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Colégio conservador da Hungria acusado de passar "ideias iliberais"

O colégio conservador MCC, apoiado financeiramente pelo governo húngaro de Viktor Órban, é acusado por analistas de ser um local para passar "ideias iliberais" e "autocráticas" a crianças e jovens, mas a direção fala em tradição e história.

Colégio conservador da Hungria acusado de passar "ideias iliberais"
Notícias ao Minuto

10:59 - 05/05/24 por Lusa

Mundo Hungria

É uma quarta-feira à tarde e os amigos Balázs e Richard estão a estudar Matemática no edifício-sede do Colégio Mathias Corvinus (MCC, na sigla inglesa) em Budapeste, instituição que frequentam desde os 11 anos. Hoje, com 18 anos, partilham a paixão pelos números e os valores conservadores que regem o MCC.

"O MCC alinha-se com os meus valores e com as minhas visões mais conservadoras, como da família tradicional", diz Richard à Lusa em Budapeste, numa opinião que é corroborada pelo amigo Balázs, que acrescenta "concordar com a maioria das coisas" defendidas pela instituição de ensino.

Sublinhando não estar muito a par da política húngara, Balázs e Richard destacam que, no MCC, "o ensino é mais versátil e diverso", embora a oferta curricular "não contemple muitas aulas sobre política".

Sentada numa secretária ao lado dos dois amigos está Carnegie, de 19 anos, que frequenta o MCC há quatro anos após ter chegado à instituição de ensino motivada pela mãe.

"O que mais gosto do MCC é o ambiente, as pessoas são muito motivadoras e prestáveis", diz Carnegie, referindo à Lusa ser "católica e conservadora".

Também com 19 anos, Gábor admite não ser tão crente como os seus familiares, mas salienta que, para si, "a família é muito importante". No MCC, do que mais gosta é da "partilha de ideias" durante as aulas, nas quais são abordadas "a filosofia e as motivações de diferentes partidos" políticos.

Orsolya, de 25 anos, está num programa diferente dos outros jovens, já dirigido a investigadores que frequentam universidades (o MCC não dá grau académico), e conta à Lusa que o mais importante, a seu ver, "é a comunidade".

"Eu não sigo estes valores [conservadores] e não acho que sejam muito visíveis nos alunos ou professores, talvez só nos programas ou, por exemplo, nos livros ou autores que escolhem", adianta.

Precisamente no dia em que a Lusa visitou o MCC em Budapeste, foi promovido um debate sobre migrações sobre "Guardar as Portas da Europa", que contou com a presença do antigo diretor executivo da Frontex e candidato do partido francês de extrema-direita Rassemblement National às eleições europeias, Fabrice Leggeri.

"O MCC tem duas bandeiras: um é o facto de ser dito como privado e ser financiado por dinheiros públicos e, depois, é um vetor muito importante na construção da influência iliberal húngara ou na exportação do iliberalismo", retrata o investigador Bulcsú Hunyadi do Instituto do Capital Político, também falando com a Lusa em Budapeste.

De acordo com o perito em radicalização e extremismo, "a Hungria e o governo húngaro têm investido uma enorme quantidade de dinheiro na construção da sua rede de influência, um pouco semelhante às redes de influência pró-russa, para através desta narrativa discursiva exportar valores iliberais e práticas iliberais para outros países".

Zsuzsanna Szelenyi, atual responsável do Instituto de Democracia da Universidade Central Europeia (instituição financiada por George Soros, filantropo e rival de Órban), descreve o MCC como um organismo da "ala intelectual do Fidesz [partido nacional-conservador no poder] para tornar este pensamento e esta mentalidade mais aceitáveis".

"É uma ideologia fortemente autocrática", acusa Zsuzsanna Szelenyi, falando em ideias ali defendidas como de "fronteiras fechadas e de nenhuma relação com a sociedade civil".

Em entrevista à Lusa em Budapeste, o diretor-geral do MCC, Zoltán Szalai, rejeita as acusações, falando antes numa "instituição que apoia talentos", isto "idealmente a partir dos 10 anos e até ao fim dos seus estudos de doutoramento".

"Claro que temos valores básicos -- acreditamos na história e na tradição húngara -- e esses valores são chave na forma como organizamos o nosso sistema educativo", argumenta Zoltán Szalai, que também é editor e diretor da revista conservadora Mandiner.

Zoltán Szalai questiona ainda: "Penso que podemos ter um debate se temos dois géneros [masculino e feminino] e não 91, mas isso é ser conservador?".

Atualmente, o MCC tem cerca de 7.000 alunos por ano, selecionados entre 35.000 candidaturas anuais, num orçamento anual de cerca de 20 milhões de euros, dos quais 10% (cerca de dois milhões de euros) são verbas públicas.

Também em entrevista à Lusa, o secretário de Estado da Comunicação Internacional, Zoltán Kovács, rejeita as críticas e fala, antes, numa instituição que "exporta formação".

"Podem chamar-lhe iliberal, mas isso não tem qualquer significado real na Hungria porque nós chamamos-lhe democrata-cristão e conservador", adianta Zoltán Kovács à Lusa.

Leia Também: Europeias na Hungria marcadas por medo e "superestrela" que ameaça Orban

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