Cavaco Silva falava durante um almoço num hotel de Lisboa que juntou dezenas de pessoas que fizeram parte das suas equipas como presidente do PSD, primeiro-ministro e Presidente da República, às quais agradeceu, considerando-se "um privilegiado e um homem de sorte" pelas funções públicas que exerceu.
"Muita coisa se sabe sobre a forma como exercia as minhas funções de Presidente da República. Mas também há muita coisa que não se sabe, porque tomei a decisão de manter muita coisa reservada na convicção de que essa era a melhor forma de defender o superior interesse nacional", declarou.
No entanto, o ex-chefe de Estado não quis revelar informação nova nesta ocasião: "Este não é o tempo, como é óbvio, de fazer revelações. É o tempo para eu agradecer àqueles que estiveram ao meu lado nas mais variadas situações e me ajudaram a percorrer este caminho político".
Num discurso de cerca de quinze minutos, Cavaco Silva apontou um momento como decisivo para a sua entrada na vida política: "Se Sá Carneiro não me tivesse ido buscar à universidade e ao Gabinete de Estudos do Banco de Portugal [para exercer o cargo de ministro das Finanças e do Plano] eu não teria tido carreira política, teria tido carreira académica, algo que também muito me satisfaz".
No final da sua intervenção, nomeou algumas das pessoas que trabalharam consigo e destacou o papel da sua mulher, Maria, e da sua família. "Eu não vos disse qual foi o privilégio maior que tive ao longo de toda a minha profissional e política, sem o qual eu não teria chegado onde cheguei: o privilégio de ter tido sempre ao meu lado a mulher com quem casei e toda a minha família".
Sobre o período em que foi Presidente da República, entre 2006 e 2016, Cavaco Silva descreveu-o como "um tempo bem difícil, complexo, de profundas crises na Europa e em Portugal", mas defendeu que "foi o tempo certo" para exercer essas funções.
"Em que outro tempo teria sido mais útil para o meu país a minha experiência como primeiro-ministro, o meu conhecimento de economia e finanças, das instituições europeias? Eu não consigo ver outro", disse.
Depois, afirmou ter saído de consciência tranquila e agradeceu o apoio da sua equipa em Belém: "Quero dizer-vos que, se completei os meus mandatos e saí satisfeito comigo próprio e de consciência bem tranquila, o devo à extraordinária equipa de assessores e consultores que fizeram parte da minha Casa Civil e da minha Casa Militar".
Cavaco Silva recordou as transformações históricas a que assistiu como primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, agradeceu aos ministros e secretários de Estado que integraram os seus governos e elogiou as reformas feitas nesse período, que qualificou de "mudanças de dimensão histórica".
O antigo primeiro-ministro elencou essas mudanças: "Foi a revisão constitucional de 1989, foi o fim da estatização da comunicação social e o fim do monopólio estatal da televisão, foi a redução do peso do Estado na economia, foi o tempo da alteração da legislação laboral pondo fim a uma situação arcaica e incompatível com a União Europeia que causava salários em atraso e desemprego muito elevado".
"Foi o tempo de alteração da situação agrária pondo fim às ocupações das terras, foi a reforma do sistema educativo que aumentou a escolaridade obrigatória de seis para nove anos. Foi o tempo da reforma das Forças Armadas, da reforma do sistema fiscal português, a aprovação da Lei de Bases da Saúde que permitiu a abertura do setor à iniciativa particular", completou.