"Temos de ser capazes de estruturar e planear com muito mais ênfase e muito melhor aquilo que é o todo nacional. Não temos um plano de nacional de infraestruturas e nunca tivemos", salientou Fernando de Almeida Santos, na sessão de abertura da conferência inaugural do "Ano OE para a Coesão Territorial", que decorre durante o dia em Conímbriga, no concelho de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra.
O dirigente recordou que Portugal tem um plano nacional rodoviário criado de 1980 "com alguns remendos e por completar, em que o IP3, na região Centro, é exemplo disso, e um recém-criado plano nacional ferroviário, com um âmbito de 2050, que é de saudar, mas depois faltam planos de quase tudo".
Salientando que Portugal aprovou recentemente a construção de um aeroporto de grande envergadura, "que de facto necessita", o bastonário da OE salientou que se tratou de uma "decisão conjuntural de todos os aeroportos portugueses dissociada dessa realidade, perguntamos porque não existe um plano nacional aeroportuário e já agora portuário e de mobilidade urbana, porque parece que só temos Lisboa e Porto".
"Depois vêm uns pozinhos, é como uma mesa de pingue-pongue, em que as bolas que saltam fora, que são poucas, vão parar a determinado tipo de outros concelhos para estarem mais ou menos calados".
Fernando de Almeida Santos lamentou que, por exemplo, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que dotou o país de 16.000 milhões de euros, e cerca de 2.500 milhões de euros para a mobilidade urbana, dos quais 2.300 milhões sejam aplicados nos metros de Lisboa e Porto, o que denota "que alguma coisa não está bem em Portugal".
"Quando falamos de coesão territorial, isto cria desequilíbrios muito grandes, e só acontece porque precisamente não temos nada planeado e temos de esvaziar o dinheiro para aplicações, que é mais fácil para estruturas do Estado, como estes metros, do que criar estruturas novas ou repartir de forma equitativa por aquilo que dota Portugal de um Produto Interno Bruto uniforme".
O bastonário da OE reconhece que as cidades de Lisboa e Porto são mais importantes do que as outras, "não está em causa, mas a diferença" não pode ser de "99% face às outras".
"Temos claramente de ter um plano estrutural para Portugal e não temos tido", sublinhou.
Na intervenção de hoje, o responsável máximo da OE criticou ainda a falta de disponibilidade da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) para debater as dificuldades das autarquias na contratação daqueles profissionais ou participar nas suas iniciativas.
"Como bastonário não estou minimamente satisfeito com essa indisponibilidade institucional, ainda por cima face ao fortíssimo problema que atinge todo o país e cuja necessidade até é mais dos municípios do que propriamente da OE", disse à agência Lusa Fernando Almeida Santos.
Para o bastonário, a falta de engenheiros em Portugal e, principalmente, a fortíssima necessidade de as câmaras municipais recrutarem estes profissionais, cuja carreira devia ser individualizada, tinham de merecer da ANMP outro tratamento institucional.
Até ao Dia Nacional do Engenheiro, que se comemora a 24 de novembro, a OE vai realizar outras iniciativas, a próxima já na segunda-feira, em Aveiro, que é um encontro nacional de engenheiros municipais e da carreira pública, com o objetivo de elaborar "uma espécie de compêndio" sobre propostas e soluções para a coesão territorial e social, que cabe aos decisores políticos analisar.
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