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"Não vamos abandonar a Europa. Vamos continuar a ter valores europeus"

A embaixadora britânica em Portugal, Kirsty Hayes, mostra-se confiante de que o Reino Unido e a União Europeia vão chegar a um acordo. Destaca que ambos os lados só têm a beneficiar com uma relação próxima e sublinha a importância de estabelecer um acordo em termos de segurança.

"Não vamos abandonar a Europa. Vamos continuar a ter valores europeus"
Notícias ao Minuto

08:00 - 04/02/18 por Fábio Nunes

Mundo Kirsty Hayes

Em dezembro foi aprovada a passagem à segunda fase das negociações do Brexit. Um passo importante. A Comissão Europeia considerou que tinham sido atingidos “progressos suficientes”, nomeadamente no que toca aos direitos dos cidadãos, a questão fronteiriça entre a Irlanda e a Irlanda do Norte e o valor que Londres terá de pagar para sair da União Europeia. A segunda fase das negociações arranca já esta semana. 

“Obviamente, em dezembro ficámos muito contentes por atingir este ponto de progresso suficiente aos olhos da Comissão Europeia. Foi bastante difícil chegar aqui. Tínhamos sempre dúvidas sobre esta estratégia de discutir as coisas relacionadas com a nossa saída de uma forma totalmente separada das questões de futuro. É muito difícil falar sobre as questões das duas Irlandas, sem falar sobre o futuro. Em particular, ficámos muito satisfeitos com a decisão sobre os cidadãos da UE no Reino Unido e os britânicos em Portugal e noutros países. Acho que conseguimos um acordo bastante amplo que pode dar muita confiança a ambas as comunidades”, disse Kirsty Hayes, a embaixadora britânica em Portugal, numa conversa com o Notícias ao Minuto.

No entanto, a próxima fase das negociações promete ser mais difícil como já avisou Michel Barnier, o negociador do Brexit da UE. Kirsty Hayes também tem consciência disso, até porque em março de 2019 é a data limite para chegar a um acordo, ao qual se vai seguir o período de transição.

“Barnier tem razão em dizer que esta segunda fase vai ser mais difícil. Talvez mais difícil do que a primeira fase, porque até este ponto só falámos de três assuntos principais e batalhámos em duas áreas, nos direitos dos cidadãos e na questão da Irlanda do Norte. A segunda parte vai ser mais ampla, com mais áreas para negociar. Mas sentimos um grande empenho por parte dos negociadores, uma abordagem muito ativa. Todos querem obter um acordo que seja bom para as duas partes”, afirmou a diplomata.

Uma das questões que mais parece gerar preocupação no Reino Unido e nos Estados-membros. Portugal tem uma comunidade portuguesa bastante grande a viver no Reino Unido e, por outro lado, também há uma comunidade significativa de britânicos a residir em Portugal. Os dois países têm todo o interesse numa solução que não prejudique as duas comunidades.

“De ambas as partes, tem havido sempre um princípio de cidadãos em primeiro lugar. Ou seja, este foi o foco primário durante esta primeira parte das negociações. A comunidade portuguesa pode continuar a viver no Reino Unido. Introduzimos uma nova categoria de residência, o chamado Settled Status, e seria muito fácil obter este estatuto. Os cidadãos podem continuar a trabalhar e a receber os benefícios como até agora. A questão a negociar é a da situação das pessoas que queiram ir para o Reino Unido depois do Brexit”, realçou a embaixadora, acrescentando que o seu país vai continuar a “precisar das pessoas talentosas”.

“Neste momento beneficiamos muito da presença da comunidade portuguesa no Reino Unido. É difícil saber com certeza, mas temos cerca de 400 mil portugueses no Reino Unido e muitos são pessoas qualificadas, médicos, enfermeiros, pessoas que trabalham nos serviços financeiros. Esta comunidade tem tido um contributo enorme, não apenas em termos económicos mas também em termos culturais e sociais. A primeira-ministra já deixou claro que vamos continuar a precisar de pessoas talentosas e vamos falar com o Governo português e com os outros governos para encontrarmos o melhor quadro de imigração para o futuro”.

Outro dos pontos que tem gerado divergência entre o bloco britânico e o bloco europeu, prende-se com o estabelecimento de um acordo comercial. As negociações nesta segunda fase serão mais incisivas neste aspeto. “Estamos muito otimistas sobre as expectativas para concluir um acordo ambicioso e amplo em termos comerciais com a UE. Infelizmente, estamos a ouvir algumas vozes na Europa que estão a dizer que não é possível incluir os serviços financeiros porque estão intrinsecamente ligados às quatro liberdades da União Europeia”, disse Kirsty Hayes.

No entanto, a embaixadora britânica lembrou que não foi tão difícil estabelecer o TTIP, o acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos. “Para mim é um pouco difícil entender como foi possível estabelecer um acordo com um país terceiro, mas não com um país como o nosso, que já tem regras inteiramente alinhadas com as da UE porque somos Estados-membros. Já deixámos claro que não ficaremos no mercado único e isso porque respeitamos o facto de o mercado único ter regras fundamentais e não é possível haver exceções.”.

Nos últimos tempos foi referida a possibilidade de um segundo referendo que pudesse confirmar a reversão do Brexit, mas Kirsty Hayes torce o nariz a esta possibilidade, até tendo em conta o momento das negociações.

“A primeira-ministra tem sido muito clara sobre este ponto. Acho que falar num segundo referendo num momento tão crítico das negociações não ajuda ninguém. O importante é olhar para o futuro e para o relacionamento que queremos. Para mim não é uma possibilidade neste momento”, assegurou.

O futuro da relação britânica com a UE e com Portugal

Kirsty Hayes referiu ao Notícias ao Minuto o que gostava que fosse atingido na segunda fase das negociações.

“Espero que tenhamos no futuro um relacionamento muito próximo e muito forte. Gostaria de ver um acordo muito amplo em termos comerciais que permita um crescimento económico da Europa mas também do Reino Unido. Mas mais do que um acordo comercial, temos de conseguir um acordo em termos de segurança. O mundo é muito perigoso atualmente. Partilhamos não apenas interesses mas, infelizmente, desafios e ameaças. E para a luta contra o terrorismo é muito importante conseguirmos um acordo em termos de segurança interna. Temos relacionamentos muitos próximos com aliados fora da UE, como os Estados Unidos. Precisamos também de encontrar um novo quadro de colaboração na área dos Negócios Estrangeiros e na área de Defesa e segurança externa”, salientou

A diplomata rejeita ver o Brexit como um abandono por parte do Reino Unido. “Esta não é uma questão de abandonar a Europa. Vamos continuar a ser um país europeu com valores europeus e muitos empenhados no futuro e no sucesso da UE, que vai continuar a ser o nosso mercado mais importante. Partilhamos tanta história e tantas ligações individuais e governamentais que não há possibilidade de abandonar e nem há vontade de fazê-lo”.

Kirsty Hayes também falou sobre o futuro das relações entre o Reino Unido e Portugal. “Neste momento estamos a investir muito no nosso relacionamento bilateral com Portugal. Durante o nosso tempo na União Europeia, naturalmente como acontece noutros países, muitas funções que eram bilaterais tornaram-se mais internas da União Europeia, eram tratadas em Bruxelas e não em Lisboa. Temos esta história tão única e tão longa e gostávamos de revitalizá-la. Partilhamos tantos valores e interesses”.

Tanto a comunidade portuguesa no Reino Unido como a comunidade britânica em Portugal deverão continuar a ter um papel decisivo neste sentido. “Acho que as comunidades são muito importantes para a ligação entre os nossos países e espero que possamos continuar a ver comunidades fortes, vibrantes e confiantes e desta maneira podemos colaborar, não só ao nível governamental, mas também pessoa a pessoa, família a família”, sublinhou Kirsty Hayes.

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