"Vamos ter de reinventar o que é um sindicato"
O administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e antigo comissário europeu Carlos Moedas disse hoje que a sociedade terá de reinventar "o que é um sindicato", em função das novas realidades laborais, também potenciadas pela pandemia de covid-19.
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Economia Gulbenkian
"Vamos ter de reinventar o que é um sindicato. Qual é a focalização do sindicato? É proteger a pessoa ou o emprego? Vamos ter de redefinir aquilo que é a própria estrutura das instituições", disse Carlos Moedas na teleconferência 'Social Good Summit', que contou com a presença dos presidentes executivos do Banco Montepio, Pedro Leitão, e da Academia de Código, João Magalhães.
"O que estamos a viver hoje, com a transformação digital, é a crise dessas próprias instituições", acrescentou o antigo comissário europeu para a Investigação, Inovação e Ciência.
Para o agora administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, a mudança no mundo laboral não será ter de "ficar a vida toda no mesmo trabalho, mas como viver com a nova variável que é a mudança contínua".
"A nossa vida foi organizada num mundo físico, com pessoas que tinham uma carreira no mesmo tipo de posto de trabalho, e em que toda a sociedade, inclusive os sindicatos, foram organizados dessa maneira. Hoje, esta nova população de jovens que trabalha nas plataformas da Uber, e outros, vão estar desprotegidos, porque essa proteção social não foi desenhada para eles", sustentou o também antigo secretário de Estado Adjunto de Pedro Passos Coelho (2011-2014).
Carlos Moedas considerou que esse "é um dos grandes problemas da Europa", que tem "uma matriz de dualidade terrível", ou seja, "uma dualidade entre aqueles que têm os contratos fixos e as suas regalias porque entraram no sistema há 20 anos, que estão protegidos, e depois toda uma geração desprotegida que não tem qualquer regalia ou qualquer proteção".
Para o antigo responsável do executivo europeu, esta dualidade materializa-se "numa geração que muda de emprego todos os anos, e outra que ainda vive nesse paradigma passado", tendo a transição entre as duas realidades "ter que ser reinventada".
O presidente executivo do Banco Montepio, Pedro Leitão, referiu que "o que está em causa é o futuro do trabalho", e que a rotina física do trabalho "tem os mesmos efeitos" há décadas.
"A rotina física molda muito aquilo que é a nossa rotina diária. E ao estarmos confrontados com o tema da pandemia [...], há um aspeto que nos põe à prova no que é a desestruturação da nossa rotina, e que está em encontrarmos novas rotinas", referiu.
"É aí que, mais do que apregoar a tecnologia, é como é que a tecnologia chega a nós de forma tangível", considerou Pedro Leitão.
Anteriormente, o líder do banco detido pela Associação Mutualista Montepio já tinha dito que a pandemia foi "um tiro no porta-aviões" da instituição, e um "fenómeno fortíssimo" em termos de organização, mas que "o banco tem sabido sobreviver com agilidade" ao processo.
O gestor considerou que a tecnologia, do ponto de vista externo, pôde disponibilizar a moratória de pagamento de créditos "em quatro passos simples, 100% digital", de forma a "facilitar a vida das pessoas", e internamente apostou na "requalificação" de pessoal, libertando, por exemplo, de atividades repetitivas, e também da "aprendizagem contínua".
Já João Magalhães, presidente da Academia de Código, considerou que para futuro terão de ser realizadas "reformas curriculares" nos programas de ensino, acrescentando que Portugal tem condições para ser "uma referência na educação a nível internacional".
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