, enquanto Alckmin (centro-direita) deverá manifestar-se na terça-feira.

Projeto neoliberal vs bem estar social 

Em editorial, a Globo resume o que foram estas semanas de campanha eleitoral. “A oposição ao PT é um dos vértices do espaço de radicalização que se abriu nestas eleições, entre Direita e Esquerda”, escreve o jornal brasileiro.

Amado por uns, odiado por outros, não existe meio termo para o PT. O partido tentou levar a candidatura de Lula da Silva até ao fim e, enquanto apareceu nas sondagens, o ex-presidente liderou sempre as intenções de voto, apesar da grande rejeição que, mesmo assim, tinha. Falando de rejeição, Bolsonaro continua a não gerar simpatia em grande parte do eleitorado brasileiro, mas o facto de se ter tornado o rosto anti-PT permitiu-lhe, sem Lula na corrida, subir exponencialmente, ao ponto de quase conquistar a vitória no primeiro turno.

Para além da onda anti-PT, continua a Folha, há também a onda “bolsonarista”. “Ela é alimentada pela própria guinada ao conservadorismo na sociedade refletida no discurso do candidato e pelo clamor da população por segurança”.

No entanto, apesar do crescimento deste conservadorismo, Bolsonaro terá de conseguir conquistar algum do eleitorado que se tem mantido com Lula da Silva. Talvez por isso não seja de estranhar que o candidato da extrema-direita, que ao longo dos anos tem mantido um discurso racista, homofóbico, misógino e com simpatia pela ditadura militar, tenha suavizado a sua retórica.

Bolsonaro mantém, contudo, o foco da sua “missão” no combate ao PT: “O Partido dos Trabalhadores financiou ditaduras via BNDES; anulou o legislativo no mensalão; tem tesoureiros, marketeiros e ex-presidente na cadeia por corrupção; quer acabar com a Lava Jato, além de controlar a mídia e internet. Se alguém ameaça a democracia, esse alguém é o PT!”, escreveu Bolsonaro no Twitter, na noite eleitoral.

Esta segunda-feira, na mesma rede social, insistiu na importância do combate à corrupção - “os males e prejuízos da corrupção atingem a população de todas as formas. É ela que fica sem leito no hospital, sem segurança nas ruas e sem dinheiro no bolso. É isso que queremos impedir. Um governo corrupto estimula o crime em todas as esferas. Vamos governar pelo exemplo!” -, para depois insistir nas propostas que pretende aplicar caso chegue ao Planalto: “reduzir o número de ministérios, extinguir e privatizar estatais, combater fraudes no Bolsa-Família para que quem precise possa ter este amparo humanitário ampliado, descentralização do poder dando mais força econômica aos estados e municípios. A política a serviço do Brasileiro!”

Já Haddad, depois de visitar Lula, começa a definir a estratégia para os próximos dias, ciente de que necessita de fazer acordos ao Centro. Esta segunda-feira, criticou as propostas de liberalização do porte de armas feitas por Bolsonaro, “armar a população é uma escapatória de Estado para não promover a segurança”, e disse que o que vai definir a segunda volta é o “debate económico”: “O projeto neoliberal que o lado de lá representa e o projeto de bem estar social que nós representamos”, elencou.

O grande desafio para o candidato do PT será conciliar a lealdade que tem com Lula da Silva e afastar-se, ao mesmo tempo, do ex-presidente, de forma a manter os votos da Esquerda e conseguir ir buscar votos ao antipetismo. Parte do partido quer que Haddad se mantenha fiel a Lula da Silva, ao passo que outra parte quer uma rutura total. Para onde penderá Haddad? Bolsonaro, por seu lado, continuará a apostar na mesma estratégia que tem seguido. Serão três semanas muito intensas, fundamentais para definir o futuro do Brasil. A segunda volta das presidenciais está marcada para 28 de outubro. 

Recomendados para si

;
Campo obrigatório