As declarações do ex-cabeça de lista à referida câmara do distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto surgem depois de o PSD nacional avocar o processo da sua candidatura e a semana passada ter apresentado como candidato alternativo Jorge Ratola, ex-vice-presidente da Câmara de Aveiro e atual adjunto do Primeiro-Ministro.
"O partido foi utilizado pelo seu presidente para um ajuste de contas pessoal que me visa diretamente e tem como único propósito a minha eliminação política", declara Ricardo Sousa. "O PSD é um partido estruturante do regime democrático, com mais de 50 anos de história, não pode ser usado como instrumento de vinganças pessoais ou para satisfazer caprichos familiares", acrescenta.
Ricardo Sousa recorda que foi escolhido como candidato em novembro de 2024 por unanimidade da concelhia do PSD, à qual preside, e confirmado em fevereiro no plenário de militantes que aponta como "o mais concorrido dos últimos 30 anos" - e no qual, mesmo depois de revelada a oposição por parte da estrutura nacional, o seu nome mereceu "61 votos a favor, nove abstenções e nenhum voto contra".
É por isso que o ex-candidato afirma hoje que o procedimento que inviabilizou a sua candidatura, "além de abrir um grave precedente, é absolutamente inédito em Espinho", onde "desde 1976 a vontade da concelhia sempre foi respeitada" - inclusive durante a escolha do próprio Montenegro em 2001, quando "se assistiu a grandes divisões e votos contra e nem por isso se deixou de respeitar a vontade da comissão política".
Ricardo Sousa realça, aliás, que os militantes locais seguiram "critérios objetivos" ao escolhê-lo como cabeça de lista para as autárquicas de 2025.
"Tenho um percurso político e cívico que fala por si. Fui 12 anos autarca em Espinho, fui adjunto no governo liderado por Pedro Passos Coelho e fui chefe de gabinete do presidente da Câmara de Espinho [Pinto Moreira] durante dois anos, tendo saído pelo meu pé. Fui ainda deputado eleito pelo meu distrito na XV Legislatura", refere.
Admitindo que "só um motivo muito forte poderia levar a que, pela primeira vez na história, não se respeitasse a vontade das bases", o ex-candidato afirma: "Tinha que se garantir o afastamento do Ricardo Sousa e para isso foram fabricados meios que justificassem o fim".
Como exemplos, o líder dos sociais-democratas de Espinho indica que no PSD nacional "acenaram com uma suposta sondagem realizada em outubro de 2024" à qual não teve acesso e onde o nome de Jorge Ratola não figurava, e menciona também os convites alternativos feitos a figuras como "Salvador Malheiro, Miguel Guimarães ou Nelson Couto", do que resultou "a recusa de toda a gente, dada a manifesta falta de razoabilidade com que o processo estava a ser gerido".
Na perspetiva de Ricardo Sousa, foi depois disso que "o presidente do partido, em desespero de causa, escolhe um adjunto do seu gabinete".
Lamentando que a decisão do PSD nacional inviabilize "qualquer entendimento com a IL e o CDS-PP", precisamente quando Espinho está envolvido "em suspeitas e polémicas" devido ao caso Vórtex e era "fundamental" que os sociais-democratas alargassem a sua base eleitoral, o ex-candidato afirma: "Todo este trabalho de meses foi agora deitado ao lixo porque o presidente do partido não admite ter um candidato que não controle absolutamente, ficando claro que privilegia subserviência e abomina a independência".
Manifestando-se ainda "aberto ao diálogo", Ricardo Sousa adianta que pediu esclarecimentos à Comissão Política Nacional do PSD sobre os motivos para a não-homologação do candidato indicado pela secção local do partido e solicitou igualmente a ata da reunião em que essa deliberação foi tomada. "Por não encontrarmos motivos plausíveis para o que se está a passar, (...) queremos perceber com que base política e estatutária se tomou esta decisão", conclui.
Às eleições de 12 de outubro em Espinho foram já anunciadas as candidaturas de Jorge Ratola pelo PSD, Pilar Gomes pela CDU, Luís Canelas pelo PS e ainda Maria Manuel Cruz como independente - já que, embora sendo essa a atual presidente da câmara na sequência da renúncia de Miguel Reis em 2023, se desvinculou entretanto do partido por esse ter preferido apoiar o seu vereador Luís Canelas.
O executivo municipal de Espinho é atualmente composto por sete elementos: Maria Manuel Cruz, Leonor Lêdo Fonseca e Lurdes Rebelo, pelo PS; Luís Canelas, eleito pelo PS, mas agora sem pelouros, após a presidente lhe retirar a confiança política; e Lurdes Ganicho, João Passos e Hélder Rodrigues, pelo PSD.
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