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Medo e receio. Portugueses já temem futuro no Reino Unido

O que acontece agora às centenas de portugueses a viver no Reino Unido? O Notícias ao Minuto falou com alguns emigrantes portugueses.

Medo e receio. Portugueses já temem futuro no Reino Unido
Notícias ao Minuto

09:54 - 24/06/16 por Andrea Pinto

País Brexit

O Reino Unido é principal destino da emigração portuguesa. Uma situação que pode vir a alterar-se, dado o novo estatuto do país, que acaba de decidir que quer sair da União Europeia.

A decisão preocupa não só britânicos, mas sobretudo emigrantes a viver no país. Entre eles estão centenas de portugueses, que se mudaram para o Reino Unido à procura de uma vida melhor e que agora se veem a braços com um novo clima que pode obrigá-los a regressar a casa, sem que o tivessem previsto.

É o caso, por exemplo, de Tiago Carvalho, que mudou há três meses para o pais. Ainda sem trabalho certo, este português de 31 anos, considerou que o mais provável é ter de regressar a casa, dado que esta decisão implicará “mais burocracias, com os vistos e autorizações”, o que lhe dificultará a permanência no país.

Ódio pelos emigrantes” pode levar a saída

Laura Seixas é produtora e realizadora de cinema e CEO da uma companhia de produção no Reino Unido. Embora se encontre numa situação mais estável, refere ao Notícias Ao Minuto que o seu futuro é ainda “incerto”.

“Neste momento não sei mesmo [o que vou fazer]. Eu tenho aqui uma companhia de produção portanto não posso deixar tudo e ir me embora. Mas tudo vai depender das negociações agora e se este ódio pelos imigrantes é só passageiro”, afirma a portuguesa de 25 anos, que considera que a votação do Brexit é o resultado “infelizmente” de “grande ignorância da parte dos eleitores” e por “motivos racistas”.

Novos preços irão compensar?

Joana Teixeira está a trabalhar numa agência de comunicação desde dezembro de 2013, em Londres. A sua situação laboral estável deixa-a mais descansada quanto à sua permanência no país, mas há questões que ainda deixam esta portuguesa receosa do que o futuro lhe espera.

Com uma curso superior e um salário acima do valor mínimo anual, Joana Teixeira está crente de que conseguirá pedir facilmente um visto para permanecer e trabalhar no país. A jovem queixa-se porém da falta de informação e questiona se as mudanças que advêm da saída da União Europeia continuarão a ser vantajosas para os emigrantes.

“O que me preocupa neste momento é estou ainda chocada, confusa e sinto-me desinformada, porque não sei o que vai acontecer nem o que devo ou não fazer. O Brexit vai afetar o preço dos voos para Portugal. O valor da libra vai descer e não sei se não chegará a uma altura em que já não compensa cá estar e no nível de vida. A vida aqui já é suficientemente cara, por isso tenho medo que o preço das rendas, dos bens essenciais, dos transportes aumente ainda mais”, confessa.

Sair não é opção

Tiago Almeida salienta também a falta de informação dada às pessoas. Com 35 anos, este gestor, a trabalhar na BBC, vive há três no Reno Unido. Embora acredite que “nenhum estrangeiro que trabalha e paga impostos vai ser obrigado a sair”, a verdade é que o clima “é de incerteza”.

“A campanha para sair [da União Europeia] nunca apresentou resposta para como isto funcionaria e agora que a economia começa a sofrer com este cenário as pessoas estão nervosas”, afirma, considerando que o resultado desta votação “tem que ver com a imigração e como certas áreas do Reino Unido que responsabiliza os imigrantes de algumas situações”.

Apesar do clima de “tensão”,Tiago Almeida não pensa em sair do país, até porque “vivo em Londres onde há mais estrangeiros que locais”.

Nada vai acontecer do dia para a noite

Tal como Tiago, também Sara Rocha, designer, acredita que por trabalhar e fazer descontos, que terá “algum benefício”. Mas há sempre dúvidas que persistem.

“Não tenho anos suficientes para pedir residência permanente ou sequer sou casada. Não sei como pessoas no meu estado serão abordadas ou que benefícios teremos. Terei de pedir VISA? A minha companhia pondera pagar-me esses custos? Que dificuldades irei encontrar na movimentação in and out?”, questiona a jovem de 29 anos.

No entanto, mantém uma réstia de esperança. 

“Nada vai acontecer do dia para a noite e acredito que as melhores medidas irão ser tomadas”, afirma, referindo que acredita que “as coisas possam vir a ficar mais estáveis e justas”.

Clima contra emigrantes deixa portugueses receosos

Nas ruas, contam-nos estes portugueses já se ouve os britânicos “a celebrar”, e acresce o receio de uma atitude racista contra os emigrantes.

"Já me sinto um pouco receosa a andar na rua. Na minha cabeça já existe possibilidade de me abordarem por não ser inglesa e me insultarem", afirma Joana Teixeira, que diz que não se sente “bem-vinda” e que está a “a incomodar quando sei que estou a descontar e a contribuir para o país”.

Já Laura fala mesmo em atitudes racistas.

“Hoje de manhã a caminho do trabalho já tive uns ingleses a abanar a bandeira inglesa (ironicamente não a do Reino Unido) a celebrar a saída e a dizerem para ir para casa”, conta a jovem que admite que “ninguém quer ficar num país em que não é bem-vindo”

Já Sara, embora admita alguma tensão, considera que é algo natural.

“É compreensível. Se fosse para a Praça do Comércio e estivesse rodeada de 95% emigrantes e 5% de portugueses, como se sentiria? Somos um povo que recebe bem os estrangeiros/turistas porque não os temos la plantados constantemente. E porque nos trazem dinheiro”, remata.

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