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James Baldwin continua por publicar em Portugal. Mas isso pode mudar

Trinta anos após a morte do escritor norte-americano James Baldwin, em ano de estreia do documentário 'Eu não sou o teu Negro', que adapta um dos seus livros, a obra do autor continua por publicar em Portugal.

James Baldwin continua por publicar em Portugal. Mas isso pode mudar
Notícias ao Minuto

19:30 - 30/11/17 por Lusa

Cultura Literatura

Esta realidade está prestes a mudar, com pelo menos uma editora a anunciar a integração deste autor no seu catálogo: a Alfaguara, chancela da Penguin Random House, vai publicar, no primeiro semestre do próximo ano, o livro 'Go tell it on the mountain'.

Romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano, James Baldwin, negro e homossexual assumido, nasceu em Nova Iorque em 1924 e desde cedo se bateu contra o racismo e a discriminação social, em nome da defesa dos direitos dos negros e dos homossexuais.

Esta luta travou-a na vida e na escrita, tendo publicado, até à morte, ocorrida em 01 de dezembro de 1987, mais de 20 livros, entre ensaios, romances, contos, poemas e peças.

Uma dessas obras é um manuscrito incompleto, que se intitularia 'Remember This House', no qual o realizador Raoul Peck se inspirou para criar um filme que traça uma viagem à história negra norte-americana, ligando o passado do Movimento dos Direitos Civis ao presente do movimento ativista Black Lives Matter.

O filme cumpre o desejo manifestado em vida por James Baldwin de contar a história do racismo nos Estados Unidos, com relatos sobre as vidas de três amigos seus assassinados: os líderes ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.

O documentário estreou-se em Portugal este ano, trazendo de novo James Baldwin para a atualidade, ao ponto de outro realizador, Barry Jenkins, autor do filme vencedor do Óscar 'Moonlight', ter anunciado a intenção de adaptar o romance de Baldwin 'If Beale Street Could Talk'.

Editado em 1974, este é o quinto romance do escritor e narra a história de amor de um casal, que se vê forçado à separação, quando o rapaz é preso sob uma falsa acusação de violação.

Na mesma altura, a rapariga descobre estar grávida e enceta uma luta, com a ajuda da família e de um advogado, para conseguir provar a inocência do noivo antes do nascimento do filho.

Ao levar James Baldwin para Hollywood, os filmes trazem também à atualidade os temas que o autor sempre tratou, como as complexidades sentidas, embora não totalmente assumidas, nos anos 1950 e 1960, sobre a sexualidade e sobre a distinção de classes raciais nas sociedades ocidentais, em particular nos Estados Unidos.

O seu trabalho tem sido recuperado também por outros autores que procuram afirmar a sua relevância em 2017 como em 1967, sendo múltiplos os textos que salientam a necessidade de se ler Baldwin para compreender os Estados Unidos da América hoje, sob a presidência de Donald Trump.

As preocupações de James Baldwin em torno da condição humana são particularmente exploradas nos seus ensaios 'Notes of a Native Son' (1955) e' Nobody Knows my Name: More Notes of a Native Son' (1961).

Alguns textos ensaísticos do escritor ativista assumem a dimensão de livros, como acontece com 'The Fire Next Time' (1963), 'No Name in the Street' (1972), e 'The Devil Finds Work' (1976).

Ao longo da sua vida literária, James Baldwin transformou também em ficção e em peças as suas dúvidas e os seus dilemas pessoais, relacionados com as pressões sociais e também psicológicas que tornavam impossível integrar e igualar na sociedade tanto negros como homossexuais e bissexuais.

Oriundo de uma família pobre, James Baldwin cresceu com a mãe e com o padrasto, um pastor do bairro nova-iorquino de Harlem, uma vez que o seu pai biológico fora abandonado pela mulher, devido ao abuso de drogas.

Aos 10 anos, foi provocado e abusado por dois polícias nova-iorquinos, num caso de assédio racista pelo Departamento de Polícia de Nova Iorque, que se repetiria mais tarde, quando já era adolescente, e que Baldwin documentou nos seus textos.

O dia em que fez 19 anos, em 1943, ficou marcado por ser também o dia do funeral do seu padrasto, do nascimento do seu último irmão e o dia do motim de Harlem, retratado no início de seu texto 'Notes of a Native Son'.

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