Exército acusa governo de Myanmar de irregularidades eleitorais
O exército de Myanmar (antiga Birmânia) acusou o governo, liderado por Aung San Suu Kyi, de irregularidades nas eleições gerais do próximo de domingo, as primeiras organizadas pelo atual executivo.
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Mundo Myanmar
Em comunicado, as Forças Armadas, que governaram o país durante quase meio século, afirmaram que durante a transição para a democracia se realizaram eleições "livres" e "justas" em 2010 e 2015, ambas organizadas por organismos próximos do comando militar.
No entanto, segundo o exército, as eleições deste ano, agendadas para 08 de novembro, revelam uma "violação generalizada das leis e procedimentos" na votação antecipada e "erros por descuido" nas listas eleitorais, pode ler-se em comunicado divulgado na segunda-feira, atribuído ao chefe das forças armadas, Min Aung Hlaing, segundo a agência de notícias espanhola Efe.
"As eleições de 2020 deveriam ter maior liberdade e justiça, mas agora surgem fraquezas e deficiências que nunca foram vistas nas eleições anteriores, o que pode ter um impacto negativo na imagem do escrutínio", afirmou.
Os militares, que redigiram a atual Constituição, ao abrigo da qual reservam os ministérios da Defesa, do Interior e das Fronteiras, bem como 25% dos assentos no Parlamento, responsabilizaram o executivo pelos fracassos no processo eleitoral.
"O governo tem plena responsabilidade por todos os erros intencionais e não intencionais [...], é um processo político que reflete o cumprimento das suas responsabilidades governamentais", pode ainda ler-se na nota.
A líder de facto de Myanmar, Aung San Suu Kyi, votou antecipadamente na quinta-feira, devido às restrições implementadas para conter o avanço da pandemia de covid-19, que atingiu duramente o país.
Suu Kyi não pode tornar-se Presidente do país, porque a Constituição não o permite para quem tenha familiares com passaporte estrangeiro, mas criou o cargo de conselheira de Estado, para liderar de facto o país.
Em meados de outubro, a Comissão Eleitoral anunciou o cancelamento das eleições em várias zonas de conflito em todo o país, por razões de segurança, com especial destaque para o estado ocidental de Rakhine, onde vivem 600 mil rohingyas, vítimas de uma operação de limpeza étnica militar de 2017.
As eleições estão também a ser marcadas por alertas das Nações Unidas sobre violações de direitos humanos.
No final de outubro, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos expressou preocupação com a violação dos direitos humanos das minorias, nomeadamente com os perseguidos muçulmanos rohingya, e com a detenção de vários ativistas durante o período pré-eleitoral.
A ONU criticou as autoridades por recusarem a cidadania à grande maioria dos rohingyas, impedindo-os de votar ou de se candidatarem, e lamentou que a Comissão Eleitoral tenha cancelado "sem justificação compreensível" a votação em 57 municípios, enquanto algumas partes dos estados de Rakhine e Chin sofreram um apagão de internet decretado pelas autoridades.
As eleições legislativas de 8 de novembro serão as segundas relativamente livres realizadas no país, que iniciou há dez anos uma transição para aquilo a que os militares chamaram uma "democracia disciplinada".
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