José Ramos-Horta, que falava no Fórum de Jeju, na Coreia do Sul, defendeu ainda o perdão global de toda a dívida dos países em desenvolvimento, que não são ricos em recursos minerais ou petróleo.
"Os países industrializados ricos mobilizaram centenas de milhares de milhões de dólares para salvar os bancos europeus no rescaldo da crise financeira do crédito hipotecário de alto risco de 2007, 2008. Milhares de milhões de dólares foram rapidamente encontrados para a Ucrânia", afirmou.
"No entanto, não houve mobilização semelhante para apoiar os países em desenvolvimento amarrados pela dívida externa e pelas trágicas consequências da pandemia da covid-19", considerou.
O chefe de Estado disse que a assistência para o desenvolvimento, que foi drasticamente reduzida na sequência da crise financeira de 2008, não regressou aos valores "já modestos" do passado, pelo que é essencial fortalecer esses apoios.
"Todos os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] deveriam aumentar para 1% do seu PIB as suas contribuições para a assistência externa ao desenvolvimento", considerou Ramos-Horta que falava na sessão de abertura da 18.ª edição do Fórum de Jeju para a Paz e a Prosperidade.
Na sua terceira participação no encontro, e na primeira enquanto chefe de Estado, Ramos-Horta destacou a crescente reputação do Fórum de Jeju como espaço de diálogo sobre "os grandes desafios do presente", e temas regionais e globais tão diversos como o desenvolvimento sustentável, a digitalização, energias renováveis e a economia verde, segurança alimentar e alterações climáticas.
Num discurso marcado por referências ao contexto regional e mundial, o chefe de Estado timorense disse que a pandemia, desastres naturais e a guerra na Ucrânia, "causaram o sofrimento e o empobrecimento de centenas de milhões de pessoas, particularmente na Ásia, África e América Latina".
"Os impressionantes ganhos dos últimos 20 anos nas batalhas contra a pobreza extrema perderam-se, dezenas de milhões de seres humanos, incluindo milhões de crianças, foram atirados de volta para as amarras da pobreza extrema. O trabalho infantil voltou a aumentar exponencialmente. A fome instalou-se em muitos países", vincou.
Timor-Leste, disse Ramos-Horta, "é um farol, um porto de segurança, uma luz cintilante de paz e fraternidade" nu contexto de vários conflitos, continuando a consolidar a sua democracia, em "paz, tranquilidade, tolerância e inclusão".
O país, notou, é igualmente um exemplo de reconciliação, optando pelo "diálogo para resolver disputas, com "paciência, uma dose de humildade, empatia, inteligência, tato, contenção e perdão.
"Timor-Leste tem as suas fragilidades e raiva residual que ainda estamos a abordar agora. Mas não temos violência política, étnica ou religiosa, nem assassínios por vingança, prisões arbitrárias e assassínios por escolhas políticas passadas. Temos uma relação exemplar com todos os nossos vizinhos, independentemente da natureza das relações passadas, boas e más", considerou.
"Somos capazes de manter esta relação porque deixámos para trás a história passada de violência, construímos respeito e confiança mútuos e desenvolvemos uma cooperação bilateral ativa", disse.
Referindo-se a exemplos da própria região, Ramos-Horta apelou à junta militar que governa atualmente em Myanmar para que permita uma transição democrática.
E destacou ainda o processo de adesão de Timor-Leste à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a necessidade do país completar um roteiro progressivo, com metas a cumprir antes de se tornar oficialmente o 11.º membro da organização, onde tem atualmente estatuto de observador.
"Timor-Leste e os países membros da ASEAN partilham interesses comuns na promoção de uma paz duradoura e do desenvolvimento sustentável através de estratégias inter-regionais ativas que abrangem as dimensões sociocultural e económica", disse.
"A integração na ASEAN oferece oportunidades para Timor-Leste concretizar objetivos estratégicos de desenvolvimento, investindo em pilares estratégicos que melhorariam significativamente a saúde, a educação e a qualidade de vida do nosso povo", afirmou.
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