Rússia admite divergências com o Japão sobre as ilhas Curilhas
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo admitiu hoje, antes de uma reunião com o homologo nipónico, a existência de grandes divergências com o Japão sobre as ilhas Curilhas, reivindicadas pelos dois países.
© Reuters
Mundo Lavrov
"Espero que estas negociações (sobre as ilhas Curilhas) nos permitam compreender as divergências, porque são muito significativas. É preciso saber onde há espaço e quais são as opções para aproximarmos posições", disse o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov antes do encontro com o chefe da diplomacia japonês, Taro Kono.
Lavrov considerou "extremamente importante" valorizar de forma realista as perspetivas do processo sobre o domínio das ilhas Curilhas no quadro da terceira ronda negocial entre os dois países.
As negociações que começaram no ano passado têm como base a Declaração Conjunta soviético-japonesa de 1956.
Lavrov expressou confiança de que a chegada ao poder do novo imperador japonês, Naruhito, que deu início a "uma nova era de beleza e de harmonia", contribua para a melhoria das relações entre Moscovo e Tóquio.
O ministro russo recordou que as duas partes desempenham a "importante missão" de levar as relações a "um novo nível" que permita a tomada de decisões mútuas aceitáveis sobre problemas "delicados", referindo-se diretamente ao contencioso territorial sobre as Curilas, um arquipélago de 56 ilhas, que se estende entre a Península de Kamchatka e Hokkaido.
Taro Kono mostrou-se disposto a discutir com Lavrov uma solução sobre "o assunto territorial" e a assinatura de um Tratado de Paz sublinhando que a "cooperação autêntica" entre os dois países pode contribuir para a estabilização e desenvolvimento da região Ásia-Pacífico.
Chamadas "Curilhas do Sul" pela Rússia e "Territórios do Norte" pelo Japão, estas ilhas vulcânicas entre o mar de Okhotsk e o oceano Pacífico, estão no centro de um diferendo territorial que até hoje impede a assinatura de um tratado de paz desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Tóquio considera oficialmente as quatro ilhas -- com 20.000 habitantes -- anexadas pela URSS em 1945 como fazendo parte do território do Japão.
No passado mês de janeiro, durante a cimeira que decorreu em Moscovo, Vladimir Putin e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, comprometeram-se a assinar o Tratado de Paz, sendo que o chefe de Estado russo disse que iria ser "um árduo trabalho".
Mesmo assim, em janeiro, não se verificou uma única referência a uma eventual entrega ao Japão das quatro ilhas, em poder dos soviéticos desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e depois da Rússia.
Na altura, Putin recordou que a declaração de 1956 contempla "em primeiro lugar a assinatura de um Tratado de Paz" que é precisamente o ponto que Moscovo encara como essencial nas atuais negociações.
Para Putin, a assinatura da paz é uma pré-condição para a abordagem dos assuntos relacionados com a entrega das ilhas mais pequenas do arquipélago: Shikotan e Habomai.
Essa mesma possibilidade já foi tentada no passado, mas acabou por se tornar inviável devido ao Acordo de Segurança entre o Japão e os Estados Unidos de 1960 e que permitiu o aumento da presença de tropas norte-americanas em território japonês.
No princípio de 2019, Tóquio disse que tem como objetivo a recuperação das quatro ilhas principais propondo-se a convencer os atuais 20 mil habitantes a aceitarem o domínio nipónico.
A posição japonesa provocou de imediato contestação na Rússia onde se realizaram várias manifestações de protesto contra a possível devolução do arquipélago.
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