Penny Farmer tinha apenas 17 anos quando os corpos do irmão e da namorada foram encontrados a flutuar no mar da costa da Guatemala, em julho de 1978. Viu a investigação à morte de ambos chegar a um beco sem saída, de onde nunca sairia uma detenção, e viu o seu pai morrer sem uma resposta. Em 2015, 37 anos depois do crime, encontrou o assassino com uma pesquisa no Facebook.

Chris Farmer, um médico de 25 anos, e Peta Frampton, uma advogada de 24 (na imagem acima), eram namorados desde a adolescência e no verão de 1978 decidiram fazer umas férias exóticas. Numa altura em que não havia telemóveis ou internet, o casal ia mantendo a família, em Manchester, informada através de correspondência. Mas as cartas pararam.

Os cadáveres de Chris e Peta foram encontrados no mar. Tinham sido torturados, estavam com as mãos presas e tinham sido atados a peças de motor para afundar e não serem encontrados. O médico que fez a autopsia disse, na altura, que o “aspeto [de ambos os corpos] era monstruoso”.

O governo local foi notificado e foram iniciadas buscas quando Chris deixou de escrever aos pais, mas sem resultados. As cartas trocadas indicavam que Chris tinha conhecido "um americano" e os seus dois filhos pequenos em Belize e que, por causa disso, tinham desistido da ideia de ir de autocarro ao México e, ao invés disso, decidiram viajar no barco de pesca do americano até às Honduras.

“Num barco não acontece nada”, escreveu Peta, inclusive.

Penny com Russell Boston, filho do homem que matou o seu irmão © Reprodução BBC

O pai de Chris descobriu, mais tarde, junto do capitão do porto de Belize, que o filho e a namorada tinham saído num barco chamado 'Justin B', mas não voltaram. A polícia chegou a interrogar o americano, um homem chamado Silas Boston, de Sacramento, mas, embora convencidos de que estava envolvido no desaparecimento do casal, não havia provas.

O caso foi sendo esquecido pelas autoridades, aos poucos, mas não pela família. Penny entretanto formou-se em jornalismo, casou e teve três filhos. O pai, sem nunca ter perdido a esperança de saber o que acontecera ao filho, tentou contactar a polícia de Sacramento, anos depois, com o advento da internet, mas nunca conseguiu resposta. Morreu em 2013.

Em outubro de 2015, 37 anos depois do crime, Penny entrou no Facebook e decidiu procurar pelo nome que nunca esqueceu. “Só Deus sabe porque não procurei antes. Talvez sentisse que [Silas Boston] estava longe de nós. Ele parecia tão remoto e escondido. Mas ainda bem que procurei”, indicou Penny, à BBC.

Silas Boston, já nos Estados Unidos© Reprodução BBC

Não só descobriu o perfil de Silas Boston, como descobriu os seus dois filhos, Vince e Russell, e a sua quinta mulher. Penny contactou a polícia britânica, que, por seu turno, contactou a americana. As autoridades de Sacramento, curiosamente, tinham acabado de reabrir o caso do desaparecimento da terceira mulher de Silas. Os filhos tinham dito à polícia que era “um segredo conhecido” que o pai tinha matado a mãe.

Pior: os dois filhos tinham tentado dizer à polícia várias vezes que viram o pai matar Chris e Peta na Guatemala. Todas as polícias envolvidas no caso – Sacramento, Canadá, FBI, Interpol, Scotland Yard - haviam sido informadas na altura, mas nenhuma tinha agido, aparentemente, por falta de coordenação.

Russell, um dos filhos, disse ainda às autoridades que o pai matou mais dois turistas, 15 dias depois da morte de Chris e Peta. O homem, já adulto, contou tudo o que viu naquele dia e como o pai o ameaçou, a ele e ao irmão, de morte, caso contassem o sucedido.

Chris Farmer, ao centro, com Russell Boston (com peixe na mão) e Vince Boston, no barco Justin B., dias antes de morrer. Imagem só foi recuperada em 2016.© Reprodução BBC

Silas Boston era um violador. Atou Chris na proa do barco e levou Peta para o convés. Penny não descreveu o aconteceu a seguir. “Não preciso dizer mais nada. Espero que as pessoas consigam juntar os pontos sem ser preciso ser demasiado gráfica”, indicou.

A 1 de dezembro de 2016, 14 meses depois de Penny o ter localizado no Facebook e 38 anos depois do crime, Boston foi detido e acusado do homicídio do casal. Já confinando a uma cama, pediu que fossem parados todos os medicamentos que lhe eram administrados e morreu a 24 de abril de 2017. Não chegou a cumprir um único dia de prisão.