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Familiares de vítimas mortais nos Camarões exigem funerais tradicionais

O sistema de saúde e de combate à Covid-19 nos Camarões é alvo de protestos e tem vindo a sofrer a pressão crescente dos familiares de vítimas da pandemia, que exigem a celebração de funerais tradicionais.

Familiares de vítimas mortais nos Camarões exigem funerais tradicionais
Notícias ao Minuto

14:06 - 14/10/20 por Lusa

Mundo Covid-19

Tem havido "muita resistência", afirmou, em declarações à agência Associated Press (AP), Eric Tandi, um médico integrado nos serviços do ministério camaronês da Saúde dedicados ao combate à doença. Os Camarões registam mais de 400 mortes associadas à infeção com o vírus SARS-Cov-2.

Os protestos resultam da forte influência que os antepassados ainda exercem na vida quotidiana das pessoas daquele país da África Central, particularmente no seio das comunidades bantu tradicionais na parte ocidental dos Camarões.

As comunidades bantu acreditam que as mortes devem ser celebradas, tal como os nascimentos e os casamentos. Os funerais são tipicamente realizados às sextas-feiras e envolvem "muita comida, muita gente a chorar, muitas bebidas e multidões a assistir ", explicou à AP Paul Nchoji Nkwi, professor de Antropologia na Universidade de Yaoundé.

"É uma celebração da vida da pessoa, que abandona o palco com aplausos", acrescentou o antropólogo. "A Covid-19 parou esse processo".

Os serviços de saúde camaroneses decretaram inicialmente que todos os enterros seriam realizados por empresas públicas e seriam abertos a um máximo de 10 membros da família imediata do defunto.

A regra teve, no entanto, que ser flexibilizada. Desde junho, é permitido aos familiares ver os corpos dos entes queridos e realizar os ritos tradicionais, desde que se mantenham à distância e não toquem no cadáver.

Muitos, porém, consideram as restrições como excessivas. Familiares de uma vítima da Covid-19 em meados de abril último, Suinfo Samuel Wembe, lançaram uma batalha legal em Douala, a maior cidade e o principal porto dos Camarões, na esperança de obter o direito de exumar o corpo e enterrá-lo de acordo com a tradição na localidade de Bafoussam, também no oeste país.

O juiz a quem foi dado decidir sobre a pretensão determinou que a transladação apenas poderia acontecer um ano depois da pandemia ser declarada como terminada.

As regras das sociedades tradicionais ditam ritos funerários para notáveis como Wembe, mas nenhum foi seguido, de acordo com um sobrinho, Constantin Size. "Parece que o céu caiu sobre nós", disse à AP.

O corpo de Suinfo Wembe foi levado para uma morgue pública, onde nenhum familiar o pôde visitar. Horas mais tarde, foi enterrado num cemitério público.

"Foi tão abrupto, tão psicologicamente difícil de aceitar", descreveu Size. Segundo a tradição, Wembe deveria ter sido enterrado na sua aldeia natal, numa província ocidental dos camarões, não em Duala, onde vivia.

A família do defunto não o considera enterrado. "Ainda que leve uma década [à Organização Mundial de Saúde] a declarar erradicada a COVID-19, vamos considerar que o seu corpo está na morgue até ao dia em que for trazido de volta para casa", afirmou Size.

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