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Em busca do corpo 'perfeito'. O perigo fatal das injeções de testosterona

O drama do ator Ângelo Rodrigues voltou a acender o alerta para os perigos de um procedimento estético realizado sem supervisão médica por homens e mulheres que buscam o "corpo perfeito": as injeções de testosterona.

Em busca do corpo 'perfeito'. O perigo fatal das injeções de testosterona

Após o procedimento, supostamente realizado nas nádegas, o ator passou mal e deu entrada no hospital com febre e vómitos.

Rodrigues sofreu uma infecção grave, que resultou numa parada cardíaca e numa necrose dos tecidos na área onde  foi aplicado. Foi colocado, então, em coma induzido.

Depois de quatro cirurgias e uma suposta falência dos rins, na sexta-feira passada, o ator melhorou e foi retirado do coma. Agora, estará a ser tratado numa câmara hiperbárica para acelerar a cicatrização dos ferimentos.

Perigos

A história impressionante de Ângelo Rodrigues voltou a reacender um debate acerca do perigo das injeções de testosterona a nível nacional, mas não só - tendo sido inclusive notícia na BBC News. 

Aliás de acordo com aquela publicação internacional, as injeções de testosterona tornaram-se populares entre homens e mulheres que procuram melhorar a performance desportiva e ganhar músculos mais rapidamente.

Isso porque a testosterona, hormona importante para a maturação dos ossos, crescimento muscular e desenvolvimento das funções sexuais, provoca hipertrofia muscular.

Todavia, os danos' do uso desse medicamento sem supervisão médica "são muito maiores" do que os "ganhos", explicou à BBC News Brasil Clayton Macedo, médico em endocrinologia clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos maiores especialistas brasileiros no assunto.

Macedo foi inclusive um dos idealizadores do projeto 'Bomba? Tô Fora', que conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), focado em alertar sobre os perigos do uso de anabolizantes.

A campanha também será lançada em Portugal em parceria com os médicos do país em janeiro do ano que vem, durante um congresso de endocrinologia.

"Os efeitos colaterais das injeções de testosterona são gigantescos. Estamos a lidar com um problema de saúde pública", explicou Macedo. 

"O uso desse tipo de anabolizante provoca danos físicos, comportamentais e psicológicos."

Riscos diversos

Segundo o médico, os problemas vão desde dependência química a doenças no fígado e no coração, passando por agressividade e depressão.

O especialista diz que um dos riscos mais preocupantes de quem faz uso de injeções de testosterona é o vício. De acordo com o especialista, estudos mostram 57% dos utilizadores podem desenvolver dependência química, uma vez que a testosterona injetada interrompe a produção interna da substância.

"Mesmo que o indivíduo pare de usar a medicação, a glândula fica bloqueada e este sofre com deficiência hormonal. Acaba, então, por utilizar mais. É um círculo vicioso."

Macedo também sublinha que, como o cérebro humano tem "muitos receptores para essa hormona, que é um estimulante potente", pode ter mudanças comportamentais, como agressividade, irritabilidade, alucinações, depressão e tendências suicidas.

"Um estudo realizado na Dinamarca que acompanhou 500 usuários de anabolizantes por dez anos mostrou que esses indivíduos têm um risco nove vezes maior de cometerem um crime. Há relatos de que, em alguns casos de feminicídio, por exemplo, o homem fazia uso de anabolizantes", destaca.

O especialista lembra ainda dos problemas no coração, fígado e testículos.

"O excesso de testosterona pode causar hipetrofia do coração, insuficiência cardíaca e morte súbita. Isso sem falar nos danos ao fígado, pois altera o metabolismo do órgão, provocando hepatite medicamentosa ou falência hepática aguda."

"Essa droga também altera a libido, atrofia os testículos e pode causar ginecomastia (crescimento de mamas) e infertilidade irreversível."

Macedo diz que até mulheres estão a recorrer ao uso de testosterona injetável.

"Nelas, essa substância muda o timbre de voz e pode provocar a hipertrofia do clitóris."

Uso restrito

Segundo Macedo, o uso de testosterona só é indicado para quem tem uma carência comprovada da hormona, como no caso de alguns pacientes com cancro, defeitos genéticos, traumas testiculares e retardo na hipófise (glândula que controla o funcionamento de outras glândulas).

Ele explica, no entanto, que na busca pelo corpo 'perfeito', usuários desse tipo de anabolizante chegam a usá-lo em proporções até 100 vezes maiores do que as usadas por pacientes que realmente precisam de reposição hormonal.

A compra de testosterona injetável para fins medicinais segue regras rígidas. É necessária receita médica. 

Apesar disso, muitos utilizadores conseguem obter o produto no mercado negro.

"Os media vendem essa ideia do corpo 'perfeito' e cada vez mais pessoas fazem de tudo para o obter. Temos de consciencializar especialmente os jovens sobre os efeitos colaterais do uso de anabolizantes. Não vale a pena e os danos são para a vida toda", conclui Macedo.

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