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Ensinar refugiados? Claudia transforma o difícil em fácil

Enquanto muitos se mostram renitentes em aceitar os refugiados, outros estão disponíveis a ajudá-los a começar uma nova (e melhor vida) longe de casa. Em conversa com o Notícias Ao Minuto, Claudia Spindler, uma voluntária alemã, explica como é lidar com esta realidade. Tudo gira em volta de apenas uma coisa: respeito.

Ensinar refugiados? Claudia transforma o difícil em fácil
Notícias ao Minuto

09:42 - 14/02/16 por Andrea Pinto

Mundo Exclusivo

O ano de 2015 ficou marcado, pelas piores razões, com a crise migratória dos refugiados. Milhares de pessoas arriscaram as suas vidas para fugir das ditaduras dos seus países e procurar uma vida melhor na Europa. Muitos não resistiram aos perigos da fuga, outros ainda lutam por conseguirem estabelecer-se nos países que os acolheram.

A Alemanha é um desses países onde, inesperadamente, aquela que é considerada umas das líderes mais rígidas da Europa, decidiu abrir portas do seu país a centenas de fugitivos. Uns revoltaram-se com a política de ‘portas abertas’, enquanto outros tantos abriram não só portas como os corações para dar um pouco de si em prol destes novos habitantes.

Uma perda levou-a a ensinar

Claudia Spindler é um desses casos. Esta neuropata de Wasserburg (Munique), de 54 anos, viu, no verão de 2015, chegar ao fim “o prazo de arrendamento do espaço da sua clínica privada”, altura em que ponderou abandonar a prática. Nesse momento, decidiu “candidatar-se à Volkshochschule [espécie de escola profissional] de Wasserburg para o cargo de professora do curso de Naturopatia e também do curso de Alfabetização para alemães adultos”.

A “resposta foi imediata” pois “o curso de Alfabetização é altamente necessário para refugiados na Alemanha, mas não para alemães adultos". Claudia não hesitou em aceitar e em setembro começou a ensinar a sua língua mãe durante três horas, quatro vezes por semana, a um grupo de refugiados. “Aprendem os temas mais simples e necessários para viverem neste seu novo ambiente”, conta ao Notícias Ao Minuto.

Transformar o difícil em fácil. A missão de uma professora voluntária 

Na sua sala, Claudia tem alunos do Senegal, Paquistão, Síria e Iraque, a maioria entre os 20 e 25 anos e, sobretudo, homens. “Até agora só tivemos quatro mulheres no curso”, refere.

“Temos desde analfabetos que nunca tiveram a oportunidade de ir à escola e não sabem ler nem escrever na sua língua nativa, a pessoas com formação que sabem ler e escrever, mas não têm conhecimentos de alemão”, refere, lembrando que “há pessoas que estão severamente traumatizadas, outras são muito reservadas, outros estão desconcentrados ou esgotados”.

Ainda assim, “raramente na minha vida encontrei pessoas tão motivadas, curiosas e ansiosas para aprender”, atira a mulher que vê na sua “formação em psicologia e educação” uma mais-valia “quando é necessário lidar tanto com pacientes como com refugiados traumatizados”.  

Uma ligação dificultada pelas barreiras da língua

Como professora, Claudia é confrontada também com as histórias de vida dos seus alunos. Conhecidos por serem um povo frio, isso não significa que os alemães estejam indiferentes à difícil realidade dos novos habitantes que vão chegando ao país, e cujo único objetivo é “viver sem medo em liberdade. Sem perseguições, sem discriminações”. 

“A barreira da língua entre mim e os alunos torna difícil manter qualquer conversa sobre o seu destino. As fotos que me mostram da sua terra ou da sua fuga, assim com as suas cicatrizes da tortura emocionam-me, claro”, revela a professora que defende que “a Europa deve acolher todos os que estão em perigo, todos os que têm de recear pela sua vida”.

Apesar disso, não deixa que a sua vida se envolva demasiado nos problemas alheios. “Eu quero ajudá-los, mas não a todo o custo. Isso seria contraproducente em ambas as minhas profissões”, acrescenta.

Assim, aqui não só importa ajudar a aprender a língua, como formar uma personalidade. Claudia procura, acima de tudo, “transmitir empatia e calor humano”, pois  é isso que permite uma “relação de confiança” para que os “alunos possam consolidar a sua personalidade no seu novo ambiente”.

O respeito no ensino, o respeito pelos humanos

Num país que se popularizou pela sua rigidez, muitos terão ficado espantados com a decisão de acolher estes refugiados. Muitos, recorde-se, acusaram mesmo a chanceler alemã de estar a fazer uma jogada política.

Para Claudia, porém, há apenas uma coisa que importa: “saber que a maioria dos refugiados na Alemanha estão a ser bem cuidados” e que “todos os voluntários e grupos de ajuda tentam fazer com que os refugiados se sintam em casa”.

Isto porque acima de tudo estão em causa vidas humanas e tanto nas aulas como na vida deve haver apenas uma premissa: “respeito”.

“Tudo pode ser resumido a apenas essa palavra. Se eu mostrar respeito ao próximo e ele me mostrar respeito em retorno, o Mundo estaria bem”, conclui.

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