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"Disseram-me que a vida num campo de migrantes era melhor do que Beirute"

Jihad Michlawi é um dos sobreviventes da embarcação que naufragou na costa da cidade síria de Tartus e vitimou, pelo menos, 94 pessoas.

"Disseram-me que a vida num campo de migrantes era melhor do que Beirute"
Notícias ao Minuto

20:32 - 28/09/22 por Notícias ao Minuto

Mundo Migrantes

Jihad Michlawi trabalhava como chefe de cozinha na capital do Líbano, Beirute. Com o agravar da crise, decidiu fazer - após insistência de amigos - a perigosa viagem que liga o país à Europa, através do Mar Mediterrâneo. Agora é um dos sobreviventes da embarcação que naufragou, na quinta-feira, na costa da cidade síria de Tartus e vitimou, pelo menos, 94 pessoas.

"Algumas pessoas que chegaram [à Europa] disseram-me que a vida num campo de migrantes europeu era melhor do que a vida no centro de Beirute, e que até a comida era melhor", disse o homem de 31 anos à agência de notícias The Associated Press.

Michlawi disse ter pagado milhares de dólares a um contrabandista, que descreveu como um "monstro", e abandonou Beirute em direção à cidade libanesa de Tripoli durante a noite, num carro com vidros fumados.

Juntamente com outras cinco pessoas foi levado para um pomar, onde já se encontravam dezenas de pessoas amontoadas em camiões cobertos com lonas, mas foi quando chegou à costa e avistou o pequeno barco que os iria transportar que começaram as dúvidas.

"Nesta altura, pensámos que mais valia irmos uma vez que já lá estávamos, mas provavelmente devíamos ter considerado o perigo em que nos colocávamos", contou. 

O motor do barco começou a mostrar problemas logo no primeiro dia de viagem e deixou de funcionar no dia seguinte. Segundo Michlawi, foram várias as pessoas que tentaram mover-se à volta do barco para evitar que naufragasse devido à maré. "A maré começou a abanar a embarcação apinhada, à medida que os passageiros ansiosos começaram a entrar em pânico", recordou.

Dezenas de pessoas acabaram por cair ao mar, entre as quais um bebé que, segundo o sobrevivente, não devia ter mais de dois meses. Nesta altura, algumas começaram a tentar nadar até à costa. 

Michlawi conseguiu chegar à costa de Tartus, na Síria, após horas de nado, onde foi encontrado por um casal de idosos. "Gritei: 'Por favor não me deixes' e caí na areia. Ela deu-me água, e ouvi o homem ao seu lado dizer que eu estava a tossir sangue, e depois desmaiei e acordei no hospital de Tartus", explicou.

Segundo as autoridades sírias, cerca de 150 pessoas, principalmente libaneses e refugiados sírios e palestinianos, estavam a bordo do pequeno barco que tinha como objetivo chegar a Itália, Chipre ou outros países europeus.

Foi o naufrágio com mais vítimas mortais dos últimos anos entre a Síria, devastada por mais de 11 anos de conflito, e o Líbano, que o Banco Mundial diz estar no meio de uma das piores crises económicas mundiais desde 1850.

Leia Também: Número de migrantes mortos na costa da Síria sobe para 94

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