Eurocéticos acusam demais grupos de desrespeito pelo método de Hondt
Os grupos dos Conservadores e Reformistas e o Identidade e Democracia (ID) criticaram hoje o desrespeito pelo método de Hondt na escolha dos cargos de responsabilidade no Parlamento Europeu (PE), acusando os demais grupos de discriminação.
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Mundo Parlamento Europeu
"Gostava de mencionar a insatisfação do meu grupo quanto à distribuição de postos de responsabilidade no PE", disse o porta-voz do ID, referindo-se à eleição dos vice-presidentes na sessão plenária da semana passada.
"Segundo o método de Hondt, que visa assegurar uma distribuição justa e proporcional desses cargos na assembleia, teríamos direito a dois vice-presidentes. No entanto, nenhum dos nossos candidatos foi eleito. Vemos que a maioria dos grupos neste PE não respeita o método de Hondt", acusou Philip Claeys, durante o 'briefing' que antecede a sessão plenária da próxima semana em Estrasburgo (França).
O porta-voz vincou que o seu grupo, que integra partidos de extrema-direita, nomeadamente a Liga de Matteo Salvini e a União Nacional de Marine Le Pen, é o único a não ter assento no 'Bureau' da instituição, o órgão diretivo regulamentar que tem por incumbência elaborar o anteprojeto de previsão das receitas e despesas do PE e decidir sobre todas as questões administrativas, de pessoal e de organização.
"O nosso grupo não tem pleno acesso à informação como os outros grupos têm, o que é uma discriminação. Podemos questionar a legitimidade democrática do 'Bureau' uma vez que nós representamos 21 milhões de votantes na União Europeia", disse o eurodeputado do partido de extrema-direita belga Vlaams Belang.
Philip Claeys lembrou que, além do veto aos candidatos do ID à vice-presidência da assembleia europeia, os demais grupos políticos voltaram esta semana a desrespeitar a proporcionalidade na eleição das lideranças das Comissões parlamentares.
"Segundo o método de Hondt, teríamos direito a duas presidências e nove vice-presidências, e, no entanto, nenhum dos nossos candidatos foi eleito. Assistimos mesmo a coisas muito estranhas a acontecer em algumas Comissões", denunciou, defendendo que o 'cordão sanitário' imposto por outros grupos políticos ao ID é "um procedimento estranho, sobretudo num PE que devia ser a representação democrática dos eleitores nos Estados-membros".
O novo grupo de extrema-direita pretendia, entre outras, a presidência das comissões da Agricultura e dos Assuntos Jurídicos, todavia o Partido Popular Europeu (PPE), os Socialistas & Democratas (S&D), os liberais do Renovar a Europa (RE) e os Verdes cerraram fileiras e impediram que a francesa Maxette Pirbakas (União Nacional) obtivesse os votos necessários para assumir a comissão de Agricultura, e que o francês Gilles Lebreton (União Nacional) presidisse à de Assuntos Jurídicos.
O descontentamento do ID não é, contudo, caso único, já que a mesma mensagem foi transmitida por Gareth Goldsmith, dos Conservadores e Reformistas, que assumiu que o seu grupo continua "desapontado" pelo desrespeito pelo método habitualmente seguido na distribuição de postos de responsabilidade no hemiciclo.
"Esta semana tínhamos como candidata a presidir a uma Comissão uma antiga primeira-ministra da Polónia, que teve a maior percentagem de votos na história das eleições na Polónia, e ela foi rejeitada por um grupo de eurodeputados naquela Comissão", sustentou, referindo-se a Beata Szydlo, eurodeputada do partido eurocético polaco Lei e Justiça (PiS), cuja candidatura para liderar a Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais foi 'bloqueada'.
O porta-voz dos Conservadores e Reformistas frisou que é importante que o sistema seguido até agora pela assembleia europeia seja respeitado.
"Também não gostamos necessariamente dos candidatos dos outros grupos, mas respeitamos este método. Se pararmos de respeitá-lo e ignorarmos este sistema, tudo desabará", alertou.
Devido ao 'cordão sanitário' criado pelas principais forças políticas para evitar lideranças da extrema-direita e de partidos eurocéticos, os dois grupos, que têm em conjunto 135 eurodeputados, referiram hoje não estar inclinados a votar favoravelmente na alemã Ursula Von der Leyen, a candidata indigitada pelo Conselho Europeu para presidir à Comissão Europeia, na eleição que decorre na terça-feira em Estrasburgo.
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