Investimentos de impacto vão ser "modo do capitalismo se tentar salvar"
Os investimentos deverão mobilizar cada vez mais capital para projetos com objetivos ambientais e sociais, sendo os designados investimentos de impacto um "modo do capitalismo se tentar salvar", consideraram hoje especialistas numa conferência organizada pela PLMJ.
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Economia Especialistas
André Figueiredo, sócio coordenador da área de mercado de capitais da sociedade de advogados PLMJ, considera que o investimento de impacto "não é uma moda ou agenda política, mas uma alteração profunda do modo como o sistema financeiro está organizado em que cada vez mais a mobilização de capital é feita não apenas com preocupações de retorno, mas com preocupações de impacto", sendo um "fenómeno 'darwinista' por dentro para o capitalismo se tentar salvar".
O advogado deu exemplo das 'green bonds', emissão de obrigações para financiar projetos na área ambiental (como investimento em energias renováveis), ou 'sustainability linked bonds', empréstimos bancários tradicionais, mas em que a taxa de juro é reduzida se forem cumpridos objetivos determinados de impacto social e/ou ambiental.
Este mercado, a nível mundial, representava há dois anos 5.000 milhões de euros e este ano quase 100.000 milhões de euros, disse.
Duarte Braga, sócio sénior da McKinsey, considerou que quando até o Financial Times fala de "capitalismo responsável não é por acaso" e que, cada vez mais, "a criação de valor para o acionista tem de ser mais completa", não se basear apenas no valor da cotação da ação da empresa no dia, mas no impacto da empresa e que os bancos têm capacidade de avaliar esses impactos quando avaliam financiamento.
O professor da Universidade Católica Filipe Santos considerou, por seu lado, que são necessários estes investimentos face à falta de coesão nas sociedades, com as desigualdades a promoverem os populismos, e afirmou que há cada vez mais interesse pelo empreendedorismo social, referindo a popularidade das suas aulas.
Afirmou ainda que perante a existência no mundo de "muito mais capital hoje em dia do que as aplicações produtivas para esse capital" crescerá a mobilização de dinheiro para projetos de inovação social.
Questionado pela Lusa se o investimento de impacto é feito sobretudo na parte ambiental, mais do que na social, André Figueiredo considerou que começa a haver instrumentos financeiros nesse âmbito em áreas como educação ou habitação a preços acessíveis, mas que "não se pode esperar que esta transformação se dê de forma revolucionária".
"Vai ser uma evolução incremental, ano após ano vai-se sentir diferença", acrescentou André Figeuiredo, admitindo que em Portugal este mercado ainda é muito pequeno, apenas com "exemplos ténues".
Presente na conferência esteve também a presidente executiva do Banco Montepio, Dulce Mota, que considerou que um banco com as suas características tem "de dar resultados, ser lucrativo, mas [também] apoiar novas formas" de investimento e que é isso que tem feito com microcrédito, crédito à habitação com juros adaptados à certificação energética da casa ou cartão bancário para cegos.
"O banco Montepio tem dificuldades, de legado, de malparado [crédito em incumprimento] para reduzir, mas não esquece os compromissos para com a sociedade", disse.
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