Meteorologia

  • 17 MAIO 2024
Tempo
17º
MIN 13º MÁX 20º

Fanfarra indiana põe Porto Covo a aplaudir regresso de festival

As músicas do mundo regressaram hoje a Porto Covo, após quatro anos de ausência, com anfitriões e visitantes a acompanharem com palmas a fanfarra indiana que percorreu as ruas do centro histórico da aldeia alentejana.

Fanfarra indiana põe Porto Covo a aplaudir regresso de festival
Notícias ao Minuto

21:30 - 18/07/14 por Lusa

Cultura Músicas do Mundo

Coube à Jaipur Maharaja Brass Band dar o tom do Festival Músicas do Mundo (FMM), instalado em Porto Covo até domingo, passando depois para Sines, a partir de segunda-feira. Hoje à noite, vão atuar os franceses KrisMenn e AleM, com uma abordagem contemporânea à música tradicional da Bretanha, e Bachu Khan, outro indiano do Rajastão, com canções de amor em língua marwari.

No largo do centro histórico, velhos e novos abandonaram as disputadas sombras, para responderem aos pedidos de aplausos do "maestro" da fanfarra oriunda do Rajastão indiano, que voltará a animar as ruas da aldeia no sábado, às 19:00.

Havia quem nunca tivesse visto coisa igual e comentasse, com surpresa, os sapatos dourados tipo Aladino que os músicos traziam calçados. As bailarinas, que se contorciam, e o faquir, que cuspia fogo, também espantaram as centenas de pessoas presentes no largo.

Da "boa terra" do Alandroal, e quase a chegar aos 80 anos, Marcelo Madeira passeava pelo largo confessando-se apreciador de outra música. "Mais suave, valsas, tangos, boleros, isso é que diz qualquer coisa, agora isto é batuque, batuque, só faz mal aos ouvidos e ao coração", lamentava, reconhecendo, porém, que, "para o comércio e os turistas", o festival "é bom".

Marcelo pode nunca ter ouvido uma fanfarra indiana, mas a sonoridade não lhe é, de todo, estranha. "As nossas charangas dos bombeiros 'é' igual a isto. (...) Pum, pum, pum, pum, pum, pum, veja lá se não é igual", desafiou.

O musicólogo Pedro Boléo, presente no festival, achou graça à comparação. "Há pontos de contacto. É engraçado que ele compare a uma banda, porque são os pontos de referência culturais que existem aqui na região. É interessante que isso se cruze, que as pessoas ouçam outros sons, outras maneiras de estar, outros ritmos, outros timbres, outras palavras e outras caras até", realçou.

A ligação às populações locais é um dos eixos fundamentais do FMM e Pedro Boléo destaca que "muita gente" irá "aprender música, porque vê a alegria" do festival, nomeadamente crianças, que só recentemente começaram a poder aprender música nestas paragens. "Isso faz diferença e abre horizontes aqui nestes pequenos sítios", observa.

Ninguém parece opor-se à transformação de Porto Covo, por esta altura com mais movimento. O problema é que o verão não dura sempre. Ainda o sol ia alto e Cristina já dispunha os frascos de azeite numa banca. Só mais pela fresca juntaria os licores e os doces, convencida que o FMM lhe trará mais clientela para o que produz na sua Quinta do Espantalho, já que hoje "as pessoas procuram comprar uma coisa o mais regional possível".

Cristina não tem conseguido mais do que "sobreviver" dos produtos agrícolas que, diariamente, vende na praça de Porto Covo, que, "no inverno, é uma desgraça".

David Gil, de 15 anos, é da mesma opinião: tirando o verão, a aldeia "está às moscas". Não sendo propriamente fã das músicas do mundo, preferindo o rock e o metal, este aprendiz que se dedica à guitarra, "com garra", está grato ao FMM pelo palco que oferece aos alunos da Escola das Artes do Alentejo Litoral, que atuarão ao longo dos nove dias de festival.

Rodrigo Vilhena, de 16 anos, igualmente estudante de guitarra, quer seguir uma carreira na música, mas tem noção de que talvez essa não venha a ser a sua ocupação principal.

Para "ter sucesso", terá de ser "o melhor dos melhores". E talvez viver noutro país: "Convém termos sempre um emprego à parte para nos conseguirmos sustentar, porque a música, agora, como o país está... dá dinheiro, mas não dá para sobreviver."

Recomendados para si

;
Campo obrigatório