'Mulheres e o vento'. Um mês num catamarã por um planeta mais limpo

Kiana, Lærke e Alizé partiram com a missão de sensibilizar o mundo para a problemática da conservação dos oceanos. Agora querem influenciar outras mulheres a partirem também nas próprias aventuras "radicais". O resultado da emocionante viagem (que terminou nos Açores) pode ser visto agora no documentário 'Women and the Wind'.

Women and the Wind

© Instagram / Women and the Wind

Natacha Nunes Costa
07/07/2025 14:15 ‧ há 3 horas por Natacha Nunes Costa

País

Women and the Wind

Em 2022, três mulheres atravessaram o Oceano Atlântico num catamarã de madeira com 50 anos, chamado Mara Noka, com a missão de sensibilizar o mundo para a problemática da poluição relacionada, principalmente, com o plástico.

 

O "barco de alma", como descrevem, levou-as numa viagem transatlântica de 30 dias, de Beaufort, na Carolina do Norte, até à ilha das Flores, nos Açores.

Durante um mês, Kiana Weltzien, Lærke Heilmann e Alizé Jireh, defrontaram-se com diversos desafios, de temporais atmosféricos a tempestades emocionais.

Mas não perderam o rumo. O objetivo era estudar o 'mar de plástico' que existe por toda a Corrente do Golfo, falar sobre a importância da conservação dos oceanos, assim como inspirar outras pessoas, especialmente mulheres, a partirem nas suas próprias jornadas "radicais" pela sustentabilidade. E fizeram-no.

O resultado é o projeto 'Women and the Wind' ('Mulheres e o Vento', em português), dedicado a apoiar projetos radicais de aventura, liderados por mulheres e com foco ambiental. O documentário homónimo, lançado este ano, está a fazer sucesso um pouco por todo o mundo.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, por e-mail, as velejadoras, que hoje vivem no Brasil, ilhas Canárias e EUA, contaram como se conheceram, o que encontraram no mar e como foi atracar em Portugal, após 30 dias de tão emocionante viagem.

Falaram de "coragem", de solidão, de aventura, de medo, de lixo, das reflexões sobre a própria existência e sobre a existência humana. E do projeto 'Women and The Wind', que, só no Instagram, onde continuam a partilhar momentos da viagem, tem 243 mil seguidores.

Já no Youtube é possível ver um teaser do documentário, que já está a ser exibido um pouco por todo o mundo.

Como se conheceram e como tiveram a ideia de ter esta aventura pelo Atlântico? Como é que tudo começou?

Kiana é capitã e vive no mar há muitos anos. Ela conheceu Laerke, uma designer e ambientalista dinamarquesa, quando passou pelas Ilhas Canárias em 2020. Laerke queria velejar, e Kiana, que normalmente navega sozinha, sentia que só faria sentido levar outras pessoas a bordo se houvesse um propósito maior. Por isso, começaram a sonhar com um projeto que unisse aventura e impacto ambiental. Na mesma época, Kiana conheceu Alizé, cineasta francesa, pelo Instagram. Três meses antes da partida, ela a chamou para se juntar à travessia. A ideia surgiu da inquietação de Kiana ao presenciar a poluição plástica no oceano Atlântico em sua primeira travessia em 2019 — ela queria transformar aquilo em uma narrativa que inspirasse ação.

E navegaram num catamarã com 50 anos. Falem-nos um pouco do Mara Noka e do que ele significa para vocês...

O Mara Noka é um catamarã Wharram Narai MK1 de 1971, com design inspirado nas canoas que popularam a Polinésia. Ele não é um barco moderno ou luxuoso — é um barco com alma, feito para atravessar oceanos de forma simples, sustentável e próxima à natureza. Restaurar e navegar nele foi tanto uma decisão prática quanto simbólica. Ele representa tudo o que acreditamos: coragem, simplicidade, autonomia e conexão com o mar.

E como surgiu o documentário 'Women and The Wind'? Como foi realizado? Quando foi lançado?

O documentário nasceu com propósito, e sabiamos que viviriamos situações intensas naquela rota que mesmo partindo sem roteiro, não faltaria material. Alizé filmou tudo sozinha, com uma câmera, num esforço completamente independente. Foi um projeto feito sem grandes estruturas, financiado por crowdfunding e construído com muito esforço coletivo. Estreamos em abril de 2025, e desde então temos apresentado o filme em cinemas e festivais no mundo todo.

Por onde passaram durante a vossa viagem? Quanto tempo durou? Quando começou e quando terminou?

Zarpamos de Beaufort, na Carolina do Norte (EUA), no dia 27 de junho de 2022, e chegamos aos Açores 30 dias depois, navegando sem escalas por todo o Atlântico Norte.

 Como foi essa experiência? O que guardam na memória da ilha das Flores?

Um lugar encantador, com uma energia única. Como Laerke descreveu na época, parecia uma terra feita dos sonhos dos navegadores, depois de enfrentarem aquele mar tão vasto. Foi um lugar de descanso e realização.

E o que aconteceu depois disso?

Depois disso, Kiana continuou navegando sozinha até as Ilhas Canárias, onde Laerke embarcou novamente rumo a Cabo Verde. Lá, carregaram 15 pranchas de surfe usadas, doadas por surfistas das Canarias. De Santiago, Kiana seguiu sozinha por 43 dias até Ilhabela, no litoral paulista e agora mora em Paraty, RJ.

Uma das coisas com que lidaram durante a viagem foi com o 'mar de plástico' que existe no oceano. Como é que veem esta problemática e o que estão a fazer para sensibilizar o mundo para este problema?

A travessia cruzou o Giro do Atlântico Norte, uma das maiores zonas de acúmulo de plástico no planeta. Diferente do que muita gente imagina, o plástico no Atlântico não forma 'ilhas', como no Pacífico. Em vez disso, ele fica contido nas colunas d’água, fragmentando-se em microplásticos que vão da superfície até o fundo do mar. Ver isso de perto foi transformador e reafirmou nosso desejo de agir. Por isso fundamos a 'Women & the Wind Foundation', para apoiar projetos de mulheres que unem aventura com causas ambientais urgentes.

Além das tempestades, passaram por outros desafios. Como foi lidarem umas com as outras 24h por dia?

Viver a bordo exige uma convivência muito íntima. Não há para onde fugir. Qualquer atrito tem que ser resolvido com diálogo, respeito e escuta. Foi um aprendizado profundo sobre como estar em grupo, especialmente entre mulheres com trajetórias e personalidades diferentes. Tivemos desafios, mas também muito carinho e cumplicidade.

Esta viagem também foi de introspeção? Como é estar no mar durante tantos dias?

Sim, completamente. O mar é um espelho, não dá para fugir de nós mesmos. A ausência de distrações leva-nos para dentro. Foram dias de muita reflexão, solitude e presença. Estar isolada no oceano transforma sua forma de pensar e de sentir o mundo.

Quais foram os maiores desafios da viagem?

Manter o ânimo em meio ao cansaço, enfrentar o medo do desconhecido, lidar com a imprevisibilidade do mar, e seguir mesmo quando tudo parecia dar errado. Mas também houve o desafio emocional — de sustentar o propósito, o vínculo entre nós e a confiança no caminho.

E quais as mensagens que querem deixar agora com o documentário?

Queremos mostrar que é possível fazer grandes coisas com poucos recursos, se houver coragem, propósito e comunidade. Que as mulheres têm lugar na liderança de aventuras radicais. Que o mar pode ser um lugar de escuta, transformação e impacto. E que projetos de impacto não precisam passar por caminhos tradicionais para chegarem longe.

Leia Também: Veja o calendário (completo) das estreias de julho na Max

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