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São-tomenses queixam-se do aumento do custo de vida e "salários fracos"

Do vendedor ambulante aos funcionários públicos, os são-tomenses reclamam do aumento de preços dos produtos no mercado e a diminuição do poder de compra, enquanto o salário "ainda permanece baixo".

São-tomenses queixam-se do aumento do custo de vida e "salários fracos"
Notícias ao Minuto

09:51 - 13/04/22 por Lusa

Mundo São Tomé

O saco de farinha de trigo e caixa de esparguete subiram de 190 para 280 dobras (8 para 12 euros), enquanto o saco de arroz que era vendido por 480 dobras, subiu para 500 dobras (19 para 20 euros).

O óleo alimentar que era vendido a 40 dobras por litro, subiu para 60 (1,6 para 2,4 euros), enquanto a barra de sabão subiu de 35 para 55 dobras (1,4 para 2,2 euros).

O pão não subiu de preço, mas diminuiu a quantidade de massa e está mais leve.

Há mais de duas semanas que o Governo são-tomense prometeu medidas para travar o aumento de preços, mas até ao momento não foram aplicadas.

Na entrada do Mercado Cocô-Cocô, no centro da cidade de São Tomé, Marcelo Lima, funcionário público de 32 anos, contou à Lusa o seu olhar sobre os preços no mercado.

"Eu vejo que há uma frustração. Os produtos aumentaram, mas o nosso salário, que é fraco, ainda permanece baixo. Com está a situação, vai aumentar a violência e o roubo", disse.

Marcelo Lima referiu que "enquanto não chegam as medidas do Governo para ajudar a população", uma das opções é apostar no consumo dos produtos locais e que no seu caso decidiu aderir ao apelo do executivo para o cultivo doméstico.

"No meu quintal, tenho uma horta familiar, como foi recomendado, e, portanto, eu e a minha família temos a nossa banana que nunca falta e outros produtos e vamos ultrapassando estes problemas", referiu.

No passeio do mercado municipal, também no centro da cidade de São Tomé, Quiqui Martins tem a sua banca móvel de acessórios de beleza e cosméticos e enquanto fala com Lusa está atento à polícia de segurança pública que poderá aparecer de surpresa para reprimir a venda nos passeios da capital.

Questionado pela Lusa sobre a situação económica da população, o vendedor propôs "um exemplo muito simples" para explicar a realidade agravada pelo aumento do preço do combustível.

"Alguém que mora na Praia Gâmboa [a 8 km da capital], trabalha na cidade, recebe mensalmente 1.200 dobras [cerca de 50 euros]. Fazendo as contas, ele gasta 35 dobras [cerca de 2 euros] por dia para pagar transporte, vezes 30 dias, dá mais de mil dobras: quer dizer que para o Estado tentar equilibrar as coisas tem também de aumentar o nível salarial", disse.

No interior no Mercado Cocô-Cocô, uma mulher de 60 anos que diz ser mãe de 10 filhos, contou que os educou a todos com o fruto das vendas que fez durante vários anos no Mercado Municipal, conhecido como "Feira do Ponto", que foi encerrado pelo atual Governo.

"Eu vendi no mercado feira ponto, criei os meus filhos. O pai morreu em Angola, eu criei os meus 10 filhos, eu sozinha, quando vendia no mercado feira de ponto", contou, recordando que ali as vendas eram melhores.

A mulher, que recusou identificar-se, mostrou-se "revoltada" e descrente em todos, por isso não hesitou em desabafar: "Quem tem dinheiro é que está a prejudicar os pequenos, procuram formas nas eleições e pedem amor do povo para votar neles para subir para bons trabalhos e ganhar o pão de cada dia, mas quando eles chegam lá, mandam prejudicar o povo".

"Estou a chegar agora do Mercado de Bobô-Forro, lá eu não vendi nada desde manhã", acrescentou, enquanto colocava na mesa alguns produtos hortícolas ao mesmo tempo que criticava a transferência das feirantes do mercado Municipal para aquele local.

A vendedora lamentou ainda a falta de emprego para os jovens, incluindo dois dos seus filhos, que terminaram recentemente o ensino secundário e ainda o indeferimento do consulado de Portugal aos pedidos apresentados pelos seus filhos, que pretendiam emigrar para Portugal.

Já no mercado de Bobô-Forro, Belmira Varela contou à Lusa que se desloca diariamente de Lembá à capital para a comercialização do pescado, que muitas vezes toma a crédito junto dos pescadores.

Mãe de cinco filhos, também lamentou que "o custo de vida está um bocadinho difícil".

"Às vezes a gente vem para o mercado vender este peixe, mas o preço a que compramos ainda se perde dinheiro e temos de "pedir fiado" ao pescador para vendermos no outro dia porque não conseguimos ter lucro", contou.

"O custo de vida tem estado a ser muito elevado e com a situação atual que nós temos no país eu creio que o que ganhamos dia a dia não é satisfatório, não se consegue fazer uma compra de género alimentício para manter uma semana. O que se comprava para uma semana agora só faz dois dias", acrescentou outro cidadão, que pediu para não ser identificado.

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