Pedofilia na Igreja. "Conclave não foi passo em frente, foi marcar passo"
Miguel Sousa Tavares lamenta que a Igreja não tenha tomado medidas mais incisivas para proteger os menores dos abusos sexuais do clero.
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País Miguel Sousa Tavares
Os escândalos de pedofilia na Igreja levaram o Papa Francisco a convocar uma cimeira considerada histórica, no Vaticano, onde estiveram 190 representantes da hierarquia religiosa e 114 presidentes ou vice-presidentes de conferências episcopais de todo o mundo.
Miguel Sousa Tavares comentou o conclave, que se reuniu durante os últimos dias da semana passada, tecendo-lhe algumas críticas, apesar de se ter tratado, na opinião do comentador, de uma cimeira com uma intenção “muito séria” da parte do Papa. Contudo, no entender do escritor e jornalista, Francisco “enfrentou uma grande oposição dos bispos”.
“Aliás, pareceu-me que era claro que os bispos não estavam dispostos a submeter-se à vontade do Papa”, constatou, sinalizando que Francisco “mudou claramente” desde que foi ao Chile no ano passado, altura em que “foi confrontado com casos de pedofilia a que não ligou”.
Para Sousa Tavares, havia duas coisas essenciais neste conclave. Uma delas era que a Igreja se comprometesse a não voltar a dissimular mais casos, a escondê-los. “E o Papa comprometeu-se com isso”, sublinhou.
Outro ponto essencial era que a Igreja “não guardasse para si a punição dos abusadores, que os entregasse à justiça dos homens”. “O Papa disse que a Igreja fará tudo o que for possível para entregar os abusadores às autoridades, o que é diferente de dizer: ‘entregaremos todos’”, referiu.
Por outro lado, prosseguiu o comentador da TVI, havia aspetos importantes com os quais a Igreja não se comprometeu. No entendimento do jornalista, era importante garantir “que os padres envolvidos em abusos eram expulsos do sacerdócio”. E, quanto a isso, criticou, “nada foi dito”.
Do mesmo modo, continuou, também não foi dito que era preciso garantir “que os bispos que os encobrissem eram demitidos de funções e que os arquivos do Vaticano - onde estão todos os crimes que foram cometidos até agora - seriam abertos publicamente e entregues às autoridades”.
Tudo isso leva o comentador a concluir que o conclave “não foi um passo em frente, foi marcar passo”.
No que a Portugal diz respeito, Sousa Tavares diz ter ficado “ainda mais preocupado ao ouvir o cardeal patriarca D. Manuel Clemente dizer que as regras de 2002 serão corrigidas, quer dizer que afinal não são suficientes” e que “os pouquíssimos casos serão objeto de novas estatísticas que, talvez, venham a ser divulgadas e que no futuro será participado às autoridades os abusos mediante consentimento da vítima e da família”.
Ora, tendo em conta “o poder que a Igreja tem sobre as vítimas e as famílias, é muito fácil prever que lhes dê a volta”, vaticinou.
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