'Hackers' ligados ao Irão espiaram governo dos EUA
Um grupo de 'hackers' ligados ao Irão passou o mês de novembro a tentar invadir emails pessoais de uma dúzia de funcionários governamentais norte-americanos, noticia hoje a Associated Press.
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Mundo Associated Press
Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impunha duras sanções económicas ao Irão, em novembro passado, 'hackers' tentavam invadir emails pessoais de agentes das autoridades americanas encarregadas de aplicar essas sanções.
A conclusão é de uma investigação conduzida por jornalistas da agência Associated Press (AP), revelando sinais de que a ciberespionagem tinha ligações ao Governo iraniano e está profundamente imiscuída nas relações EUA-Irão.
A AP baseou-se em dados recolhidos pelo grupo de segurança cibernética Certfa, em Londres, para analisar de que forma um grupo de 'hackers' conhecido por Charming Kitten passou o mês passado a tentar invadir os e-mails privados de mais de uma dúzia de autoridades do departamento de finanças dos EUA.
Na mira dos 'hackers' estavam igualmente detratores e executores do acordo nuclear assinado entre Washington e Teerão, cientistas atómicos árabes, figuras da sociedade civil iraniana e funcionários de centros de investigação com sede em Washington.
"Presumivelmente, parte desse trabalho visava descobrir o que está a acontecer com as sanções", disse Frederick Kagan, investigador do American Enterprise Institute, que escreveu sobre a ciberespionagem iraniana e que estava entre os alvos dos 'hackers'.
Kagan confessou que ficou alarmado com o facto de a ciberespionagem incluir especialistas nucleares estrangeiros.
"Isso é um pouco mais preocupante do que eu esperava", concluiu.
A lista de alvos dos 'hackers' foi revelada quando o grupo Charming Kitten erroneamente deixou um dos seus servidores de Internet abertos, no mês passado.
Investigadores do Certfa encontraram o servidor e extraíram uma lista de 77 endereços do Gmail e do Yahoo que estavam a ser alvos dos 'hackers' e que entregaram aos jornalistas da AP para análise posterior.
Embora esses endereços provavelmente representem apenas uma fração do esforço geral dos 'hackers' - e não está claro quantas contas foram comprometidas com sucesso - fornecem informações consideráveis sobre as prioridades de espionagem do Irão.
"Os alvos são muito específicos", disse o investigador do Certfa Nariman Gharib.
Num relatório divulgado hoje, o Cerfta faz uma ligação direta entre os 'hackers' e o Governo iraniano -- uma conclusão tirada, em parte, por erros operacionais, incluindo alguns casos em que os 'hackers' aparentemente revelaram acidentalmente que estavam a trabalhar a partir de computadores dentro do Irão.
A avaliação é corroborada por outros investigadores que acompanharam o Charming Kitten.
Allison Wikoff, investigadora da empresa Secureworks, de Atlanta, validou parte da infraestrutura digital no relatório da Certfa e disse que as operações passadas dos 'hackers' deixavam poucas dúvidas de que foram apoiadas pelo governo iraniano.
"É bastante claro", disse Wikoff.
A Associated Press tentou falar telefonicamente com as autoridades iranianas, na noite de quarta-feira, início do fim de semana naquele país, mas sem sucesso.
O Irão já tinha negado antes a responsabilidade por operações de 'hackers', mas uma análise da AP aos seus alvos sugere que a Charming Kitten está a trabalhar em estreita relação com os interesses da República Islâmica.
Entre as figuras ligadas ao governo iraniano envolvidas neste esquema encontram-se um cientista que trabalha num projeto nuclear civil para o Ministério da Defesa do Paquistão, um operador sénior do Reator de Pesquisa e Treino da cidade jordaniana de Ramtha e um investigador de alto nível da Comissão de Energia Atómica da Síria.
A presença deste trio sugere um interesse geral em tecnologia e administração nuclear.
Na lista de alvos dos 'hackers' estavam ainda pessoas como Guy Roberts, subsecretário de Defesa dos EUA para os Programas de Defesa Nuclear, Química e Biológica, o que aponta para uma estratégia de vigiar as autoridades encarregadas de supervisionar o arsenal nuclear dos Estados Unidos.
Outros alvos de ciberespionagem estão ligados ao acordo dos EUA com o Irão - um pacto de 2015 negociado pelo governo do ex-Presidente dos EUA, Barack Obama, e outras potências mundiais que pediram que Teerão reduzisse o enriquecimento de urânio em troca do levantamento das sanções internacionais.
Trump rasgou o acordo em maio passado, sob fortes objeções da maioria dos países aliados dos EUA, e impôs uma série de restrições punitivas ao Irão.
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