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Derrota de Portugal em África na Grande Guerra retratada em livro

O jornalista Manuel Carvalho estudou nos últimos quatro anos a experiência portuguesa em Moçambique durante a I Grande Guerra e publica agora em livro esse trabalho sobre uma derrota "mais desastrosa" do que a que teve lugar na Europa.

Derrota de Portugal em África na Grande Guerra retratada em livro
Notícias ao Minuto

12:45 - 16/10/15 por Lusa

Cultura História

Com lançamentos agendados para Lisboa, a 26 de outubro, e Porto, a 31 deste mês, "A guerra que Portugal quis esquecer -- O desastre do exército português em Moçambique na Primeira Guerra Mundial" é "mais um trabalho de jornalista do que o de alguém que se dedica a fazer uma investigação histórica", reconhece o autor, embora contenha investigação nova e "muitos contributos novos" naquilo que é "uma obra muito mais profunda, mais densa e completa" do que o conjunto de 11 reportagens no jornal Público em 2014, feitas em conjunto com o fotojornalista Manuel Roberto e que venceram o prémio Gazeta Imprensa.

Manuel Carvalho sublinha que "aquilo que aconteceu em África [para onde foram enviados mais de 20 mil soldados para fazer frente ao exército alemão] foi muito mais desastroso do que aquilo que aconteceu na Europa", apesar de ser mais conhecida e discutida a presença do designado Corpo Expedicionário Português na frente europeia da Primeira Guerra Mundial.

De acordo com o autor, "a explicação para aquilo que aconteceu na Flandres tem alguma lógica, tem algum racional, agora o que acontece em África é bastante mais difícil de justificar".

Isto "porque Portugal tinha uma tradição militar nas colónias muito mais antiga do que os alemães tinham, porque Portugal frequentava as costas de Moçambique desde os princípios do século XVI, desde 1880 que vários militares portugueses - os chamados africanistas - tinham participado em operações militares para dominar revoltas indígenas, ou seja, conheciam o calor, as dificuldades do terreno, as doenças, as necessidades logísticas para manter colunas operacionais em plena selva".

Apesar de todos estes fatores, "a impreparação foi tão grande, a insensibilidade dos comandantes tão evidente, a negligência na preparação e no treino, nos acomodamentos, nas condições de saúde foram tão extremas que determinaram uma derrota inexplicável".

Mais ainda porque "o exército com o qual Portugal teve de se defrontar, o exército alemão, não tinha superioridade numérica sobre os efetivos portugueses nem tinha superioridade do ponto de vista de armamento".

A história da derrota militar em Moçambique começou a procurar ser "esquecida" pelo Estado Novo, já que "o destino ultramarino mantém-se como um dos principais sustentáculos ideológicos do regime e para isso era conveniente apagar da memória aquilo que aconteceu entre 1916 e 1918 em especial".

Questionado sobre o destino dos soldados locais, Manuel Carvalho realça que "há muitas coisas que não se sabem de todo porque desapareceram dos registos", mas há indicações de que foram mobilizados "100 mil moçambicanos negros para servirem de carregadores" no Norte do país.

"Terão morrido 30 ou 40 mil soldados indígenas. Terão. É completamente especulativo, mas aquilo que se sabe é que morreu muita, muita gente e não há contabilidade oficial porque os carregadores não eram vistos como seres humanos, eram números", diz o jornalista.

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