Pandemia impôs urgência da transição digital no ensino moçambicano
O antigo ministro da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique Jorge Ferrão disse à Lusa que a pandemia da covid-19 impôs a urgência e o imperativo da transição digital no ensino, defendendo um salto tecnológico sem exclusão.
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Mundo Covid-19
"Eu acho que [a covid-19 mostrou que] é obrigatório pensar que para ir para a universidade, a pessoa tem de ter um certo recurso tecnológico que lhe permita trabalhar à distância", afirmou Jorge Ferrão, ministro entre 2015 e 2016.
Doravante, não se pode imaginar um estudante do ensino superior sem um 'laptop', 'tablet', 'smartphone' e ligação à Internet, avançou Ferrão, que é agora reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, estatal, a primeira criada depois da independência de Moçambique.
O estudante pós-covid-19, prosseguiu, deverá estar dotado de autonomia tecnológica para estar em condições de estudar mais tempo fora do recinto escolar sem depender da infraestrutura tecnológica do estabelecimento de ensino.
"Quando nós fechamos a Universidade Pedagógica e fechamos a biblioteca [devido à covid-19], demos conta que muitos dos estudantes não estavam a aceder às plataformas tecnológicas, porque dependiam da sua presença física no espaço universitário para usar esses recursos", assinalou, na entrevista à Lusa.
Aquele académico sublinhou que o impacto da pandemia do novo coronavírus também vai impor a necessidade de novas competências ao professor moçambicano, nomeadamente no campo digital.
"Não é verdade que todos nós, professores, estejamos em condições de trabalhar também de forma remota", sublinhou.
O salto que o ensino moçambicano terá de dar, principalmente as universidades, vai implicar a partilha de esforços por parte das instituições de ensino, Governo e provedores de serviços tecnológicos, salientou Jorge Ferrão.
"Nós temos de ter um conjunto de servidores, temos de ter um espaço na nuvem [armazenamento de dados remoto através da Internet] que permita disponibilizar todos os nossos conteúdos, para que o estudante, por sua vez, tenha que aceder", defendeu.
Nessa perspetiva, continuou, o ministério da tutela precisa de negociar permanentemente com as operadoras de serviços de telecomunicações e as instituições de ensino têm de melhorar a formação.
O reitor da Universidade Pedagógica de Maputo avançou que a eficiência do ensino digital em Moçambique passa pela superação das deficiências das redes de telecomunicações, sobretudo dotar a infraestrutura de Internet de uma largura de banda à altura da demanda de conteúdos letivos.
"Hoje consigo entender porque é que quando nós falamos com os estudantes o primeiro problema que colocam é a Internet é muito lenta, ou que não tiveram Internet ontem", exemplificou Jorge Ferrão.
O reitor da UP Maputo adiantou ainda que a transição digital deve evitar a exclusão das camadas mais desfavorecidas do acesso à educação, o que vai impor uma coordenação de esforços das escolas, Governo e setor privado.
A atribuição de bolsas de estudo e a criação de soluções bancárias para o financiamento de necessidades tecnológicas no campo digital poderão ser saídas para a carência de meios no seio dos estudantes.
"Nós fizemos uma pesquisa na Universidade Pedagógica para saber como é que estávamos a transmitir os conteúdos por via ´online` durante o encerramento das escolas devido à covid-19 e a pesquisa deu conta de que apenas 35% conseguia receber as matérias", referiu Jorge Ferrão.
Nesse sentido, a retoma das aulas vai ter como ponto de partida os conteúdos lecionados antes da suspensão da atividade letiva devido à covid-19, acrescentou.
Moçambique tem 1.268 casos de infeção pelo novo coronavírus, nove mortes e 373 recuperados.
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