Mentimos para ganhar, mentimos para esconder, mentimos para agradar, mentimos para disfarçar, mentimos para não magoar, mentimos com maldade, mentimos por pena, mentimos para nos vingarmos, mentimos para nos defendermos, mentimos por mentir. Todos nós mentimos e a ciência já o conseguiu provar.

Embora existam vários tipos de mentira – das piedosas às mais maldosas –, a verdade é que a mentira está mais presente na nossa vida do que aquilo que pensamos, podendo mesmo interferir ou ditar alguns dos episódios mais marcantes. Não acredita? Então veja o que a ciência já descobriu sobre a mentira.

Diz um estudo da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, que, em média, mentimos nada mais, nada menos do que duas vezes por dia. Mas, porque é que o fazemos mesmo depois de todos os alertas e ameaças dos nossos pais e avós quando eramos mais novos? Essa é uma questão que a ciência ainda não conseguiu decifrar, talvez porque as pessoas ainda sentem vergonha em admitir que mentem e acabam por fazê-lo para se defenderem. Mas o véu vai-se levantando aos poucos (ou a vergonha vai-se perdendo).

Como lhe contámos aqui, os profissionais ligados à Psicologia e Psiquiatria foram capazes de traçar o perfil do mentiroso e, com isso, encontrar os fatores que podem estar na origem do hábito de mentir, sendo a proteção e a tentativa de obter benefícios as duas razões mais frequentes para a mentira.

Embora a mentira esteja fortemente associada à manipulação, desonestidade e irresponsabilidade, mentir pode não ser um hábito assim tão pecaminoso como julgamos. Indica um estudo da Universidade da Califórnia que as pessoas que mentem com mais frequência “também se preocupam profundamente com o que os outros pensam e são mais extrovertidas”, podendo a mentira estar associada à vontade de agradar, proteger e mostrar utilidade. Esta ideia é defendida pelo investigador Dan Ariely e autor do livro ‘A Verdade Honesta sobre a Desonestidade’.

Mas a mentira está longe de ser um defeito ou um traço da personalidade. Quando feita de forma compulsiva, pode mesmo ser sinal de um transtorno mental. Como explica a psicóloga Júlia Machado, do Hospital Lusíadas do Porto, a mentira compulsiva é a consequência de uma doença mental denominada de mitomania, “um transtorno psicológico, no qual existe uma eventual simulação, omissão ou distorção da verdade que normalmente é praticada por indivíduos saudáveis”.

Apesar de ser comum mentir, a mentira é uma questão deveras complexa, podendo mesmo interferir com o funcionamento do cérebro humano, como concluiu um grupo de cientistas britânicos depois de ter constatado que, quando as pessoas contam repetidamente "pequenas mentiras", o cérebro pode conseguir anular o sentimento de culpa e levá-las a dizer mentiras maiores.

Segundo a sabedoria popular, quem diz a verdade não merece castigo. E quem diz a mentira? Bem, isso depende do tipo de mentira, do momento em que é dita e do intuito que tem, cabendo à pessoa que a ouve julgá-la (pondo ou não a mão à consciência por todas as mentiras que já disse).

E apanhar um mentiroso, é mesmo mais fácil do que apanhar um coxo? Talvez. O nariz não cresce, mas muda e isso permite perceber se a pessoa está a dizer a verdade ou não. Além da história em si e da forma como é contada, também a linguagem corporal pode ser uma forma de detetar a presença de um mentiroso ou de uma não verdade. É caso para dizer que quem mais jura, mais mente.

Se ficou com vontade de acabar com as mentiras sobre a mentira, veja os oito mitos sobre a mentira e que não foram escritos por um mentiroso.

E já agora, sabia que os cães também mentem?