Muito antes de ser eleito, Jair Bolsonaro já confessara o seu carinho pela ditadura militar no Brasil.
A ditadura vigorou entre 1964 e 1985. Para além de vítimas entre povos indígenas, sobraram centenas de casos por esclarecer, de pessoas que desapareceram e terão sido alvo de tortura e morte sob o regime militar.
A relação do Brasil com o seu passado volta a estar na Berlinda após declarações de Jair Bolsonaro que têm sido repudiadas.
Em causa estão comentários feitos por Bolsonaro sobre Felipe Santa Cruz, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
O pai de Felipe Santa Cruz é uma das centenas de pessoas desaparecidas durante a ditadura e cujo corpo nunca foi encontrado. Bolsonaro afirmou publicamente que, caso ele quisesse, lhe contaria como é que o seu pai desapareceu na ditadura.
Mais tarde, já após as primeiras críticas, Bolsonaro tentou atribuir o homicídio a um grupo de Esquerda que se opôs ao regime intitulado Ação Popular e que o próprio designou como "grupo terrorista". Na verdade, como nota o portal G1, o comentário de Bolsonaro vai contra as conclusões do grupo de especialistas que durante anos analisou os casos.
A Comissão Nacional da Verdade, que se dedicou com particular atenção ao período da ditadura, realça que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira desapareceu em 1974 e foi "preso e morto por agentes do Estado brasileiro".
O presidente da Ordem dos Advogados anunciou na segunda-feira que vai levar o caso ao Supremo Tribunal Federal, para que Jair Bolsonaro revele o que sabe de facto sobre a morte e desaparecimento do seu pai. A única pista levantada durante as investigações aponta para que o cadáver tenha sido incinerado por agentes brasileiros ao serviço da ditadura.
Entretanto, o advogado não deixou de procurar distinguir a figura da presidência do homem que agora ocupa o cargo. “Nós temos todo o respeito pela figura do presidente da República. Mas o presidente Jair Bolsonaro não agiu hoje [segunda-feira] como tal. Agiu como amigo do porão da ditadura, agiu olhando o passado e dividindo a sociedade brasileira”, disse Santa Cruz, que também publicou uma carta em que diz que Bolsonaro é "cruel" e não sabe separar o público do privado, como nota a mesma publicação.