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Com o Brexit "estamos a lidar com um mau resultado, seja ele qual for"

Joseph Weiler, académico norte-americano especializado em assuntos europeus, considera que qualquer dos resultados possíveis do Brexit vai ser negativo porque vai deixar insatisfeitos tanto os que querem sair como os que querem ficar.

Com o Brexit "estamos a lidar com um mau resultado, seja ele qual for"
Notícias ao Minuto

09:05 - 27/12/18 por Lusa

Mundo Joseph Weiler

Weiler critica por outro lado a União Europeia, que descartou alternativas e manteve uma postura de dureza para desencorajar outros Estados membros de seguir o exemplo do Reino Unido, a qual, embora tenha tido êxito, corresponde quase a uma "política do medo".

"Estamos a lidar com um mau resultado, seja ele qual for", disse Weiler, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Nova Iorque e ex-diretor do Instituto Europeu de Florença, em entrevista à Lusa em Lisboa.

"Há uma possibilidade considerável de o Reino Unido sair sem acordo, um resultado muito mau. Há a possibilidade de Theresa May conseguir a maioria no parlamento, mas será com um parlamento muito insatisfeito com o acordo, tanto os que defendem a permanência como os que defendem a saída. E a perspetiva de, afinal, ficarem [na UE] é provavelmente a melhor de todas as más opções, mas também não é boa", explicou.

Joseph Weiler falava do atual impasse no processo de saída do Reino Unido da UE, depois de a primeira-ministra britânica ter adiado para meados de janeiro a votação do acordo de saída negociado com Bruxelas, dado o risco de ser chumbado por ampla margem na Câmara dos Comuns, o que abriu um conjunto de cenários que vão da saída desordenada a um segundo referendo ao Brexit ou mesmo a anulação da saída.

"Parece improvável que o acordo negociado seja aceite pelo parlamento, embora seja muito difícil imaginar um acordo substancialmente melhor, porque sair da UE é isto", considerou.

"E há imensa pressão no Reino Unido para fazer um novo referendo, partindo do pressuposto de que a saída seria revogada, o que não sabemos. Mas, mesmo que haja uma maioria, também é um resultado muito pobre, porque a maioria para permanecer não será enorme, e haverá enorme frustração, porque ainda há um grande número de pessoas no Reino Unido para quem o voto no referendo [de 2016] deve ser vinculativo", explicou.

Também por isso, se a opção fosse a de reverter o Brexit e permanecer na UE, haveria muitas pessoas inconformadas, além de que, para a União, o Reino Unido "continuaria a ser um cliente muito difícil", numa altura em "que a UE precisa de mudanças muito importantes" e se torna "muito difícil imaginar que o Reino Unido concordasse com qualquer nova integração substancial".

Para Weiler, a situação chegou a este ponto porque a decisão de fazer um referendo sobre o Brexit em 2016 foi "um expediente político de enorme irresponsabilidade", uma vez que visava resolver um problema interno do Partido Conservador e não foi acompanhada de qualquer trabalho técnico.

"A decisão original de David Cameron de realizar o referendo sobre o Brexit foi a maior catástrofe da política externa britânica em 100 anos", afirmou.

"De alguma forma, ele acreditava que tiraria vantagens políticas do referendo, mas que o [resultado do] referendo seria pela permanência. E quando foi pela saída, o que começou como uma tragédia tornou-se uma farsa", considerou, acrescentando que o Governo britânico "não tinha um plano negocial", "não tinha um objetivo a atingir" e "era claro que não tinha pensado a sério as várias alternativas".

O académico critica também a estratégia seguida pela UE face ao Brexit, assente numa "postura negocial" que se pode traduzir como "temos de ser duros porque não queremos que outros países sigam o exemplo do Reino Unido" e "vamos mostrar que esta é uma maneira muito cara de resolver os problemas".

Porque havia, na opinião de Weiler, uma alternativa.

"Temos um país que não está satisfeito com o progresso da integração europeia, o Reino Unido. Porque não ser generoso, oferecer-lhe um estatuto de membro associado, em que não faz parte do mercado único no sentido pleno?", questionou.

Essa "generosidade" levaria "dois ou três outros países" a fazer o mesmo, "talvez a Polónia, talvez a Hungria", "porque é um processo respeitável", e o resultado seria a permanência como membros de pleno direito de "países que ficam então muito mais comprometidos com o projeto de integração europeia".

"Mas essa opção foi descartada. Então agora, de certa maneira, a UE teve êxito - não é atraente sair da UE -, mas de certa forma é a política do medo. É como um homem ou uma mulher que permanecem casados não porque querem continuar casados, mas porque o divórcio parece ainda pior".

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