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Política internacional deve combater crise climática para evitar guerra

A política internacional deve focar-se no combate à crise climática, disse à Lusa o catedrático Viriato Soromenho-Marques, considerando que esta é a raiz de todas as crises que o mundo enfrenta e que pode conduzir a outra grande guerra.

Política internacional deve combater crise climática para evitar guerra
Notícias ao Minuto

11:27 - 12/06/21 por Lusa

Mundo Viriato Soromenho-Marques

"Se não colocarmos o ambiente e o clima no centro do sistema internacional não vamos conseguir resolver corretamente os conflitos que temos por motivos económicos, por motivos financeiros, por motivos comerciais", defendeu.

Em entrevista à Lusa a propósito dos desafios que a humanidade enfrenta na sequência da pandemia de covid-19, o professor de Filosofia Política e do Ambiente questionou como é possível continuar a falar-se em crescimento quando já foram ultrapassados "todos os níveis de resiliência" do ecossistema global.

"Precisamos que as questões do ambiente e do clima se tornem o grande fator de reconstrução da ONU [Organização das Nações Unidas] e das organizações internacionais e do direito internacional público", defendeu.

"Se não colocamos o ambiente como fator central, vamos ter disputas e protecionismo comercial. E outra coisa muito importante, a questão da segurança militar, a questão da corrida aos armamentos, porque não podemos resolver os problemas do ambiente através da guerra. Tem de ser através da paz e da cooperação", indicou.

Para Viriato Soromenho-Marques, há "vários fatores de perigo" que não devem ser ignorados: "Estamos no final de um período que não está a conseguir resolver os problemas que criou".

"Ou vamos entrar numa fase de rutura do sistema, em que, não havendo alternativa, há rutura e isso significa que vamos ter violência, que vamos ter guerra, que vamos ter conflito, que vamos ter mais sofrimento. Ou então, perante estes desafios, vamos conseguir encontrar as respostas", observou, traçando um paralelismo com os "sinais de fadiga", de saturação e de "incapacidade dos governos" e do sistema político que conduziram à I Guerra Mundial (1914-1918), antecedida por uma era liberal, "de mercado único".

As respostas, advogou, deverão surgir através de "políticos reformadores" e de mudanças nas instituições, mas podem ser também impulsionadas por jovens como a ativista sueca Greta Thunberg e pelo despertar de consciências numa geração cujo futuro é pautado pela incerteza.

"Onde está o perigo, está a esperança!", vaticinou, citando o filósofo e poeta alemão Friedrich Hölderlin.

Na opinião de Viriato Soromenho-Marques, serão pessoas com forte consciência crítica e com "forte aposta na sua capacidade individual de fazer a mudança" que vão criar os novos partidos do futuro de que as sociedades precisam, as novas associações, os novos sindicatos ou associações de proteção dos direitos dos trabalhadores e organizações não governamentais (ONG). "Precisamos desses instrumentos coletivos", frisou.

Viriato Soromenho-Marques considerou igualmente que o novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pode representar um sinal de esperança, no plano político, pelas propostas que tem apresentado na área fiscal e pelo facto de ter convidado a China e a Rússia para uma videoconferência, em abril, que reuniu "as maiores áreas económicas e políticas do mundo" com um objetivo de combate às alterações climáticas.

"Isto é um aspeto que me parece positivo, porque se tivermos uma grande guerra, outra vez, será o sinal de fracasso total", sustentou, considerando que a possibilidade não deve ser descartada.

"Há aqui um conjunto de fatores, até psicológicos, nas lideranças, que não podemos subestimar. Como é que foi possível a eleição do Trump e a quase reeleição do Trump? Como é que foi possível o Bolsonaro? Estamos a falar de pessoas que ultrapassam os mínimos olímpicos da decência", apontou o académico, que no ano passado publicou um ensaio intitulado "Na Encruzilhada do Presente/Futuro - Nova Habitação da Terra ou Niilismo Ontológico", no qual discorre sobre a condição humana, a pandemia de covid-19 e a crise ambiental e climática.

Leia Também: Soromenho-Marques considera que a UE continua "sem saber para onde vai"

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