'Rip 2 My Youth' porque "tudo o que está para trás da mudança não foi realmente vivido". A frase é de Elizabeth Vieira, uma das responsáveis pelo documentário, e este o mote do documentário que começou numa cadeira do Mestrado de Audiovisual e Multimédia da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) e que é apresentado, esta noite, dia 2 de novembro, 20h30, no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras.

O trabalho revela a história de Isaac dos Santos, um jovem de 20 anos que passou por um processo de transição de género. Foi muito cedo que Isaac percebeu que não se identificava com o sexo feminino, o que levou a tomar uma decisão que mudaria para sempre a sua vida.

O jovem contou ao Notícias ao Minuto que em causa esteve um processo "muito cansativo mas muito gratificante", em que a espera "é o mais difícil", paralelamente a uma "ansiedade até as coisas estarem concluídas".

"Quando entrei na escola pré-primária, com os meus 4/5 anos, reparei que estava sempre a ser posto do lado contrário ao qual eu me deveria inserir. Comecei a questionar à minha avó porque é que os meus genitais não cresciam como o dos meus amigos. Foi aí que percebi que as coisas estavam erradas", começou por contar.

O erro nunca esteve nos sentimentos e certezas de Isaac, mas sim no seu corpo, num exterior que não correspondia ao seu ser: um homem.

"Nunca me senti uma rapariga, nunca olhei para mim dessa maneira. Ser transexual é isso mesmo. É sofrer de uma patologia chamada disforia de género que acontece aos três meses de feto em que o meu cérebro se desenvolveu como homem e o corpo como mulher. Sempre senti e pensei como um homem", garante o jovem.

Isaac teve sempre o apoio da família, pois os que lhe eram mais próximos sabiam bem o que estava em causa. "Sabendo eles que era algo necessário para o meu bem receberam-me bem e apoiaram-me no que precisei", recorda.

Isaac dos Santos © Rip 2 My Youth

Hoje, enquanto protagonista do documentário 'Rip 2 My Youth' , o jovem revela estar "bastante feliz", principalmente por ter "vontade de ultrapassar esta situação da melhor maneira e conseguir ajudar outros que não tenham tanta força nem tanto apoio". No fundo, Isaac relembra-se dos tempos em que iniciou o processo, em que não teve "nenhuma ajuda de alguém mais velho que já tenha passado por isto".

E como reage a situação à transexualidade? "Quando explico às pessoas do que é que se trata, percebem que não tinha nada a ver com o que imaginavam e entendem que passar por uma transição é extremamente necessário para quem sofre com esta patologia. Contudo, ainda existem pessoas que simplesmente querem ficar com as suas ideias pré-concebidas que se recusam a aprender. Irá sempre haver pessoas assim, seja com que situação for", esclareceu.

Elizabeth Vieira, uma das responsáveis pelo documentário, explica ao Notícias ao Minuto que mais do que um trabalho de mestrado, este documentário tem um “caráter pedagógico”, o que levará o grupo de jovens a "participar em alguns festivais de cinema".