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Um ano depois, o Brexit visto por ele, britânico, e ela, portuguesa

Foi há exatamente um ano que os britânicos votaram no referendo sobre a saída da União Europeia. O 'sim' ganhou para surpresa de muitos. As negociações para a saída tardaram mas já arrancaram. E o que mudou? O Notícias ao Minuto procurou a resposta junto de um casal que procura agora "o melhor de dois mundos".

Um ano depois, o Brexit visto por ele, britânico, e ela, portuguesa
Notícias ao Minuto

07:30 - 23/06/17 por Pedro Filipe Pina

Mundo Sociedade

Há um ano, boa parte do mundo passou o dia 23 de junho à espera de uma resposta de aparente sim ou não do Reino Unido. A pergunta era simples na leitura: 'Deve o Reino Unido continuar a ser um membro da União Europeia ou abandonar a União Europeia?'. Mas o significado da resposta acarretava dúvidas.

De um lado, havia o universo do ‘Remain’, o dos defensores de que o Reino Unido deveria fazer parte do bloco comunitário. Do outro, o ‘Leave’, onde o euroceticismo encontrava a sua casa. É só por uma questão de formalidade que lembramos que ganhou o ‘Leave’, com 51,9% dos votos.

Um ano depois, o Notícias ao Minuto tentou perceber de que modo é que o Brexit tem sido vivido. Será que o tema ainda é assunto de conversa? E que dúvidas subsistem para quem lidará com as alterações (por ora desconhecidas) que se avizinham? Para tal estivemos à conversa com um casal que liga Portugal ao Reino Unido.

Catarina é uma enfermeira portuguesa que partiu para Inglaterra há oito anos. É em terras britânicas que tem feito a sua vida e carreira. Vive com o britânico Simon, treinador da equipa de futebol feminino da cidade de Southampton. Têm uma bebé que nasceu já depois de a maioria dos britânicos ter votado para que o país deixasse a União Europeia.

Um ano depois do referendo, Catarina considera que "ninguém tem muita noção do que realmente vai acontecer". Admite até que, entre os apoiantes do ‘Remain’, há quem ainda tenha esperança de que o processo não vá adiante, um cenário por esta altura altamente improvável mas que terá ido buscar algum fôlego à recente perda da maioria absoluta por parte dos conservadores.

Mas não é sobre teoria política que se debruçam estas palavras. É sobre o efeito prático que certas escolhas têm na vida das pessoas. E é numa frase de Catarina, que até nem podia votar, que encontramos uma forma de resumir o espírito de quem, votando contra a saída da União Europeia, terá inevitavelmente de participar no processo: "Há uma certa esperança de que as coisas não mudem muito".

A verdade é que as coisas vão mudar, isto parece certo. Mais incerto é perceber o quanto. Em março de 2019, independentemente de como decorrerem as negociações, o Brexit será real.

Ao britânico Simon perguntamos se o ano que passou, com tanto que se ouviu e leu, tornou o Brexit algo mais fácil ou difícil de se entender. "Para mim não mudou muito, mas talvez para outras pessoas tenha ficado mais difícil de perceber. Quem estava pelo ‘Remain’ percebia que havia muita incógnita e que nada era certo", afirma.

"Quando decidimos sair tornou-se simplesmente uma realidade, uma que não conhecíamos", diz-nos Simon, sustentando porém que a perceção que tem é a de que "as pessoas estão a perceber que é mais difícil do que imaginavam".

O Brexit é incontornável no ano que passou, mas o Reino Unido viveu também atentados terroristas e eleições legislativas. Recentemente, o país uniu-se em choque após o incêndio de Grenfell, torre onde pelo menos 79 pessoas perderam a vida. Não se estranhe por isso que o Brexit se tenha ausentado nos últimos tempos das conversas entre amigos e colegas de trabalho.

O calendário, porém, não pára. Perguntamos a Catarina se o facto de ser imigrante a preocupa: "Não". A seu favor, além dos oito anos que já leva de vida em terras de Sua Majestade, tem o facto de ser enfermeira, “uma classe bastante protegida no Reino Unido”. Mas há dúvidas quando pensa no percurso inverso.

Catarina e Simon não casaram e “se algum dia decidirmos ir para Portugal, como é que fica a vida do Simon”, questiona-se. Ele diz-nos que entre Portugal e o Reino Unido, o ideal era “conseguir o melhor de dois mundos”.

O que virá... só o tempo o dirá

Este casal é apenas um de milhentos exemplos de como o Reino Unido e a União Europeia se aproximaram ao longo das últimas décadas. Há tratados e regulamentos em comum nas mais diversas áreas. Há todo um edifício institucional que terá de ser substituído tijolo a tijolo.

Dados do Observatório da Emigração mostram que só em 2016 houve mais de 30 mil portugueses a emigrar para o Reino Unido. Curiosamente, foi a primeira vez desde 2010 que os números anuais de emigração para o Reino Unido diminuíram.

Para muitos portugueses que ali vivem, o momento será de esperar para ver o que será o futuro depois de o divórcio se oficializar. Para a filha bebé de Simon e Catarina, pelo menos, tal não deverá ser uma preocupação. O "melhor de dois mundos" é uma possibilidade porque o Brexit não separará as nacionalidades que já nasceram com ela.

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