Autoridade religiosa contra "interferência estrangeira" no Iraque
O grande ayatollah Ali Sistani pediu hoje que o primeiro-ministro do Iraque seja nomeado sem "interferência estrangeira", após o Irão ter enviado emissários para negociar a formação de um governo que preserve os seus interesses.
© Reuters
Mundo Iraque
Figura tutelar da política no Iraque e a mais alta autoridade religiosa xiita no país, Sistani, 89 anos, terá estado envolvido na nomeação ou afastamento de todos os primeiros-ministros desde a queda do ditador Saddam Hussein em 2003.
Na semana passada, foi o seu sermão que precipitou a demissão do chefe de governo Adel Abdel Madhi.
Desta vez, advertiu, não desempenha "qualquer papel" e não faz parte das negociações conduzidas com o patrocínio dos emissários de Teerão: o general iraniano Qassem Soleimani e o dignitário xiita encarregado do dossier iraquiano no movimento xiita libanês Hezbollah, Mohammed Kaoutharani.
"A nomeação do primeiro-ministro deve fazer-se longe de qualquer interferência estrangeira", insistiu o representante de Sistani na cidade santa xiita de Karbala (sul), que como cada sexta-feira leu o sermão do grande ayatollah, que nunca aparece em público.
Desde 1 de outubro que o Iraque é palco de violência à margem de manifestações contra o poder num dos países mais corruptos do mundo, contra o desemprego que atinge um quarto dos jovens, a pobreza endémica e as ingerências estrangeiras, particularmente as do vizinho Irão.
Perto de 430 pessoas foram mortas, maioritariamente manifestantes, e cerca de 20.000 ficaram feridas, segundo o balanço feito pela agência France Presse a partir de fontes médicas e policiais.
Uma primeira vitória dos manifestantes foi a demissão a 1 de dezembro de Adel Abdel Mahdi, que gere os assuntos correntes até à designação do seu substituto. O presidente Barham Saleh ainda tem uma dezena de dias para o fazer.
Os contestatários querem uma nova Constituição e uma nova classe política, considerando que a atual, inalterada há 16 anos, fez desaparecer o equivalente a duas vezes o produto interno bruto (PIB) do país na espiral da corrupção.
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