Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
14º
MIN 12º MÁX 17º

Ameaça jihadista reforça necessidade de acordo político

A escalada do perigo jihadista na Síria reforça a necessidade de governo e oposição encontrarem um compromisso que ponha fim a três anos e meio de conflito, afirmou hoje o presidente da comissão de inquérito internacional à Síria.

Ameaça jihadista reforça necessidade de acordo político
Notícias ao Minuto

14:15 - 16/09/14 por Lusa

Mundo Síria

"O conflito sírio não se vai resolver no campo de batalha", insistiu o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que chefia a comissão de inquérito da ONU.

"Estamos num momento crítico do conflito. Ao mesmo tempo que o imenso sofrimento pede há muito uma ação diplomática, a emergência do Estado Islâmico reforça a necessidade de o governo e os principais movimentos da oposição chegarem a um entendimento e se empenharem em fazer compromissos para uma solução política", disse.

Pinheiro, que falava na apresentação do mais recente relatório sobre a situação na Síria ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, voltou a criticar a inação da comunidade internacional, afirmando que ela "permitiu às partes em conflito agir impunemente e alimentou a violência que consome a Síria, da qual o mais recente beneficiário é o Estado Islâmico".

Nos últimos dois meses, o Estado Islâmico (EI) executou publicamente civis, combatentes rebeldes e soldados do governo, cometeu massacres, executou centenas de soldados capturados em Ar Raqqah e centenas de civis do clã Al Sheitat em Deir Az-Zawr, exemplificou o perito.

Nesta fase, concluiu a comissão, o EI está a dar prioridade ao doutrinamento de crianças, que a partir dos 13 anos obriga a assistir a execuções e usa como combatentes.

"O grupo ensina às crianças ideologia sob a capa de educação, treina-os no manejo de armas e fá-los participar nas hostilidades", disse Pinheiro, acrescentando ter testemunhos fiáveis da presença de crianças em postos de controlo na província de Al-Hassaka.

Referindo-se às recentes execuções pelo EI de dois jornalistas norte-americanos e de um trabalhador humanitário britânico, Pinheiro sublinhou que o EI "tem sujeitado muitos sírios ao mesmo destino em praças públicas do norte e do leste do país".

"Mas o EI e os grupos rebeldes armados não são os únicos agentes de morte e de destruição na Síria. O governo sírio continua a ser responsável pela maioria das vítimas civis, matando e atacando civis todos os dias nos seus bombardeamentos, nos seus postos de controlo e nos seus centros de interrogatório", disse.

Para apoiar o relatório agora apresentado, a comissão de inquérito apresentou ao Conselho 12 dos 3.200 testemunhos de vítimas recolhidos recentemente.

Um deles, recolhido a 15 de agosto, foi dado por um jornalista sírio, sobrevivente de uma prisão do Estado Islâmico em Alepo.

O jornalista, cujo nome não foi divulgado por razões de segurança, foi detido em casa em novembro de 2013 por cinco membros do EI devido aos textos que escrevia contra os jihadistas.

Foi levado para um antigo hospital em Qadi Askar, para uma cela subterrânea, uma de 12 divisões com 40 a 50 detidos cada uma. Como os outros, foi diariamente espancado e confrontado com execuções de outros detidos.

"Dois membros do EI chegavam, chamavam-nos pelos nomes e vendavam-lhes os olhos, com eles virados para a parede para não os poderem ver. Levavam-nos para o primeiro andar e, minutos depois, ouvíamos tiros. Isto acontecia uma vez por dia, todos os dias", relatou o sírio.

Nos últimos três dias da sua detenção, partilhava a cela com outros 26 detidos. Um dia, 19 deles foram mortos. No último dia, ele e outro foram chamados quando se iniciou um ataque ao edifício. Foi reenviado para a cela, de onde foi mais tarde libertado por rebeldes, que filmaram cerca de 45 corpos de detidos executados com uma bala na cabeça.

Cerca de 150 pessoas foram libertadas nesse dia, 07 ou 08 de janeiro de 2014, segundo o jornalista, que estima em 400 a 600 o número de detidos quando chegou ao local.

A comissão de inquérito da ONU foi criada há três anos e apresentou hoje o seu oitavo relatório.

MDR // JMR

Noticias Ao Minuto/Lusa

Recomendados para si

;
Campo obrigatório