O nervosismo aumentou na quinta-feira quando várias plataformas de intermediação de investimento dificultaram algumas transações com os títulos GameStop.

A situação está a levantar interrogações sobre se o mercado bolsista está numa perigosa bolha especulativa e se uma nova geração de investidores deve ser autorizada a aproveitar em pleno os instrumentos e facilidades de transação disponíveis nos telemóveis.

Ao mesmo tempo, há os que saúdam a situação, salientando que esta mostra que os fundos de investimento especulativo ('hedge funds'), a praça financeira em geral e os 1% (expressão que designa a percentagem dos mais ricos da sociedade) estão finalmente a enfrentar as suas réplicas.

Na base da situação está a evolução do título da GameStop. Depois de há três semanas andar pelos 18 dólares, teve um crescimento acentuado que o levou para os atuais 229 dólares, uma queda dos 347,51 de quarta, que resultaram de duas valorizações sucessivas acima de 100%. Desde o início do ano, a valorização é de 1.250%.

Este comportamento bolsista contrasta com as dificuldades da empresa, baseada em Grapevine, no Estado do Texas, vendia jogos de vídeo em mais de cinco mil lojas, até a pandemia ter afastado os clientes. Mais ameaçadora é a tendência pesada de deslocação dos clientes das lojas físicas para os canais virtuais.

O entusiasmo com o título aumentou com o anúncio feito no início do mês da entrada na sua administração de Ryan Cohen, cofundador de uma empresa vendedora de comida para animais, a Chewy. Os investidores consideram que Cohen pode ajudar a transformação digital da GameStop. Mas os analistas esperam que a GameStop continue a perder dinheiro no próximo exercício.

A discussão entre os pequenos investidores, através da plataforma Reddit, em particular no grupo designado WallStreetBets, centra-se nos títulos a apostar e em apostas ganhadoras e perdedoras. Recentemente, escolheram a GameStop para apostar.

Mas não foi só este entusiasmo que levou o título para os atuais píncaros.

Pelo contrário -- e é uma das razões pelas quais investidores profissionais e os 'hedge funds' odeiam o título -, foi a estratégia designada 'short selling', (vendas a descoberto).

Com esta estratégia, os investidores querem ganhar dinheiro com a queda do título em causa. Nesta venda, obtêm emprestado um título, da GameStop, por exemplo, e vendem-no. Mais tarde, se o preço for o esperado, podem comprar o título a um preço inferior e guardar a diferença. A GameStop é um dos títulos mais envolvidos nesta prática.

Mas este cenário pode não ocorrer e virar-se contra os vendedores. Se o preço subir, em vez de descer, estes apostadores vão ter de os comprar, para reduzir perdas, o que acaba por os valorizar ainda mais.

E foi exatamente a esta necessidade de reduzir perdas que as perdas de quarta-feira em Wall Street, as piores desde outubro, foram atribuídas.

A longo prazo, contudo, as cotações tendem a alinhar com os lucros das empresas, e as perspetivas da GameStop são cinzentas. Muitos analistas admitem uma cotação de 15 dólares ou abaixo.

O regulador (SEC, na sigla em Inglês) tem dito que está a seguir de perto a situação. O seu dever é proteger os investidores, mas muitos em Wall Street esperam que os detentores dos títulos da GameStop vão sofrer quando a cotação destes cair.

O que pôs este caso em evidência foi toda a comunicação entre os investidores na Reddit, com o incentivo mútuo a comprar GameStop, disse Chester Spatt, um antigo economista-chefe da SEC e professor de Finanças na Escola de Negócios Tepper, da Universidade Carnegie Mellon. Mas considerou que este caso dificilmente pode ser considerado de manipulação de mercado.

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