"Os eleitos locais socialistas, que são fortes, não querem arriscar o seu mandato local por uma candidatura nacional que podem perder. Anne Hidalgo, como é autarca de Paris, arrisca menos, mas os outros grandes barões não se querem meter nisso", explicou à Lusa Benjamin Morel, professor da Universidade de Paris Panteão-Assas.

Mesmo com a derrota em 2017, com o candidato socialista Benoit Hamon a receber apenas 6,36% dos votos dos franceses, o Partido Socialista mostrou que mantém a sua implantação local nas municipais de 2020 onde conseguiu triunfar em muitas cidades com mais de 100 mil habitantes como Marselha, Nantes ou Dijon e reforçou esta onda nas regionais de 2021, onde conservou as cinco regiões que já liderava.

A autarca de Paris, que renovou o mandato em 2020, é, neste momento, a candidata socialista mais bem posicionada, embora ainda não tenha apresentado oficialmente a sua candidatura. No início de julho, Hidalgo reuniu os pesos pesados do partido que a apoiam em Villeurbanne, na região do Drone, e lançou-se numa volta à França.

Um dos seus apoiantes é Hermano Sanches Ruivo, vereador do Câmara de Paris com a pasta da Europa. Para este membro do Partido socialista francês, Anne Hidalgo tem todos os atributos para chegar ao Eliseu.

"As capacidades de Anne Hidalgo têm a ver com a sua capacidade de trabalho, a capacidade de ouvir, ter à sua volta equipas inovadoras e ter trabalho feito. Ela é a pessoa à esquerda que tem mais trabalho no terreno", defendeu o político francês de origem portuguesa.

Para além disto, e ainda sem outros candidatos de peso à vista, Anne Hidalgo, segundo Hermano Sanches Ruivo agrega o apoio de vários quadrantes à esquerda.

"Ela tem uma rede, está neste momento a dar uma volta à França. Toda a família de esquerda e especialmente ligada ao Partido Socialista está evidentemente interessada e a apoiá-la", referiu o autarca.

Em Paris, a autarca já lidera uma coligação, nem sempre pacífica, com os ecologistas e outros partidos à esquerda, e Sanches Ruivo considera que é importante prestar atenção ao candidato que vai sair das primárias dos Verdes, considerando que Jean-luc Melenchon, líder do partido France Insoumise [França Insubmissa] e candidato declarado as presidenciais, se tornou "demasiado populista" para agradar ao eleitorado de esquerda.

A candidatura de Anne Hidalgo deve ser apresentada na 'rentrée', em final de agosto ou início de setembro e, segundo politólogo Benjamin Morel, deve conseguir impor-se de forma absoluta senão dá espaço a outros candidatos com um passado imponente.

"Podemos ter sempre alguns fantasmas. François Hollande ainda quer voltar, ele ainda sonha com a Presidência e não devemos pô-lo de parte. Se a candidatura de Anne Hidalgo não se impuser naturalmente, e dependendo do candidato dos Verdes, alguns socialistas podem mesmo apelar a François Hollande", explicou.

Já Hermano Sanches Ruivo não acredita no regresso destes fantasmas. Considera que François Hollande tem "valor" como homem de esquerda, mas também que o país vive agora outra dinâmica e realidade, longe das eleições ganhas por François Hollande em 2012.

"Os potenciais candidatos fantasma estão suficientemente presentes para que se fale neles e estão sempre à espera que haja uma pequena abertura para voltarem realmente, mas cada um desses nomes tem uma história própria e não acredito no seu regresso", exprimiu o político.

O Partido Socialista vai fazer a sua 'rentrée' em Blois, no Vale do Loire, numa universidade de verão nos dias 27, 28 e 29 de agosto e daí devem sair as principais pistas para o alinhamento desta força política para as presidenciais de 2022.

As presidenciais francesas disputam-se em duas voltas, nos dias 10 e 24 de abril de 2022.

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