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Em 2011 país "não tinha dinheiro. Agora parece que nos saiu o Totoloto"

Um ano após as eleições legislativas de 2015, o líder social-democrata Passos Coelho surgiu esta terça-feira à noite em entrevista à SIC. Em cima da mesa esteve "o diabo", o Orçamento do Estado para o próximo ano, impostos e respetivas subidas e descidas, bem como as relações com António Costa e o Presidente Marcelo.

Em 2011 país "não tinha dinheiro. Agora parece que nos saiu o Totoloto"
Notícias ao Minuto

20:40 - 04/10/16 por Pedro Filipe Pina

Política Passos Coelho

Em entrevista, esta noite, na antena do 'Jornal da Noite' da SIC, o líder do PSD reiterou que nas legislativas de há (precisamente) um ano se verificou uma circunstância inédita e agora "parece que nos saiu o Totoloto ou que herdámos de algum familiar abastado". Mas porque 'nem tudo são rosas', Passos deixou o aviso: "Estamos a regredir".

Em julho terá dramatizado o discurso referindo que em setembro “vem aí o diabo”. Com a entrevista a decorrer em outubro, Passos desdramatizou a expressão “diabo”. Mas falou de tempos difíceis.

“Para mim é muito claro que o tempo que estamos a viver está a ser desperdiçado. As promessas que foram feitas ao país, quer no que respeita ao crescimento da economia, quer na esperança em relação ao futuro, de poremos sustentar uma descida séria da taxa de desemprego, estão a ser goradas. Essas dificuldades estão à vista e é preciso estar muito desatento para não as observar”, vincou.

Conjuntura internacional

“Era previsível, mas o Governo não teve uma política prudente. Apostou tudo numa altura em que já muitas instituições diziam que o cenário macroeconómico que o Governo estava a escolher era muito otimista. (…) A economia está a crescer metade do que devia e menos do que há um ano. Estamos a regredir”.

Modelo de governação está condenado ao fracasso? Havia alternativa?

“Este modelo está a revelar o seu falhanço. Prova exatamente o contrário [relativamente a haver alternativa]. A única preocupação hoje que o Governo vem exibindo é com o controlo das contas públicas. Repare só na ironia da situação”.

Possibilidade de um segundo resgate?

“Nem quero acreditar que essa questão se ponha (…) mas acho sintomático que a questão seja colocada externamente e isso não devia ser ignorado pelas autoridades portuguesas”.

Meta do défice será cumprida?

“Não se trata de acreditar ou não [no cumprimento do défice]. Existem riscos e nós temos noção de que o Governo está a empurrar com a barriga aquilo que é a atividade normal do Estado (...) O Estado pode decidir não gastar, mas não pode decidir não gastar em permanência. (...) Não é uma forma sustentável de manter o défice controlado”.

PSD vai continuar sem apresentar propostas para o OE017?

“O PSD tem apresentado muitas propostas na Assembleia da República que visam as políticas mais diversas [mas] o Orçamento é uma matéria que respeita ao Governo, não respeita à oposição”. Sobre o CDS ter apresentado propostas: “cada partido define aquilo que acha que é a sua melhor estratégia. Do nosso ponto de vista o Orçamento é uma matéria que cabe primordialmente ao Governo e é importante que um Governo que tem uma maioria absoluta seja transparente naquilo que são as regras do próprio Orçamento”.

Estratégia do Governo para o Orçamento?

“O Governo tem uma opção que é elevar a carga fiscal da tributação indireta. Parece-nos um mau caminho porque os impostos indiretos são aqueles que são mais cegos ao rendimento das pessoas”.

Governo de Passos Coelho e o aumento de impostos

“Quem mais subiu impostos indiretos em Portugal foi o PS, não fui eu. Tirando uma coisa que estava no memorando e que cumpri na altura, que foi rever [a taxa de IVA de] alguns produtos. O engenheiro Sócrates e o PS, em cinco anos, aumentaram o IVA de 19% para 23%”. Uma dessas subidas com os votos favoráveis do PSD liderado por Passos Coelho: “É verdade. Nessa altura estava o Governo exatamente como está hoje: a aumentar os impostos aflito (...) “Apoiámos o PS, coisa que nunca tivemos do PS”.

A jornalista recorda o “enorme aumento de impostos” do tempo de Vítor Gaspar e questiona Passos Coelho sobre se tanto ele e António Costa não têm atuações semelhantes: “Sabe qual é a grande diferença, é que nós na altura não tínhamos um tostão. O primeiro-ministro que me precedeu pediu 80 mil milhões de euros emprestados. Não tinha dinheiro. Agora parece que temos. Só ouço falar de aumentos, restituições. Dá impressão que nos saiu o Totoloto ou que herdámos de algum familiar abastado. Entre os partidos da maioria a única coisa de que se fala é se aumenta 10, se aumenta 20”. “Eu nunca disse que nós não precisávamos de equilibrar as contas. O PS é que disse que tinha uma solução mágica, que isso não custava mais dinheiro, bastava que nós não estivéssemos no Governo, foi aliás por isso é que nos deitaram abaixo”.

Legislativas de 2015

“Ganhei as eleições há um ano - aliás essa é a razão porque não só somos o maior partido da oposição mas somos o maior partido do país - na altura formei um Governo e o PS deitou-nos abaixo. Convidei na altura o doutor António Costa para ser vice-primeiro-ministro, para ver se conseguíamos ter uma solução equilibrada de governo que não deitasse pela janela fora os sacrifícios que tínhamos andado a fazer nos últimos anos e ele disse que tinha uma alternativa melhor, que ia pôr o país a um crescer a um ritmo muito mais elevado. Está a ser ao contrário. Está tudo a falhar. (…) Onde é que está a solução tão milagrosa? Eu no meu tempo não tinha dinheiro, estávamos em emergência nacional”.

Relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa

“O Presidente da República tem atuado bem, no sentido em que tem procurado criar um clima de cooperação e de apoio ao Governo. Essa é uma missão importante. Nós apoiámos o professor Rebelo de Sousa nas presidenciais, votámos nele, e logo nessa altura dissemos que não esperávamos que ele fosse a voz do PSD em Belém”.

Autárquicas. Há impaciência no PSD por causa das eleições autárquicas?

“Não tenho sentido. Temos as nossas regras dentro do PSD, tivemos um conselho nacional em julho onde a estratégia autárquica foi debatida e aprovada e estamos dentro dos prazos acordados. Não estamos pressionados pelo tempo. Falta um ano para as eleições autárquicas. Não vejo nenhuma necessidade de estar a acelerar esses prazos. Acho cedo para estar a anunciar candidatos às principais câmaras”.

Manter liderança do PSD após ter deixado de ser primeiro-ministro

“Enquanto estive no Governo, tive todo o apoio do PSD. Agora que estou na oposição, tenho tido todo o apoio do PSD. Não há aí nenhuma queixa nem nenhum problema a assinalar”.

“De facto não é da tradição [em Portugal alguém que já foi primeiro-ministro manter-se como líder na oposição]. Mas também não é da tradição ganhar as eleições e não governar. Estamos portanto numa circunstância inédita, que nunca tinha ocorrido, e eu sinto que tenho moralmente a obrigação de representar aqueles que votaram em mim e que não se sentem representados por este Governo e que até se sentem ameaçados, e bem, porque este Governo não disse ao que ia nas eleições e está a conduzir o país para uma situação que os portugueses não escolheriam”.

“No dia em que eu achar que estou a mais, pode ter a certeza que não fico cá por ficar. Mas também quero dizer que, dentro do PSD, as questões sobre a liderança são muito discutidas sem nenhum problema. Quando alguém quiser candidatar-se contra mim, pode fazê-lo”.

[Notícia atualizada às 22h03]

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