Turquia celebra um ano do golpe fracassado de 15 de julho
A Turquia celebra esta semana o primeiro aniversário do fracassado golpe militar de 15 de julho, que provocou cerca de 300 mortos e 2.000 feridos e motivou uma vasta purga política no país, que ainda prossegue.
© D.R.
Mundo Conflito
O dia da violenta tentativa para derrubar o Presidente islamita-conservador Recep Tayyip Erdogan, que se prolongou por apenas algumas horas, foi declarado pelo Governo de Ancara Dia da Democracia e da Unidade Nacional e será celebrado sob o estado de emergência em vigor desde 20 de julho de 2016 e que tem sido prorrogado em cada três meses.
Na terça-feira, no início das celebrações, que se prolongam até domingo, Erdogan e o primeiro-ministro, Binali Yildirim, visitaram os túmulos dos mortos na noite de 15 para 16 de julho de 2016.
Nessas horas decisivas, o apelo do Presidente Erdogan à mobilização popular, após surgir nos ecrãs da televisão através de um telemóvel, levou para as ruas milhares de pessoas, que contribuíram para travar a intentona, apesar de numerosas baixas civis.
O chefe de Estado, que passava férias na costa do Mar Negro, acabou por sair do hotel onde se encontrava e dirigir-se para Istambul. Apenas uma hora depois, um comando golpista chegou de helicóptero e assaltou o edifício, matando dois polícias.
No início das celebrações oficiais, e para além das instituições estatais, participaram ONG, círculos empresariais, partidos políticos e mesquitas.
No balanço final, o Governo refere-se a 249 mortos, incluindo 62 polícias, e ainda 24 baixas entre os golpistas. Todos os partidos turcos com representação parlamentar condenaram a intentona.
O Governo turco tem acusado a rede do predicador islamita Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos desde 1999, de ter organizado o sétimo golpe de Estado desde a fundação da República da Turquia (1923), e desencadeou uma repressão sem precedentes contra os alegados membros desta organização.
Aliado decisivo na ascensão e na tomada do poder em 2002 pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento de Erdogan (AKP, de tendência islamita e conservadora), Gülen e o então ainda primeiro-ministro entraram em rutura em 2013, com o predicador a ser acusado de tentativa de "formação de um Estado paralelo" através da sua poderosa rede "Movimento Hizmet" (O Serviço).
As vagas de detenções e despedimentos prosseguem desde julho de 2016 sem interrupção, atingindo também diversos setores sem ligação ao clérigo islamita -- incluindo jornalistas, académicos, políticos da oposição, ativistas de ONG, juízes -- e suscitando fortes críticas internas e internacionais.
Em termos de repressão política, o caso mais visível relaciona-se com a formação de esquerda e pró-curda Partido Democrático dos Povos (HDP), a terceira força política no parlamento de Ancara, com a prisão de diversos deputados do partido e dos seus dois copresidentes, Selahattin Demirtas e a ativista Figen Yüksekdag.
De acordo com os números de organizações independentes, desde o golpe já foram despedidas 138.148 pessoas (funcionários públicos, professores, académicos, juristas, militares), e registadas mais de 115.000 detenções e cerca de 55.000 prisões efetivas.
Quase 2.100 escolas e universidades foram encerradas, 3.271 académicos perderam o emprego, 4.424 juízes e procuradores foram demitidos, 149 media (incluindo informáticos) foram fechados e 269 jornalistas detidos.
A Turquia aguardava um apoio incondicional do ocidente após o golpe, mas a reação não surgiu de imediato, e as purgas desencadeadas, para além das declarações inflamadas de Erdogan, instalaram um clima de grande tensão.
O desígnio do Presidente turco em reforçar os seus poderes no referendo de abril deste ano, que venceu na sequência de uma campanha verbal de rara violência com diversos países europeus -- que recusaram a entrada de responsáveis turcos para contactos com as comunidades locais no âmbito desta campanha --, teve implicações muito negativas num já complexo processo de adesão da Turquia à União Europeia (UE) iniciado em 2005.
Erdogan acusou os dirigentes europeus de "práticas nazis" e, no auge da crise, diversos responsáveis da UE interrogaram-se sobre a oportunidade de prosseguir o processo de adesão da Turquia.
As relações com os EUA também se deterioraram no consulado de Barack Obama e o aparente entusiasmo com que Ancara recebeu a eleição de Donald Trump depressa esfriou quando este prolongou a política do seu antecessor na Síria, em particular o apoio militar às milícias curdas.
Em paralelo, os apelos de Ancara a Washington para a extradição de Fethullah Gülen também têm sido ignorados pela atual administração da Casa Branca.
Numa sociedade muito dividida, como indicou o referendo de abril sobre o reforço dos poderes presidenciais, e um ano depois do golpe falhado, permanecem as tensões e a repressão interna neste estratégico país euroasiático, num contexto regional pouco favorável.
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