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Teatro D. Maria II: 'Ibsen House' abre temporada de espetáculos

O espetáculo "Ibsen House", dirigido pelo australiano Simon Stone, estreia-se em Portugal na sexta-feira, abrindo a temporada de produções internacionais do Teatro Nacional Dona Maria II, que quer "democratizar" o bom trabalho que se faz na Europa.

Teatro D. Maria II: 'Ibsen House' abre temporada de espetáculos
Notícias ao Minuto

10:15 - 22/10/19 por Lusa

Cultura Teatro

"O Dona Maria II tem que ser capaz de ser uma casa que torna acessível ao público português aquilo que vamos reconhecendo que é o teatro absolutamente fundamental a descobrir, naquilo que se faz nos vários países europeus", disse à Lusa o diretor artístico do teatro, Tiago Rodrigues, justificando assim a aposta em grandes produções internacionais, a primeira das quais com estreia no dia 25, e estendendo-se até dia 27.

Trata-se de 'Ibsen House', escrito e dirigido pelo australiano Simon Stone, uma produção do Toneelgroep Amsterdam, que recentemente mudou o nome para Internationaal Theater Amsterdam (ITA), mas que é uma das companhias históricas europeias, dirigida pelo holandês Ivo van Hove, e que tem a tradição de convidar artistas não só europeus mas de outras zonas do mundo a escrever e dirigir a companhia.

O que Simon Stone faz é um processo "muito particular e absolutamente notável" de pegar em toda a dramaturgia de Henrik Ibsen e, a partir da obra do norueguês, "cria uma única peça alimentada como se Ibsen fosse o combustível de um novo texto, e este texto é a história de uma família durante mais de 30 anos numa mesma casa".

A casa é construída por uma das personagens, o arquiteto da família, e depois é habitada por varias gerações, revelando os conflitos familiares, os segredos, por vezes obscuros e sórdidos, que existem por trás da aparência de uma família feliz, mas também um certa história social do século XX, "cumprindo a ponte desde Ibsen até aos nossos dias".

"É uma peça extraordinária também na escala cenográfica, com grande quantidade de atores e um espetáculo longo, mas que passa como um fósforo. Dura mais de três horas e tem dois intervalos, um serão para se sair do teatro com a barriga cheia de teatro de bom texto", disse à Lusa.

Em novembro, concretamente nos dias 7, 8 e 9, chega uma "proposta completamente diversa", 'Crash Park', do artista francês Philippe Quesne, considerado o 'enfant terrible' do teatro europeu, um espetáculo quase sem texto, quase sem palavra, mas com muita escrita por trás, explicou Tiago Rodrigues.

"Philippe Quesne dedica-se sempre a uma espécie de poesia muito subversiva, irónica, humorística, neste caso distópica também".

'Crash Park' parte de um evento, o desastre de um avião, que se despenha numa ilha, mas que é também um palco, ou seja, "a ilha como metáfora do palco", e os sobreviventes terão oportunidade de, através das ferramentas do teatro, inventar uma sociedade nova, como fazem os sobreviventes numa ilha deserta.

"É um espetáculo que, embora seja um espetáculo pouco literário, porque tem pouca palavra, é profundamente alimentado pela literatura de aventuras -- 'A ilha do tesouro' está muito presente --, pela literatura utópica e distópica, 'O admirável mundo novo', mas também a 'Utopia', de Thomas More".

Segundo Tiago Rodrigues, trata-se de "um cocktail de influências da literatura europeia sobre a questão de reorganizar a sociedade, de começar do zero", e aqui "Philippe Quesne fá-lo com muito sentido de humor, com muita poesia e com uma capacidade plástica visual absolutamente estonteante".

A terceira etapa deste tríptico de propostas internacionais é 'Ricardo III', de Shakespeare, encenado pelo alemão Thomas Ostermeier, com a companhia Schaubhüne, que ele dirige há mais de 20 anos, e que é "um dos expoentes máximos do teatro europeu".

"'Ricardo III' é uma obra a que valerá a pena sempre voltar independentemente do que está a acontecer no mundo, porque vai sempre ser capaz de ter pontos de referência muito fortes, porque infelizmente há sempre vilões autoritários e ditatoriais, vozes do mal no poder", considerou Tiago Rodrigues à Lusa.

Este "Ricardo III" tem várias particularidades, a primeira das quais é ser "um namoro antigo" do Teatro Dona Maria II, que há quatro anos (desde 2015) tenta trazer este espetáculo a Portugal.

A razão desta demora é explicada pelo diretor artístico do Teatro D. Maria, com a envergadura técnica deste tipo de espetáculos, que têm grandes equipas, são muito caros exigem capacidade de investimento e de planeamento, "para que possam ser apresentados em condições".

Além disso, é um espetáculo que Tiago Rodrigues acredita que irá ser estudado nas próximas décadas, por ser um dos mais "marcantes do teatro europeu do século XXI", e um dos grandes exemplos de como autores como Shakespeare "são ainda urgentes nos dias de hoje".

"Depois tem aquele que eu considero um dos maiores atores de teatro vivos, que é o Lars Eidinger", destaca Tiago Rodrigues, afirmando que, só pelo ator, já teria valido a pena quatro anos de esforço para trazer o espetáculo ao Dona Maria II.

Para o diretor artístico, esta é "uma interpretação absolutamente avassaladora e imperdível de um ator que raras vezes temos oportunidade de ver em Portugal e noutros países, e que apresenta um Ricardo III absolutamente carismático, quase 'punk', quase 'rock star', subversivo, de quem se gosta ao fim de dez segundos, capaz de ser o vilão que nos seduz do principio ao final da peça, e dá um corpo subversivo e transgressor à escrita do Shakespeare".

Este espetáculo marca a passagem do ano de 2019 para 2020, com apresentações nos dias 31 de dezembro e nos dias 2 e 3 de janeiro.

Estas não são as únicas propostas internacionais, há outras previstas mais para a frente, como "Bajazet", de Frank Castorf, que dirigiu durante muitos anos a Volksbühne, em Berlim, e que é considerado um dos grandes nomes do teatro europeu.

Com estreia internacional prevista para Lousande, daqui a algumas semanas, 'Bajazet' estreia-se em Portugal em junho de 2020, apresentando uma tragédia de Racine ('Bajazet') misturada com o teatro e a peste de [Antonin] Artaud, num "confronto entre o clássico e o moderno".

Este espetáculo conta com a parceira do Teatro Rivoli, apresentando-se no Porto na semana anterior à chegada ao palco de Lisboa.

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