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O Natal é quando o homem quiser. A 'Família do Lado' prova isso

A iniciativa contempla o espírito solidário muitas vezes associado ao Natal. Participante diz que esse espírito não se deve restringir a uma data específica, mas antes praticar-se todo o ano.

O Natal é quando o homem quiser. A 'Família do Lado' prova isso
Notícias ao Minuto

07:13 - 24/12/16 por Andrea Pinto

País Festividades

Imbuídos do espírito de solidariedade, no passado dia 27 de novembro, várias famílias residentes em território nacional, abriram as portas de sua casa para à volta da mesa se reunirem com outra família… completamente desconhecida. O objetivo é partilhar culturas, conhecimentos e experiências de vida.

Vivian Soares é brasileira e vive "orgulhosamente" em São Vicente, Lisboa. Este ano, e desafiada pela necessidade de “conhecer novas pessoas” e de “sair um pouco da rotina”, decidiu participar no projeto promovido pelo Alto Comissariado para as Migrações.

Já Roberta Serra, luso-brasileira, foi convidada pela Câmara Municipal da Lousã, onde reside, a participar no projeto 'Família do Lado'.

Ambas abriram as portas de sua casa a famílias migrantes, numa iniciativa que pretende ajudar à integração num país ou cidade que não é o seu.

Tradição e troca de culturas à mesa

Vivian tomou conhecimento da ‘Família do Lado’ através de um panfleto e não hesitou em ligar para se inscrever, mas o medo sempre inerente ao que é desconhecido surgiu assim que Vivian pousou o auscultador do telefone.

“Tive vários receios! Assim que desliguei o telefone confirmando a nossa participação os medos vieram de uma só vez e só foram embora quando outra família chegou. Comecei a questionar a minha louça, os meus talheres, as toalhas, tudo pareceu pouco formal ou aquém da ocasião. Minutos antes de eles chegarem veio a dúvida: O que farei se eles não comerem porco?”, revela, tendo decidido optar por um prato que lhe permitisse “fugir ao óbvio”.

Assim, à mesa, Vivian decidiu contemplar Rute e Rafael, um casal de algarvios a residir na capital, com uma especialidade do sul do seu país: feijão mineiro, um prato que deu como ‘abertas as cerimónias’ e azo a um almoço onde a conversa não faltou, ao contrário dos receios iniciais de Vivian.

“Correu muito bem! Conversámos sobre tudo! Sobre a cidade, os porquês de aceitarmos participar, das nossas origens, trocámos dicas sobre restaurantes e sobre gatos, política brasileira, guerra na Síria, etc.”, conta, referindo que, no fim, ainda trocaram contactos.

Roberta seguiu os passos de Vivian e, apesar de viver em Portugal há já sete anos e de ser casada com um português, optou também por um menu típico do Brasil: o feijão tropeiro. Como convidados teve uma mãe brasileira com os seus filhos e um casal composto por um cidadão romeno e uma portuguesa.

"Apostámos numa diversificação de pratos", conta, revelando que os seus convidados trouxeram uma sobremesa típica do seu país.

Para ela, o "convívio" proporcionado pelo evento, é o mais importante, até porque permite a cada um dos participantes sentir-se "mais em casa". Contudo, não gosta de associar o seu gesto a esta época natalícia, defendendo que "a solidariedade deve existir todo o ano".

Uma experiência a repetir, uma ligação a preservar

Durante o almoço, em que se juntam famílias de várias nacionalidades, é normal que se questione o porquê de terem vindo para cá e que queiram conhecer mais a cultura do país.

Para Vivian, por exemplo, esta foi a oportunidade de a conhecerem para lá da sua nacionalidade. 

“Vi no projeto a chance de relativizar, de fazer um exercício de alteridade, de proporcionar à minha família e à família convidada a oportunidade de nos revermos no espelho, e ver que não somos, afinal, tão diferentes assim”, afirma ao Notícias Ao Minuto, explicando o que sente muitas vezes: a “minha nacionalidade me precede e fica patente assim que começo a falar. Muitas pessoas, por hábito, ignorância ou medo rapidamente me colocam numa caixinha, no estereótipo”. 

Isso não aconteceu durante o convívio que promoveu na sua casa e em que ficou certa a vontade de manter o contacto entre os intervenientes.

Se o casal que foi a casa de Vivian decidiu retribuir o almoço, num novo convívio que aconteceu semanas depois, Roberta manteve também o contacto dos seus convidados e está certa de que se voltarão a encontrar durante esta época natalícia e não só. 

"O homem e os símbolos! As datas podem servir para lembrar algo, como um convite à reflexão, à pausa, mas eu espero que o tempo para ter empatia, e o hábito de 'se ver me vendo', seja todos os dias. A iniciativa daria certo em qualquer altura do ano, afinal, de perto, bem de perto, todas as famílias são tão estranhas, loucas, lindas e maravilhosas quanto a nossa", remata, por sua vez, Viviane.

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