"Estabelecer um terceiro partido, é sempre um tiro no escuro", afirmou à Lusa o professor Thomas Holyoke, da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.
"Este país não tem um histórico de mais de dois partidos políticos e terceiros são estabelecidos como 'spoilers'", caracterizou.
Há uma série de obstáculos institucionais que tornam muito difícil a formação de partidos, como explicou também o professor Brian Adams da Universidade Estadual da Califórnia em San Diego.
"Este é um sistema eleitoral em que o vencedor leva tudo e é difícil conseguir balanço, é preciso ganhar logo de início", descreveu à Lusa. "Muitos estados dificultam a entrada de partidos terceiros nos boletins de voto".
Essas desvantagens levam a que os doadores se foquem nos dois grandes partidos, republicano e democrata, e tornam complicada a angariação de fundos. "É a razão pela qual não temos, desde meados do século XIX, um movimento de terceiro partido realmente bem sucedido", frisou Brian Adams.
No entanto, o professor identificou uma via pela qual Elon Musk pode ser a exceção: o momento extraordinário que se vive no eleitorado.
"As pessoas estão muito insatisfeitas com o estado da política americana. Querem algo diferente", explicou o politólogo. "Esse foi o grande atrativo de Trump, ele era diferente".
Esta vontade de mudança, que existe tanto no eleitorado à esquerda como à direita, pode beneficiar o Partido América, principalmente se conseguir apoios financeiros relevantes. A dúvida está no pendor ideológico que Elon Musk vai dar ao projeto político.
"As últimas tentativas de criar terceiras forças políticas focaram-se em partidos moderados, tentando captar o centro", indicou Adams. Se Musk for por essa via, pode ir buscar mais apoios entre democratas que republicanos porque os democratas são mais centristas neste momento, considerou.
No entanto, Adams duvida disso. "Suspeito que Musk vai tentar criar outro partido de direita e isso prejudicará os republicanos, competindo diretamente", afirmou.
Thomas Holyoke chega a duvidar que Elon Musk avance mesmo para a constituição de um partido, dados os obstáculos, a não ser que o faça por "absoluta teimosia e rancor".
Também disse não acreditar que os estrategas republicanos estejam a "tremer de medo" com o plano, algo que só acontecerá se Musk começar, de repente, a dar dinheiro aos democratas.
"Ficaria surpreendido se isso acontecesse, mas não tenho a certeza do quão Musk se alinha ideologicamente com um dos lados", indicou o cientista político, lembrando que o magnata já foi apoiante dos democratas antes de se aproximar de Donald Trump.
Para Holyoke, se Musk realmente formar o partido, poderá desviar apoio dos republicanos a caminho das eleições intercalares de 2026, que se esperam ser difíceis para o partido de Trump.
Este é um cenário que depende da estratégia, porque falta pouco mais de um ano e montar uma operação partidária é moroso e complicado. Segundo Brian Adams, a forma de ter maior impacto será Musk focar-se numa mão cheia de estados e tentar ganhar alguns lugares na Câmara dos Representantes em distritos de pendor republicano.
"Republicanos e democratas estão tão próximos em termos de apoio popular que o país pode ser dividido ao meio", disse o professor. "Se um terceiro partido conseguir alguns lugares na Câmara dos Representantes, isso pode dar-lhe tremendo poder e influência".
Ainda que Musk desista da ideia, é provável que não se afaste da política, ao contrário do que tinha dito em maio, quando terminou a colaboração com a Casa Branca e votou dedicar-se às suas empresas.
Mesmo sem partido, "o mais provável é que ele tente influenciar alguns distritos com políticos de quem não gosta, ou influenciar os candidatos republicanos para nomeações em várias posições", disse Brian Adams.
Nenhum dos politólogos espera realmente que o Partido América avance, mas o movimento é importante pela situação de desgaste no sistema político norte-americano.
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