Argelinos chamados às urnas para presidenciais fortemente contestadas
Os argelinos escolhem hoje o sucessor do Presidente Abdelaziz Bouteflika, obrigado a demitir-se em abril por um inédito movimento de contestação popular, mas a votação está a ser fortemente criticada e a abstenção poderá ser a protagonista destas eleições.
© Reuters
Mundo Argélia
Os cinco candidatos que se apresentam às presidenciais argelinas apoiaram no seu percurso político o Presidente Bouteflika ou participaram nos seus governos, fatores que foram decisivos para a sua marginalização durante uma atípica campanha eleitoral.
Três deles ocuparam altas funções na Frente de Libertação Nacional (FLN), que governa o país praticamente sem interrupção desde 1962, e os outros dois dirigem dois partidos que apoiaram Bouteflika, que esteve no poder durante 20 anos.
O movimento inédito de contestação popular, conhecido como "Hirak", opõe-se à realização das presidenciais, convocadas pelo poder interino, por considerar que a votação visa garantir a sobrevivência do "sistema" que vigora no país há quase seis décadas.
Na véspera das eleições, o Presidente interino da Argélia, Abdelkader Bensalah, promulgou a lei do Orçamento do Estado para 2020.
O movimento "Hirak" saiu pela primeira vez para as ruas argelinas a 22 de fevereiro.
Mesmo depois de ter conseguido em abril passado a renúncia de Bouteflika, o movimento de contestação, sem estrutura oficial nem dirigente designado, continuou nas ruas e manteve a pressão, com manifestações e apelos a greves gerais.
Durante a campanha eleitoral, os cinco candidatos depararam-se com um ambiente hostil, marcado por comícios boicotados, faixas eleitorais derrubadas, dificuldades de acesso e uma forte presença policial.
De acordo com as organizações de direitos humanos Amnistia Internacional (AI) e Human Rights Watch (HRW), a repressão "intensificou-se" com a aproximação do escrutínio, com "detenções arbitrárias" e a prisão de manifestantes, militantes e jornalistas.
Nas legislativas de 2017, apenas 37% dos eleitores foram às urnas, enquanto a taxa de abstenção nas presidenciais de 2014 rondou os 50%, números provavelmente "empolados", segundo admitiram na ocasião diversos observadores.
Agora, e perante os recentes acontecimentos, a indiferença poderá ter cedido lugar à contestação ativa.
Segundo o presidente da Autoridade Nacional Independente das Eleições (ANIE), Mohamed Charif, as listas eleitorais integram 24.474.161 eleitores, incluindo 914.308 inscritos no estrangeiro.
Durante a campanha, não foi disponibilizada qualquer sondagem para avaliar a possível participação no escrutínio.
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